Regressar a Gregorio Duvivier, e ao seu livro de crónicas «Caviar é uma Ova» (belo título), é uma experiência interpretativa interessante. Por que razão regressamos a alguns livros, é uma boa questão. Pragmatismo, acesso ao livro, escolha casual para o estímulo noturno do sono? O livro, editado em 2015 pela Tinta da China, reúne as crónicas do humorista no jornal Folha de S. Paulo, entre julho de 2013 e agosto de 2015 e é uma escrita cuidada mas coloquial, vernacular mas ideológica. Já conhecia o autor do coletivo Porta dos Fundos, crítica inteligente e teatro do absurdo, que lembrava, nalguns ‘sketchs’, os Monty Python. O coletivo deixou a direita e os neofascistas brasileiros em polvorosa e, há alguns meses, um dos seus argumentistas colaboradores foi mesmo assassinado. Interessante é verificar as premonições das crónicas sobre o regresso da nomenclatura conservadora e ditatorial nas instituições democráticas brasileiras. Bolsonaro, ainda imberbe e desconhecido politicamente, é um dos visados pelo humor corrosivo de Gregorio. Talvez por tudo isto a sua releitura nos tenha parecido menos inovadora!