quarta-feira, junho 30, 2021

Reler João Miguel Fernandes Jorge

 

Volto a João Miguel Fernandes Jorge (JMFJ), poeta que leio desde a década de 1980. Talvez se deva ao contexto do tempo, leituras anarquizantes e heterodoxas, em busca de identidades várias, dias e anos de procura de geografias outras, lugares não poluídos, naturezas selvagens e ilhas brancas. Comprei os primeiros dois volumes da sua obra poética (Sob Sobre Voz/Porto Batel; e Turvos Dizeres/Alguns Círculos – este tem data de 88). Lembro-me de os ler sozinho nas praias das ilhas de Tavira e de Faro, talvez também na do Farol, medindo as palavras e as frases tão incomuns, as leituras filosóficas ou as análises das artes, de que o autor é tão conhecedor. No segundo livro encontro um recorte de jornal, um texto de Clara Ferreira Alves, na Revista do «Expresso», de 15 de Novembro de 1986, que o intitula de «príncipe feroz» ou «como Yates, um ‘longínquo olhar’». O recorte estava lá, há tempos, a páginas 97, no poema ‘Nietzsche em Itália’, deixando uma mancha castanha nas folhas. Entretanto, leio de uma assentada os belos poemas de outro livro, «terra nostra-(Açores, 1988-1991)», terras onde estaria mais tarde, por quatro vezes, em todas as ilhas, a que agora volto com JMFJ.

quarta-feira, junho 23, 2021

Associativismo nas encruzilhadas de sempre

Tal como referi em post abaixo, realizou-se no passado dia 9 mais uma tertúlia no CECAL/Casa da Cultura de Loulé, desta vez dedicada ao tema: O ASSOCIATIVISMO HOJE, NUM CONTEXTO DE LIBERALISMO E INDIVIDUALISMO”. O resultado, em forma de texto, pode ser lido na súmula que o Joaquim redigiu:

O associativismo tem-se constituído como espaço de voluntariado, de partilha, de aprendizagem, de solidariedade, de liberdade e responde a necessidades e aspirações concretas de grupos de cidadãos e das comunidades…

Em 2009, no âmbito de Loulé Cidade Educadora, realizou-se a “Mostra do Movimento Associativo do Concelho de Loulé ASSOCIA´09”, afirmando-se então «O associativismo enquanto espaço de livre iniciativa dos cidadãos, que se organizam para a realização de múltiplas atividades, de âmbito cultural, desportivo, recreativo e de apoio social, tem um contributo extremamente importante na formação/educação ao longo da vida, a par da resposta às necessidades sociais e de qualidade de vida da comunidade. São os clubes que colocam em movimento milhares de atletas, na formação, na competição e na manutenção. São as associações que desenvolvem atividades nas áreas do teatro, do folclore, das bandas de música e outras formas de expressão artística que promovem a prática de jogos tradicionais, que organizam as respostas sociais a idosos, crianças e pessoas que carecem de apoio, que organizam os mais diversificados grupos com afinidades de interesses e motivações».

Em que medida este desígnio e realidade se tem alterado perante uma crescente institucionalização e face à afirmação dos valores do individualismo, e ao acentuar da competição?

O associativismo como parte da sociedade, vive em permanente mutação. Decisões políticas e eventos circunstanciais, como a legislação sobre as rendas do governo Passos Coelho ou presentemente o CoVid 19, influem na dinâmica e vitalidade do movimento associativo. Mas tanto ou mais do que esses e outros eventos, é a evolução do pensamento dominante e o evoluir social que determinam as suas formas e dinâmicas.

Assiste-se da parte dos jovens, mas não só, ao surgimento de formas inorgânicas de associativismo, em função de interesses muito precisos, até momentâneos. Constituem-se grupos informais, sem compromissos de média e longa duração, com fins muito precisos.

As associações estão obrigadas a um quadro legal que requer mais estabilidade, à definição de um “objeto de vida”.

Apesar desta divergência, poderão existir pontos de convergência que importa explorar. As necessidades de apoios, de espaços, de financiamento, aproximam muitas das vezes estes grupos inorgânicos das associações e, uma boa relação entre as partes, pode conciliar as necessidades e em proveitos de todos, consolidar iniciativas e projetos frutíferos e ações mais duradouras, e robustecer a organização associativa enquanto entidade com objetivos e missão na comunidade.  

Os telemóveis e as novas tecnologias vieram roubar-nos tempo para os encontros presenciais, o debate e decisão presencial, mas o associativismo tende a adaptar-se. As associações são hoje mais pequenas, com âmbitos de atividade mais restritos e focalizados, têm profissionais a tempo inteiro ou parcial – a precariedade crescente induz a que também se encontre no associativismo soluções de remuneração, ainda que por vezes pontuais e transitórias - que asseguram os aspetos operacionais da atividade, ou desenvolvem projetos específicos, os órgãos sociais são mais equilibrados com crescente peso das mulheres.

Os associativismos ambientais, pelos direitos dos animais, de combate e reaproveitamento do desperdício alimentar mostram, entre outras, motivações mais recentes capazes de motivar para o associativismo.

Os sindicatos, os partidos, as associações empresariais são formas de associação e a par deste formato convencional têm emergido e assumido papel determinante, movimentos sociais como o foram a contestação às imposições da troika, ou a luta contra as portagens, há bem pouco tempo em Portugal. 

Há, no entanto, um conjunto relevante de associações “históricas” que têm dificuldade na renovação dos seus órgãos sociais e na dinamização de atividades. Importa para estes casos, encontrar estratégias de abertura e aproveitamento de motivações que ao se conjugarem mutuamente se reforçarão. Abrir as reuniões de direção aos diferentes órgãos sociais, aos associados e colaboradores das diferentes áreas…

A este propósito falou-se de experiências da Casa da Cultura: o teatro, a escrita, o Sextas, o andebol…

É necessário superar a excessiva institucionalização, voltar eventualmente a realizar iniciativas para dirigentes e dinamizadores associativos em função da realidade presente, que capacitem e ajudem a construir respostas para os desafios do presente: articular interessados no desporto com os da cultura, do teatro com os da escrita, da música, do património material e imaterial… chamar os pais, incentivar os jovens… E colocam-se os desafios das novas tecnologias como ferramenta de trabalho, a produção de audiovisuais como elemento motivador para os mais jovens.

[Hélder, Marília, Luísa, Joaquim, Otílio, Sérgio]


 

terça-feira, junho 22, 2021

Adegas de prazer

Ela está escondida, discreta ao fundo da ravina, hoje um carreiro íngreme mas acessível; em tempos, era preciso conhecer o caminho entre estevas, para aceder àquela concha de areia branca, que beijava o mar atlântico agreste e ventoso, mas que ali atenuava. Com a maré baixa, a praia enchia de curiosos e distraídos que, vindos da praia principal, olhavam os nudistas, um pouco embaraçados ou voyeuristas. Há dias, num dia de sol entre outros dias de neblinas, lá estive com a minha companheira, naquele mar frio e doce de tão salgado.

sábado, junho 19, 2021

O futebol como ditadura

Sim, eu também joguei futebol, desde sempre: em pelados rafeiros, em campos pequenos e grandes feitos à unha, pelos aficionados do meu bairro e, mais tarde, na equipa de juvenis do Silves Futebol Clube, quando estudava na Secção Preparatória Comercial na cidade dos velhos árabes. A vitória era premiada com um galão e uma sandes de queijo e as botas eram usadas e de travessões. Mais tarde, abominei o futebol milionário de patos bravos, hoje dominado pelas máfias sem país e sem cor. Por isso percebo o Miguel Sousa Tavares e os seus desabafos, e tenho em casa quem diz o mesmo: ‘que a seleção de futebol fique pelo caminho, já nesta fase de grupos, para acabar com a diarreia de ignorância e de bacoquice lusa, que o direitista Scolari inaugurou e que os saloios portugueses puseram à janela. Por isso Miguel, não houve só um português, nos 10 milhões, que resistiu!

sexta-feira, junho 18, 2021

Os grandes matemáticos algarvios da pandemia

O resultado da chamada abertura de voos de turistas, sobretudo ingleses, está à vista, com o crescimento dos números de infetados por SARS-Cov2, no Algarve. Esta mania de abrir o cu a tudo o que é turista do velho bas fond, dá sempre merda. Mesmo que seja com flores e ofertanças de chacha à chegada dos aeroportos, como fez a autoridade de turismo em Faro. Depois, não vale a pena os responsáveis do dito combate à epidemia no Algarve (Pina & Companhia), virem dizer que o sistema de análise estatística não serve para definir retrocessos, porque há muitos turistas a enviesar os números da população no Algarve. Bardamerda!

Atualização: o João Martins também escreve sobre o assunto!

As economias em disputa


Com algum atraso deixo aqui a síntese, excelente, que o Joaquim Mealha produziu a partir dos contributos dos presentes na tertúlia sobre o tema em epígrafe. Entretanto, já se realizou uma nova tertúlia sobre associativismo da qual daremos nota em breve.

A súmula da conversa, realizada dia 26 de maio, em que as diferentes perspetivas e experiências, contaram para aprofundar conhecimento.

A economia local, tão pouco considerada, é a que nos ocupa, nos remunera... em círculos de proximidade satisfaz o essencial das nossas necessidades...Mas o que nos apontam como relevante é a economia exportadora que equilibra a balança comercial, dizem...

O que efetivamente hoje domina, são os mercados financeiros, a "economia de casino"...O que pensamos nós que todos os dias fazemos contas à vida?

A economia surge com a sedentarização e a produção de alimentos, a troca vai ganhando expressão com a comercialização de bens para além de cada comunidade tendo gradualmente  a  moeda como instrumento .

Todos recordam as grandes rotas que nos traziam do oriente sedas e especiarias e mais tarde com as “chamadas descobertas”  afirmam a economia global

Economia local e global interpenetram-se…ou talvez não seja assim.

A economia global entra na economia local, mas a local dificilmente se globaliza.

Sem aprofundarmos muito a reflexão entende-se como economia local o que se produz, o que se comercializa, os serviços que se prestam por empresas locais respondendo a necessidades locias.

Mas as empresas locais podem estar a produzir, comercializar, a prestar serviços apenas com recurso a produtos e saber fazer do domínio local, ou estar completamente dependentes do que lhes chega dos mais diversos pontos do mundo, constituindo-se neste caso,  como um braço da distribuição no local, dos produtos da globalização.

E apesar das novas formas de promoção e comercialização todos sabemos que os produtos de cada local, produzidos em pequena escala - uma das caraterísticas da produção local - tem enormes dificuldades em se globalizar. Também a comercialização online é dominada por gigantes da globalização.

Estamos perante dois modelos económicos distintos, com resultados distintos para a vida das pessoas.

Economia local dá-nos maior autonomia, porque estamos menos dependentes do transporte de longa distancia, dos grandes grupos que monopolizam e dominam o preço, sem preocupações sociais deslocalizam-se, exploram recursos e pessoas sem preocupações de sustentabilidade ou de natureza social.

Valorizar a produção local é promover a dinamização económica de vizinhança, porque o dinheiro circula na comunidade.

Mas a perceção e compreensão desta vantagem é algo que escapa à maioria dos cidadãos. Os produtos misturam-se, os produtos locais não são identificados, as grandes superfícies e redes da economia global jogam com essa desinformação.

Com os valores mais baixos por não ser incorporado no preço o custo do impacto ambiental por modos de produção e transporte altamente poluentes e predadores de recursos e  custos sociais pela exploração de trabalhadores,  as organizações da economia global, vão gradualmente eliminando a produção local esmagando-a  nos preços de aquisição  que decidem e controlam.

Falaram-se de algumas iniciativas que tem vindo a ser desenvolvidas, evidenciado a qualidade alimentar dos produtos locais e da economia local enquanto preservadora de técnicas e saberes, salvaguarda de territórios habitados e sustentáveis, da paisagem biodiversa  -  os valores e qualidade alimentar ajustada à sazonalidade da dieta mediterrânica, projetos desenvolvidos,  pela In Loco e alguns Municípios – mas é preciso um esforço bem maior  e a iniciativa de cidadão empenhados.

Educarmo-nos enquanto consumidores, para o bem da nossa saúde, consumirmos produtos da época pela salvaguarda ambiental  e diminuição da pressão sobre recursos limitados, sermos comedidos no consumo, em particular as ditas sociedades desenvolvidas e quem detém maiores recursos económicos,.

Antes consumíamos o que havia. A geração que hoje educa passou fome, os brinquedos passavam de umas para outras crianças, éramos comedidos no vestuário.

Hoje o excesso de consumo, a pressão pela moda, pelo uso de marcas,  é um sério problema pela poluição e degradação dos recursos que provoca. Os tecidos são hoje uma das grandes preocupações.

O combate ao desperdício pode e deve aproximar-nos da produção local. Os nossos problemas e desafios interpenetram-se, estão no modelo de civilização.

Os cartões de crédito tornaram-nos devedores permanentes e empurram-nos para a rede económica da globalização.

As campanhas de ajuda alimentar alimentam as grandes superfícies, não temos efetivamente respostas sociais que respondam à  pessoa como um todo. Promovemos a caridade e não a solidariedade emancipatória.

Porque não se criam lojas sociais dispondo quem precisa de um cartão com um dado valor em vez da ajuda alimentar que muitas das vezes  marca e avilta? 

Voluntariado é muitas vezes  uma panaceia para substituir trabalho necessário.

Se recuperamos os valores e a dignidade da cidadania certamente refrearemos o desejo de sucesso a todo o custo e poderemos aspirar deixar de ser consumidores endividados e submissos.

sábado, junho 12, 2021

Eriksen

Habituei-me a ver a beleza, elegância e inteligência de Eriksen nos jogos do Tottenham. E estranhei quando deixou de jogar em Ingalterra, mas ainda bem que partiu para ganhar o campeonato italiano dominado há anos pela Juve. Agora, há uma hora atrás, caiu inanimado no relvado de Copenhaga devido a uma síncope catdiaca. Mas, de acordo com as últimas notícias, a recuperação pode vir a acontecer, e a Dinamarca talvez volte ao campo daqui a umas horas para terminar o jogo em sua homenagem.