sábado, janeiro 30, 2021

1984, o livro de síntese do século XX

Li «1984», de George Orwell, pelos idos de 1983-1984 (lembro-me de ter acentuado esta coincidência de datas premonitórias, também pelo facto de estar numa fase de descoberta de razões menos racionais, sobre a existência e a vida), livro emprestado pela namorada da altura. E li-o quase todo nas areias e dunas da Ilha do Farol, em Olhão, espaço disruptivo da narrativa do Big Brother, inventado pelo autor. A calma quente da areia, o fresco do iodo do mar e o deserto de gente atenuava excessivamente o decurso da vigilância tataca do poder. Que raio, não tendo corretor ortográfico neste meu pc de 2008, estou liberto do patrulhamento de linguagem que o sistema tecnológico exerce sobre o computador de Gonçalo M. Tavares, quando o mesmo escreveu a mesma palavra e o corretor avisou que ‘tataca’ não existe. GMT respondeu, no texto que escreveu para o Expresso/Revista, como introdução à publicação de «1984» na Relógio d’ Água, que ‘tataca’ existe mesmo a partir do momento em que alguém a escreve.

quinta-feira, janeiro 28, 2021

A arte imita a natureza, tal como o seu contrário!


Há algum tempo, talvez por volta de 1991, publiquei uma imagem a cores na revista do «Jornal do Algarve» (Magazine), que fiz do alto das muralhas de Monsaraz e que mostrava um plano desenhado nos campos dos vales em redor, composto por um padrão cromático de castanho-terra e verde-oliveira. O Fernando Cabrita, amigo que dirigia a revista, deu-lhe a seguinte legenda: “de como a natureza imita a arte” (aproximo a frase porque não vou agora procurar o exemplar). Há dias, numa das minhas caminhadas, olhei para uma parede de argamassa que divide um estreito caminho rural, onde passo muitas vezes, e a luz (tão importante no nosso olhar) mostrou-me o que antes não tinha visto, com olhos de ver. Aqui está, de como a arte imita a natureza!

 

domingo, janeiro 24, 2021

Em Loulé faltam mesas de voto

 A incompetência do trabalho do ministro Cabrita, verificada no voto antecipado do passado domingo, volta a mostrar-se hoje. E a Câmara de Loulé e a Junta de Freguesia de S. Sebastião mostram que não estão à altura da vida democrática. Fui votar com  a família nas únicas 4 mesas de voto instaladas na Escola  Mãe Soberana e lá estava o caos instalado, com filas de 100 pessoas e outras dezenas a aguardar. Um convite a voltar para casa e  um belo contributo à abstenção. Não se percebe porque não foi instalado outro conjunto de mesas de voto na Escola das Hortas de Santo António para servir toda essa área de expansão da freguesia.

sexta-feira, janeiro 22, 2021

Derrotemos as direitas, pois!

Nunca a esquerda se confrontou com o perigo de candidaturas de direita (quer seja autodenominada social, liberal ou outra coisa qualquer) acossadas, elas também, pela extrema direita neofascista, racista e xenófoba, como nestas presidenciais de 2021. Por isso parece-me que é tempo de ser módico em palavras e rápido e abrangente na decisão de voto. Nas histórias da democracia a abrangência dos democratas foi muitas vezes a forma de derrotar a emergência do fascismo. E se nestes dias turbulentos há alguém que não se aperceba dos perigos dessa potencial saída da caverna, não está a ver o horizonte que se aproxima da Europa. E não é só nestas eleições, mas nas que virão a seguir e, sobretudo, nas nuvens negras que poderão estar à nossa espera a partir de dia 25 de janeiro. E é por estas razões que voto Ana Gomes, a pensar daqui a 5 anos, quando já não haverá Marcelo, para esconder as caras negacionistas do partido socialista. Mas todos os votos à esquerda são bem vindos, tal como sugere o José Teófilo, cujo cartaz uso aqui. Derrotemos as direitas, pois!

Alberto Manguel e 'Ulissipo'


Uma vez por outra, Alberto Manguel (agora vivendo em Lisboa) derrama  o seu saber nas páginas da Revista do «Expresso». O último ensaio procura descobrir e divulgar o desconhecido que dá nome à rua onde habita o antigo leitor de Jorge Luís Borges. Procurando saber quem foi e o que escreveu António de Sousa Macedo (ASM), Manguel entra curioso para dentro do poema mitológico que aquele escreveu e intitulado «Ulissipo», acertando agulhas com a exegese literária portuguesa que não se afoitou no pré-iluminismo de ASM, e que não descortinou os seus conceitos de ‘Fortuna’ e de ‘Fado’:

“Fortuna não he fado, ou contingencia;
He fruto das acçoens, com que a fabrica,
Artifice a sy mesmo, quem lhe applica
Os meios de uma, ou de outra consequencia.”

quinta-feira, janeiro 21, 2021

As marcas da literatura caseira

Alguns bons anos depois, e por razões de curiosidade fílmica, voltei ao «O Eixo da Bússola», conjunto de crónicas de Mário Cláudio, que o tinha dispersado por revistas várias. Em geral, uso marcador para deixar para o dia seguinte a continuidade da leitura, mesmo correndo o risco de iniciar sempre no topo da  página par. A prova está ali, na mesa de cabeceira, onde descansam esperando, o 2º volume de «De Angola à Contracosta», de Capelo e Ivens; o genial «Sinais de Fogo» de Sena; e o livro de poemas de Drummond de Andrade «A Rosa do Povo».

No caso de Cláudio, fui dando conta de que, da primeira leitura, ainda ficaram as marcas das paragens no tempo, nos cantos dobrados e vincados das páginas ímpares, cujos títulos das crónicas não desmerecem referi-los aqui: O Destino de Coco; Se Branwell Falasse; O Priminho Escocês; Os Olhos de Frau Seidler; Um Sorriso de Buda; Caderneta Escolar; Pai Nosso; e muitos outros que tais. Mário Cláudio merece-o!