segunda-feira, agosto 17, 2020

Abate de laranjeiras em Faro

Parece que a Câmara de Faro resolveu abater as seis laranjeiras que estavam plantadas nas duas placas centrais frente à Sé de Faro. Os argumentos são sempre os mesmos: árvores velhas, sem condições de desenvolvimento. Mas o que é certo é que a dendrofobia tem espalhado as suas garras por muitos dos municípios, realizando muitas vezes crimes ambientais e sociais, assentes numa ideologia higienizadora e de desrespeito pelas condições de sustentação climatérica. (Aconselho a leitura deste meu post e respetivos links).
Os movimentos de cidadãos de Faro têm questionado, e bem, este atentado, por mais que as desculpas agora argumentem que as árvores foram retiradas para tratamento (ler notícia do SulInformação).
Conheço bem aquelas árvores, pois à sombra delas li muito e socializei quanto baste, com música, desenho e outras coisas, menos prosaicas. E agora a coincidência do Festival F se realizar nestes dias, deixa muita água no bico.

As placas de toponímia de Loulé

A Câmara de Loulé insiste em colocar o tipo de placas topónimas, como a da imagem, nas suas artérias. Desta vez foi a placa da Rua Fábrica da Cerveja Marina (acesso ao supermercado LIDL pelas traseiras) que se desfez na vertical, partindo ao meio o azulejo, que corresponde a um protótipo interessante de design, usado na cidade. Também a placa da minha Rua (Natália Correia não merecia) e de outras ali perto, já foi substituída algumas vezes. Há alguém que pense numa melhor estrutura de suporte, ou é preciso ensinar?

domingo, agosto 16, 2020

A campanha de Marcelo

Para quem conhece o percurso de Marcelo Rebelo de Sousa, desde os tempos de diretor do Jornal «Expresso», sabe que ele não dá ponto sem nó. A manipulação da perceção política e social que criou à sua volta, desde os tempos em que 'ditava às secretárias dois textos diferentes ao mesmo tempo sem se enganar', até à dita salvação de duas jovens no mar ao largo da Praia de Alvor, é um caminho trilhado como uma máscara no teatro dos sonhos de qualquer presidente; ou candidato ao cargo. Assim se percebe que a ideia transmitida, de que só pensa num segundo mandato daqui a uns meses, é a falsidade de quem sabe que está permanentemente em campanha. E o caso do fait diver da canoa das meninas e dos conselhos aos banhistas é uma ação de campanha que vale muitos votos. Sobretudo quando tem atrás de si o povoléu que gosta de telefonar aos familiares para o ver, qual emplastro, atrás do presidente. Ou então, ouvir os textos dos parvos dos jornalistas da TVI a referir-se a Marcelo como nadador-salvador, ou candidato ao Instituto de Socorros a Náufragos. Que comunicação social tão rasteira! Que campanha tão chã!

sábado, agosto 15, 2020

O exagero de Maquiavel


Ora aqui está outro dos livros de um autor que toda a gente cita, umas vezes sem saber, outras com o epíteto de ‘maquiavélico’.
Nicolau Maquiavel escreveu este ensaio, de um pragmatismo atroz, a partir da sua experiência como conselheiro de César Bórgia, na república florentina. Um funcionário público dos finais do século XV, conhecedor da governação europeia como mais nenhum, que deixou os conselhos essenciais aos mecanismos e domínios do poder sobre os povos, sobre as elites dissonantes e sobre os exércitos modernos. Ele próprio o diz: 
Conclui-se por isso que os bons conselhos, de onde quer que venham, têm de nascer da prudência do príncipe, e não a prudência do príncipe dos bons conselhos.
A tradução de Diogo Pires Aurélio não tem máculas. Assume uma linguagem simples, na complexidade das ideias, limpas das arestas pela pontuação exemplar, como se fosse um livro para ler em voz alta.

Um vírus contra a democracia


A expressão ‘distanciamento social’ não é neutral nem despicienda politicamente. A pressão dos media, sobretudo por via das designações sanitárias das conferências de imprensa dos governos europeus, foi impondo esta novidade linguística no quotidiano dos cidadãos. Só que ela traduz uma negação da relação social próxima de cidadania e, pour cause, da democracia. Para traduzir os cuidados de contágio desta pandemia ou de outra qualquer, o termo mais adequado será mesmo ‘distanciamento físico’.
O filósofo francês Bernard Henri-Lévy (BHL) fala deste e de outros problemas, num dos primeiros livros publicados sobre a temática da ‘crise democrática’, por via do Covid-19. Do confinamento que alargou a exploração do teletrabalho, da ausência de solidariedade com os povos ameaçados por guerras intestinas, do medo do acesso aos sistemas de saúde, da fome e das outras doenças que matam muito mais, como a malária, em Moçambique, ou no Bangladesh, por exemplo. Vale a pena ver a entrevista que BHL deu no programa «Todas as Palavras», na RTP3 no dia 31 de julho, que pode ainda ser vista na RTP Play. Para além dos aspetos citados denuncia-se ainda a manipulação das ditaduras, o interesse dos grandes monopólios farmacêuticos e dos oligopólios da tecnologia digital. Na entrevista participa também o virologista Pedro Simas, que secunda grande parte dos pontos de vista do filósofo francês.