domingo, fevereiro 23, 2020

'Contra o capitalismo de vigilância!'

Quando iniciamos um projeto não sabemos quando ele acabará. Criado na época da blogboom, quando o 'capitalismo da vigilância' ainda não tinha sido inventado pelos monopólios da tecnomedia, este blog foi servindo para treinar a escrita sobre tudo o que fosse útil dizer: em tempos de maior ou menor ativismo, na política, nos movimentos sociais, ou apenas na boémia libertária do lazer - ócio, ócio, que o trabalho é alienante. 
São passados 16 anos, com a irregularidade apanágio das nossas vidas, num tempo em que desapareceram quase todos os blogs algarvios desses momentos frenéticos, agora substituídos pelo frenesi das redes de exploração de dados a que o vulgo chama de 'sociais'. Pois fiquem sabendo que a minha luta, aqui  nestes domínios, passa por pequenos passos carbonizadores: não tenho, nem nunca terei a merda do feicebuque (à RAP, pois claro, leiam, leiam), watsapp, ou outra bolha qualquer de seita, e mesmo no gmail, são poucas as pegadas que deixo nesse lixo cibernético. Neste blog também é recusada a publicidade. 
Daqui a mais 16 anos iremos ver!!

Nota: aproveito para dar os parabéns ao João Martins, que ainda se mantém desde 2006, com uma regularidade e pujanças necessárias à diversidade e heterodoxia das vozes públicas (ver aqui)

quarta-feira, fevereiro 12, 2020

Povo que Canta não pode morrer

A RTP Memória voltou a pôr no ar os episódios da primeira série do programa de Michel Giacometti «O Povo que Canta», gravado entre 1970 e 1974, com realização de Alfredo Tropa. Já tinha visto muitos nas reposições de há uns anos e agora pude ver as gravações magníficas de cantos de trabalho, coletivo e individual, caso da cantiga de roda de tirar água, agreste e religiosamente dolorosa. Lembro-me de ter visto o programa ainda antes do 25A, na altura em que o marcelismo deixava passar os filmes do realismo italiano e alguns destes programas. Disponíveis também na plataforma dos Arquivos RTP (clicar aqui), pude visionar a célebre oração das almas de Alcoutim, Recordai Nobre Senhor, gravado em Monte Cabaços, que tinha já cantado no Grupo de Música Tradicional Dar de Vaia, mas da qual não conhecia o registo sonoro em filme, efetuado há cerca de 50 anos. Voltarei a este tema em breve.

Na foto: cantadeiras da Salvé Rainha do Mar, de Armação de Pera (foto minha, de 1984)

sexta-feira, fevereiro 07, 2020

O meu cânone de literatura

Livros de cabeceira, há uma semana atrás. Ainda o último romance de Robert Wilson estava em leitura. Agora, na sua posição deitado, está A Guerra dos Mundos, de H. G. Wells.
Ao mudar a posição da mesa observei-a de outro ponto de vista; não o do leitor mas o do definidor de cânones. Sim, aceitemos alguns cânones de literatura, de Steiner a Bloom, ou mesmo de Francisco José Viegas. O meu poderia ser este, ou melhor, ter nesta mesa parte dele. Aqui estão Ulisses, de James Joyce, O Valente Soldado Schveik, de Jaroslav Hasek, O Som e a Fúria, de Faulkner e, escondido na prateleira do meio, o nunca acabado Viagem ao Fim da Noite de Céline. Na cómoda, à minha frente, estão muitos mais: Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa, Nós, de Zamiatine e Photomaton & Vox, de Herberto Helder. Todos eles precursores de muita coisa nas palavras escritas. E há mais, muitos mais, espalhados pela compulsão da casa!

quarta-feira, fevereiro 05, 2020

CR7=35

CR7 fez  35 anos! E depois? A diarreia de reportagens dos media sobre o assunto, mostra como a indústria da cultura de massas é capaz de produzir e reproduzir, até à exaustão, simbologia de legitimação popular que só reforça a hegemonia do capitalismo e do poder monopolista do dinheiro. Nesse dia, outra gente nasceu, e vive esse mesmo dia a tentar saber como estenderá o rendimento do trabalho até ao fim do mês, ou pagará os impostos no meio do ano. A desigualdade social é também reforçada pela desigualdade de apropriação dos valores simbólicos e culturais inculcados pelos mass media, que assim cobram parte do pecúlio da exploração dos milhões que o futebol movimenta. Razão tinham, há quase um século, os sociólogos da Escola de Frankfurt: se o meio é mesmo a mensagem, então CR7 é o melhor meio para a exploração simbólica e real do valor do dinheiro no capitalismo financeiro.