sexta-feira, novembro 27, 2020

Pipocas, cinema e etnocentrismo


Farto de acompanhar os filmes, nos cinemas atuais, com a banda sonora da mastigação canibal de pipocas e batatas fritas, e de cheirar o ácido doce de colas e refrigerantes, é agora – quando o governo proíbe o consumo destas distrações nas salas – que regresso ao cinema, talvez para ver o último filme de Fellipe Barbosa, «Gabriel e a Montanha».

PCP-Um partido marxista-leninista?

O discurso de Jerónimo de Sousa, na abertura do congresso do PC, foi a revelação do pior do dogmatismo invertido. Explico! Se por um lado o secretário geral enunciou e renovou os princípios leninistas de organização do partido, grande parte deles subvertidos na hegemonia stalinista, a prática do partido mostrou o pragmatismo tático mais revelador da história do mesmo ao aprovar, por omissão, o OE do governo de Costa. Para onde vai o PC? Talvez para o caminho dos outros partidos ‘comunistas’ na Europa…

quinta-feira, novembro 26, 2020

Um orçamento de governação com máscara

 

O Orçamento de Estado para 2021 lá passou com o voto favorável do PS, empenhado em gerir a crise com política à vista, sem qualquer interesse em medidas estruturais de resposta à crise social e económica. Para um ano mais de governação, comprou o PC com as miudezas que dão títulos nos cabeçalhos do Correio da Manhã, mas que ninguém recordará daqui a uns anos. Entretanto o núcleo central de uma governação de esquerda, com políticas arrojadas no campo do apoio social, da reforma séria do SNS, foram chumbadas com o epíteto da irresponsabilidade do Bloco. Apenas o Fundo de Resolução, que injeta milhões no Novo Banco, ficou à conta da Assembleia e não nas mãos da cedência do governo ao sistema financeiro de casino.

Para perceber melhor, e com mais detalhe, ler o texto de opinião de Louçã, no Expresso/Economia desta semana (apenas para leitores inscritos ou assinantes): 

É para empurrar as soluções para a margem que o Governo nem aceita normalizar as relações de trabalho, nem um investimento estrutural no SNS. Prefere comprimir as despesas de resposta à crise em soluções temporárias, que possam entrar nos fundos europeus, para em 2022 reduzir o défice com novas restrições. Pouco agora e menos no ano seguinte é uma solução para desastre.

Alte e as asneiras da investigação travestida

De vez em quando damos com algumas ‘pérolas’ na Internet. Não estou a falar das redes virtuais, onde cabe todo o manancial de estupidez e asneiras. Mas de algumas investigações, que deveriam ter a responsabilidade de não divulgar um conhecimento desastroso. O nível académico está cada vez mais baixo e as teses de mestrado são disso um bom exemplo, que já tenho abordado aqui. Há meses dei com um estudo de mestrado sobre a economia da cultura em Loulé, que só agora fui ler com alguma atenção por ser uma área afim do que estou a estudar. Que desapontamento! A literatura sobre o tema é miserável, a metodologia inclui quatro entrevistas e as fontes são para deitar fora. Um exemplo, que reproduz um mito que tenho combatido: 

Com um aspeto pitoresco, a aldeia de Alte preserva e mantem as suas fiéis origens, tendo sido considerada a mais típica aldeia de Portugal. Um local de ambiente pitoresco, onde as suas casas simples em tons de branco se destacam pelas chaminés rendilhadas (p. 28) [Sara de Abreu, 2018, mestrado em Empreendedorismo e Estudos da Cultura, ISCTE]