Uma das pechas da academia é o seu isolamento social e político, fechada nas suas bolhas científicas. Muitas vezes acusada de conservadora e escolástica na sua relação com a sociedade civil, ela também tem laivos de intervenção social e disso temos bons exemplos em Portugal. Mas também podemos concluir pelo jogo estratégico de muitas instituições, designadamente as autarquias que, buscando uma legitimação científica, são muitas vezes destruidoras e manipuladoras dessas comprovações científicas. O jornal Público, de hoje, traz dois bons exemplos do que acabo de referir. O primeiro, mostra como a autarquia de Viseu promove um atentado urbanístico e cultural, ao pretender cobrir o mercado numa praça aberta da cidade, no seu centro histórico, destruindo a lógica do projeto antigo do arquiteto Siza Vieira. O outro refere-se ao abandono do Projeto da Rede de Espaços de Memória, assumida pelo Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XXI, da Universidade de Coimbra, pela simples mas atendida razão de perceber que «os pressupostos epistemológicos e deontológicos», contratualizados com diversas câmaras da região centro, não estavam a ser cumpridos. No meio deste caldeirão lá estava a Câmara de Santa Comba Dão e o seu desiderato do museu Salazar. É bom que a ciência não se deixe instrumentalizar e manipular, defendendo sempre o debate histórico e ético.