domingo, novembro 28, 2021

O manual do ditador

Assim se constrói um ditador. Ventura, no congresso do Chega, mostrou como se faz: sentado numa mesa sozinho no palco, a mostrar que é um homem só, não se mistura com a ralé, cultivando a sua personalidade exógena das claques e das massas. Nos estatutos, consagrou a sua imposição de ser o único e exclusivo dono das listas de candidatos, e o patrulhador de todos os órgãos do seu partido, que pode destituir quando os considerar desobedientes. Para além do revisionismo de ‘deus, pátria, família’, restaurado de Salazar (ouvido por Anabela Neves, jornalista da CNN, presente no congresso), mostrou ainda como premeia os seus lugares tenente: o deputado açoriano Pacheco, que votou favoravelmente o orçamento do governo da região autónoma, teve direito a ser entronizado vice-presidente do partido. Como podem ver, um autêntico manual da ditadura.

sábado, novembro 27, 2021

O que quer o PSD?

Já se previa, ou já se sabia, que o homem surpreende muitas vezes. Mas a vitória de Rio, nas diretas do PSD, mostra acima de tudo que os militantes que votaram, querem o poder a qualquer custo. Dando a vitória a Rio, sonham com uns lugares numa geringonça de bloco central; dando os votos a Rangel almejam muito mais: as prebendas da hipotética governação já visível no horizonte da crise.

 

terça-feira, novembro 23, 2021

Ulisses, de James Joyce

O título que utilizei para organizar um conjunto de pequenos posts, como resultado da leitura do livro de Jack Kerouac «Pela Estrada Fora», tem origem no método inovador de escrita do autor (ler abaixo). Sabemos que, para não perder tempo naquelas três semanas loucas, Kerouac cortou e colou centenas de folhas de papel manteiga, criando um rolo que cabia perfeitamente na sua máquina de escrever, de modo a não ter que as mudar sucessivamente. Depois, a história é conhecida, com todo o trabalho editorial que permitiu dar a conhecer a chamada ‘bíblia hippie’, que ontem terminei.

Agora, trata-se de voltar, depois de algum tempo na mesa de cabeceira, a «Ulisses», a obra prima de James Joyce e da literatura mundial. Não há tempo a perder, é preciso ler as obras primas disponíveis, por que há outras à espera…


 

segunda-feira, novembro 22, 2021

Diário do rolo de papel-manteiga (Jack Kerouac e Neal Cassady) - final

«Que é que fazes numa noite quente de verão?», pergunta Sal Paradise a uma jovem camponesa, no autocarro que atravessa o Michigan. Que poderia ela responder? Que fica na varanda, a observar e a conversar com os jovens que passam de bicicleta. Ou que cozinha pipocas na cozinha com a mãe. Sal queria outra resposta, que ela não pode dar, nunca poderá dar. Por que está longe, muito longe, da vida na estrada, do  mundo frenético da guerra fria, das questões de uma geração urbana massacrada pela guerra, à  espera das revoltas dos ‘sixties’. Ele sabe-o e considera-se perdido!

domingo, novembro 21, 2021

Diário do rolo de papel-manteiga (Jack Kerouac e Neal Cassady)

Um dia, sentados frente ao grandioso e velho Mississippi, impedidos de o observar correndo enlameado e carregando no seu leito os toros de madeira das florestas a norte, Dean e Sal questionam por que razão se impedem as pessoas de se apropriarem do rio e da natureza. Isto lembra-nos os atentados ambientais que afastaram inexoravelmente as populações dos nossos rios, deixando-os de costas para a vida. (continua)

 

sábado, novembro 20, 2021

Diário do rolo de papel-manteiga (Jack Kerouac e Neal Cassady)

 Dean é um jovem louco que divaga sobre tudo, e a propósito de automóveis dos anos 1940-1950 (que adora conduzir quase sempre a 170 km/hora), ou de construções, fábricas, urbanizações de bairros que abrigam trabalhadores migrantes e precários, ele denuncia, avant la lettre, a obsolescência de tudo aquilo que o capitalismo produz. E, querendo ser justo, critica tanto o poder manipulado por Moscovo quanto por Washington. (continua)

sexta-feira, novembro 19, 2021

Identidade da seleção de futebol?

Em comentário ao jogo de futebol entre Portugal e Sérvia (apuramento para o mundial de futebol do Qatar), António Tadeia questionava a ausência de ‘identidade’ da equipa, ao contrário das 4 regras de Fernando Santos, treinador conservador e demasiado beato para o meu gosto. Na verdade, não sei o que é isso de identidade da seleção. Bom, talvez seja um valor humanista de recusa de jogar num país de petroditadura, onde já morreram 6 mil operários na construção dos estádios; talvez seja por que não querem jogar num país punidor de direitos humanos, que escraviza a mulher. Não, a seleção perdeu porque joga mal, porque o treinador não tem competência para o futebol atual.

 

quinta-feira, novembro 18, 2021

Diário do rolo de papel-manteiga

Em «Pela Estrada Fora», também há um português, velho e enraivecido, que protesta a favor das suas crianças, atiradores exímios de pedras contra a família do amigo de Kerouac, Old Bull Lee. Este, ameaça disparar a sua caçadeira, detrás das cercas de madeira, mas a sua figura é tão apalhaçada que o português (pelo menos palavreara na língua de Camões) o entende como uma figura saída de um pesadelo demoníaco. A coisa fica por aí. (continua)