quarta-feira, dezembro 31, 2008

Artes e Culturas em Alte

O Adão recorda as velhas Semanas das Artes e Culturas que dirigi, em Alte, nos anos 90, em conjunto com o amigo Daniel Vieira (link). Em particular a 1ª Semana, realizada em 1995, para a qual convidei vários artistas plásticos, caso do Adão Contreiras, do Vitor Picanço Mestre (que concebeu a "Árvore da Sabedoria", instalada na Escola Profissional de Alte) e do Afonso Rocha (que executou "A simbologia do acórdeão", colocado no largo principal da aldeia).

Presépio

Este ano, passados mais de 30 anos, a minha irmã convenceu-me a montar o nosso presépio, que em tempos de infância, em Portimão, era visitado por muita gente. Recuperámos as velhas peças de barro que restaram, guardadas durante este tempo, e depois foi só carregar areia e procurar erva, que o musgo juntou-se à crise. Os meus filhos ajudaram e a esposa fotografou. Mais tarde falar-vos-ei da tradição simbólica do presépio. Para já aconselho a leitura do meu conto de Natal "Um Chalé na Praia da Rocha", lido no programa "História Devida" da Antena Um e que se encontra no sidebar ali ao lado direito.

terça-feira, dezembro 30, 2008

Mestre Ilídio

Soube, pelo Almeida, do fenecimento do mestre Ilídio (era assim que o tratava), caldeireiro de Loulé. Conheci-o há muito tempo, quando comecei a interessar-me pela investigação das coisas artesanais do Algarve, ainda não vivia nesta cidade. Mais tarde, tive a oportunidade de conviver mais de perto com ele, aquando da organização das Feiras de Artesanato e da Serra. Era um homem crítico, sobre a política e as artes e é assim que o recordo, mais do que como artesão de cataplanas e de outros artefactos em cobre, pois, cada um de nós quando morre deixa os seus saberes na terra. Quer seja para aprendizagem, quer seja para memória futura. Quando passar pela Rua da Barbacã continuarei a olhar para a loja, ao meu lado esquerdo, e a cumprimentá-lo, como sempre fiz.

segunda-feira, dezembro 29, 2008

Notícias de imprensa

O lançamento do livro de poesia de Albertina Coelho Rodrigues, poeta popular de Paderne, teve vários ecos na imprensa. Para já, refiro a notícia do Algarve Repórter, com o título "Poeta é o povo" (link) e do A Avezinha, sob a designação de "Albertina Rodrigues lança novo livro", com reportagem publicada no Jornal Regional (link).

Natal Greed


Oferta de Natal de José Carlos Fernandes publicada na «chiquérrima revista "Fora de Série", suplemento do "Semanário Económico", para uma rubrica destinada a mostrar 6 visões da Árvore de Natal».

terça-feira, dezembro 23, 2008

Ainda a poesia

O amigo António envia-me um poema lindo da Luiza Neto Jorge, como lembrança de Natal:


Nas cidades do sul
há violência e há excesso,
de semente.
Estalam os rios e foge a água.
O corpo, encortiçado, racha.

Lendas vêm de há séculos assoreando
as margens.
E quando à boca de um poço vamos
provar o nosso eco,
águas puras irrompem,
noutra língua.

Luiza Neto Jorge
Silves 83
ALGARVE todo o mar (Colectânea)


[A bela imagem é dele e tudo pode ser visto aqui]


segunda-feira, dezembro 22, 2008

Tempo de poetas

Ontem, a sala da Sociedade Musical e Recreio Popular de Paderne esteve cheia, para ouvir a poesia de Albertina Coelho Rodrigues. Muita gente da terra, familiares e outros poetas da região, a imprensa local e municipal, que espero dêem destaque ao assunto. Em breve colocarei em linha o prefácio que escrevi para o livro, mas por ora deixo um dos poemas que li na apresentação:


O Mar

O mar é tão imponente,

Por entre o nosso olhar.

Mas como o mar não é gente,

Ele não pode pensar.

O mar é tão inconstante,

É companheiro do vento,

Causa a qualquer instante,

Um constante sofrimento.

O mar tem os seus segredos,

Bem lá no fundo guardados,

Tantos horrores, tantos medos,

Que nunca são revelados.

O mar que é o mais forte,

Ninguém o pode vencer.

Tanta gente, por má sorte,

Vai dentro dele morrer.

Mar: ora calmo, ora bramindo,

Bravo, é um furacão,

Manso, cordeiro dormindo,

E rugindo, é um feroz leão.


quarta-feira, dezembro 17, 2008

Lançamento de livro de poesia

No próximo domingo (21 de Dezembro) estarei em Paderne, a apresentar o livro da poeta popular Albertina Coelho Rodrigues «Nasce o sol a cada dia e do meu peito a poesia», sua segunda obra. O evento inclui a leitura do Prefácio, de que sou autor, leitura de poemas pela autora e convidadas/os, seguida de uma sessão de autógrafos e de um pequeno beberete. Esperamos por vós na sala da Sociedade Musical e Recreio Popular de Paderne, às 16 horas.

sexta-feira, dezembro 12, 2008

quarta-feira, dezembro 10, 2008

Nova obra do Zé Carlos Fernandes

Há dias encontrei o Zé Carlos Fernandes, ali na Cantina dos Sabores do nosso amigo comum Juba, onde me abasteço diariamente. [Cozinha, só mesmo ao fim de semana]. Durante pouco tempo conversamos sobre as minhas crónicas na Voz de Loulé, dos tempos do suplemento "a cultura" no mesmo jornal e, claro, de bd. Tinha acabado de comprar a última edição da Devir, do trabalho de Patrick McDonnell, o célebre Mutts (falar-vos-ei dele mais tarde) e vinha a propósito apresentar o último do Zé Carlos. "A Terra Incógnita" é o 1º volume de «A Metrópole Feérica», argumento do Zé com desenhos do Luís Henriques, com quem já tinha colaborado em «O Tratado de Umbrografia». Agora é só lê-lo e satisfazermo-nos com as elucubrações do nosso autor.

terça-feira, dezembro 09, 2008

Os CTT em Loulé

Chamo a atenção para este interessante post do Almeida sobre os Correios em Loulé (link).

Benfica

E o Benfica lá vai. Para se vingar dos cinco, marca seis. Razões? A troca de Quim por Moreira e alguns craques no banco, é receita que dá sempre resultado.

domingo, dezembro 07, 2008

Os 25 anos do TAL

O Teatro Análise de Loulé (TAL) está a comemorar os seus 25 anos de trabalho ininterrupto. Nestes dias, temos uma exposição de materiais de teatro, das várias peças levadas a palco, patente na sala da Casa da Cultura de Loulé. Apesar de simples, a exposição mostra um trabalho dedicado de aprendizagem e de educação da arte de Talma, que já proporcionou a muita gente um contacto com o teatro que sem este trabalho não seria possível. O TAL, posso afirmá-lo, é um dos exemplos de trabalho educativo sério no campo da divulgação teatral no Algarve. Em post anterior tinha já feito a minha homenagem (link).

sábado, dezembro 06, 2008

Sinais a leste e a oeste

A eleição de Obama como presidente dos EUA, despertou o político em Fidel Castro que - apesar de não presidir - já disse, ontem, que está disposto a falar com o presidente eleito para rever o embargo dos EUA a Cuba que dura há mais de 40 anos. E é capaz de ter razão. A propósito, ainda há pouco no Jornal da Noite da Sic Notícias, Saramago elogiava a política inteligente de Obama nos convites conservadores para a sua administração. Mais um sinal.

sexta-feira, dezembro 05, 2008

Olá

Continuo sem aparecer por aqui. Cansaço das vacuidades do quotidiano? Trabalho alienado? Preguiça? Continuo a estar com os meus filhos, a verdadeira matéria da vida...

quinta-feira, novembro 20, 2008

Explicação breve de ausência.

Os meus leitores devem estranhar tão grande ausência, sobretudo se pensarmos que mantenho este blogue desde Fevereiro de 2004, sem interrupções. De facto, os tempos que correm são difíceis, sobretudo pelo excesso de trabalho burocratizado que tenho na Escola Superior de Educação, onde lecciono. Não tanto pelo trabalho com os alunos - que me agrada sobremaneira - mas pela burocracia das reuniões e da função de secretário do Pedagógico e do Científico para os quais fui eleito.
Mas temos mais uma explicação: em Setembro iniciei a minha formação para o grau de Doutor, na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa. Para além de ser um passo necessário na minha carreira, a investigação é algo de que gosto muito e me permite continuar a estudar os processos educativos e de desenvolvimento.
Este quadro obrigou-me a suspender algumas contribuições públicas que vinha desenvolvendo, como a coluna que mantinha no jornal «A Voz de Loulé» , o Treinador de Bancada.
No entanto, vou tentar, sempre que possível, manter uma presença regular no blogue, pois a escrita é também um dos meus vícios. E darei notícias das minhas escritas noutros lugares.
Até já, pois.

sábado, outubro 18, 2008

Treinador de Bancada #17

QUINZE MINUTOS DE FAMA COM CRESCINA R5

Todos nós temos os nossos quinze minutos de fama. Foi Andy Warol quem o disse, a propósito das estrelas artísticas americanas, na altura em que desenhava bananas às cores na Factory, empresa de onde saíram, entre outras preciosidades, os míticos Velvet Underground, de Lou Reed e John Cale.

Eu não sei quais foram os meus quinze minutos de fama, provavelmente ainda não me chegaram. Mas sou capaz de descobrir alguém, no mundo da bola, por exemplo, que obteve, desde cedo, muitos minutos de fama, roubando-os a muitos desgraçados de que ninguém já se lembra, como muitos dos nossos ministros e secretários de estado do desporto.

Olhemos então o Ronaldo. Não, esse não, que há pouco acabou de regressar aos relvados, num jogo em que as suecas não lhe tiraram o sono mas alguma inspiração. Falemos do outro, nascido no Atlântico sul, Ronaldo, ex-estrela de futebol do Real Madrid e da selecção da Ordem e do Progresso.

A sua fama não lhe advém das brilhantes fintas aos adversários, ou dos golos arrancados a tiro de fora da área, como se fosse um guerrilheiro das Farroupilhas. Os quinze minutos de fama de Ronaldo são-lhe atribuídos pela página sete do «Expresso», ali mesmo ao fundo, por baixo da crónica azulada do Miguel Sousa Tavares. Em apenas três colunas ficamos a conhecer as causas meteóricas da cabeleira farta e crescente do futebolista (que semana após semana parece maior na foto do jornal), graças aos 5 componentes milagrosos de “Crescina R5”. Como se percebe, o R é de Ronaldo mas o 5 não era o seu número nas costas, mas refere-se, isso sim, aos tais componentes activos da fórmula inventada na Suíça, os quais não descrevo por prurido de publicidade não paga a este jornal.

Confesso que os meus olhos, semana a semana, procuram este pequeno rectângulo da página, esquecendo o editorial do comendador Henrique Monteiro, ou o cartoon crítico de António. Assim, atribuo a Ronaldo os seus quinze minutos de fama semanais, o tempo que decorre na busca sedenta da página sete, na leitura da publicidade, e na atenção que dedico religiosamente àquela foto, onde sobressai uma cabeleira inabitual num jogador que admirámos sem cabelo.

E no fim de tudo o meu dilema é este. Não saber se os meus quinze minutos de fama não estarão no seguinte: correr como um perdigueiro a uma farmácia de serviço, já esta noite, pedir o “Crescina R5” e besuntar a minha ténue calvície de padre com o produto maravilhoso que Ronaldo publicita como “embaixador”. Iam ver se amanhã não aparecia na penúltima página do «24 Horas», entre a morte da velhinha da aldeia e a crónica da socialite da Franqueada.

(A Voz de Loulé, 15 Outubro 2008)

domingo, outubro 05, 2008

A ver em Loulé

O Almeida já tinha chamado a atenção para ela e, ontem, dei uma vista de olhos pela exposição do Bota Filipe ali na Galeria Espírito Santo, em Loulé. Portas recuperadas e transformadas em objectos decorativos, apenas para o prazer do olhar, ou trocadas por espelhos, onde mirámos o nosso desprezo ecológico pela madeira, pela casa, pela identidade. Algures no lugar destas portas estará a modernidade do alumínio frio e higiénico, porta-estandarte da transformação do mundo rural.

Dennis McShade


Na semana em que morreu o actor de excelência Paul Newman, pouca gente recordará Dinis Machado. Lembramo-nos todos de «O que diz Molero», sua obra mais conhecida, mas eu recordo com prazer a colecção de policiais Rififi, que ele dirigiu e na qual publicou três romances do género com pseudónimo americano; isso mesmo, Dennis McShade, ao jeito de Chandler ou Rex Stout. Morreu na sexta, quando a Assírio & Alvim prepara a reedição dos seus livros. Que venham pois.

sexta-feira, outubro 03, 2008

Treinador de Bancada #16

Como ser patriota hoje em dia

Ser patriota tem muito que se lhe diga. Ninguém já acredita (ou acredita?) que se trata de uma identidade nacional que nasce connosco e se inscreve na pele para toda a vida, (como aqueles números de prisioneiro nos campos de concentração nazis). Se eu me lembrar de que, no tempo da escola fascista, os manuais inculcavam essa ideia – que depois os professores as faziam cumprir a cantar o hino e de braço esticado conforme a cartilha nazi – então a repugnância ainda é maior. Felizmente os meus filhos não estudam por essa ideologia. Mas se há campo social onde esta questão do patriotismo se coloca com maior intensidade é no futebol, esse jogo epidérmico e emotivo que nos sai dos poros das pernas. Se olharmos para a selecção da “pátria”, a coisa torna-se mais aguda ainda. Toda a gente se lembra do Euro 2004 e não é só pelo descalabro financeiro da construção dos estádios, ou do 2º lugar que muita gente comemorou mas que foi a vergonha perante os discípulos de Sócrates (o filósofo grego, claro). Para esses ser patriota era isso mesmo: cantar o hino, encher-se de pinturas ameríndias ou carnavalescas, suar as estopinhas aos gritos ao árbitro e, sobretudo, andar de bandeirinha nacional em tudo o que é sítio: no assento do carro, no pescoço e nas costas, à janela; e até em locais mais prosaicos, como pô-la debaixo do rabo, ou a atapetar o chão da casa. Felizmente, para outros patriotas, as bandeiras não eram portuguesas nem tinham sido feitas em Portugal, mas num país distante e comunista (oh diabo!) como a China. Em vez de castelos tinham pagodes (lembram-se?) e as mãos que as coseram eram de meninos pobres ou mulheres pagas com uma tigela de arroz. Mas que importa isso, pá? Deixem-me mas é honrar a bandeira e a pátria.

O nosso vizinho escritor Javier Marías afirmava, numa crónica em 1994, que não estaria nesse ano com a sua selecção, a espanhola. A razão era que não queria ser patriota e apoiá-la só porque sim. E manifestava-se contra o treinador desse tempo e desfavorável às suas escolhas técnico-tácticas (como se verifica aqui, todos nós sabemos muito de futebol e aprendemos imenso com os comentadores encartados). Não sei se neste ano o escritor apoiou a sua selecção. Como ele acerta sempre, presumo que sim, pois a Espanha ganhou o Euro 2008; e não precisou de jogá-lo no seu país.

É claro que o primeiro tipo de patriotas apoia a sua selecção sem pensar naquilo que ela significa. Não lhes interessa o treinador, os jogadores, ou o que quer que seja, mas apenas aquele corpus verde-rubro, com uma manchinha amarela. Depois é só pontapé prá frente. Pois a mim, que não sou patriota, o que interessa é que a selecção seja dirigida, treinada e jogada por gente séria, inteligente e afável. Aceito que ainda existe por aí muita gente que dá excelentes pontapés na bola, e também excelentes pontapés na gramática. Ou noutras coisas, como a educação, a honestidade e por aí adiante. Mas não esperem que eu agora fale disso. Por todas as razões que venho enunciando nunca aceitei o bronco do Scolari como treinador “excelentíssimo”. E enquanto ele esteve por cá, fui farpando o homem onde podia. Sei bem que o que a malta patriota gosta é disso mesmo: um homem que vai pedir as vitórias a uma santa italiana no Brasil, que trata a equipa como uma tropa fandanga dirigida por um sargento, que gosta de mandar os jornalistas à merda. E que no final de tudo isto ainda pergunta: “e o burro sou eu?”. Como diria Grissom (da série CSI Las Vegas), a propósito dos porcos, não confundam o Scolari com os burros, animais inteligentes, educados e dóceis.

Compreende-se que os patriotas de que falo – os que amaram Scolari e agora vêem todos os jogos do Chelsea na liga inglesa – detestem Carlos Queiroz, o actual treinador. Percebe-se facilmente que Queiroz está nos antípodas do anterior seleccionador. Não sou eu que lhe vou apontar qualidades, mas apesar disso concedo e diria uma: Queiroz é educado, mesmo quando fala da confusão com o Sporting. E, sobretudo, sabe que foi ele que trouxe a geração anterior de jogadores até ao cume do futebol internacional. Coisa que Scolari deitou para o lixo (sei que alguns patriotas estão já a dizer que sou ingrato, pois o nosso melhor de sempre foi o 2º lugar europeu, mas não ligo à provocação). Estes patriotas nunca poderão gostar de um homem que se senta calmo num banco, que pensa o jogo entre os manuais e o campo, que responde aos jornalistas de forma contida e pedagógica. Mais: nunca perdoarão o facto de Queiroz ter destruído o séquito do clã scolariano, que tinha Ricardo como ponta de lança, ou de ter mudado os hábitos desleixados e individualistas da equipa.

Eu, como bom não-patriota, o que espero é que Queiroz tenha sorte e faça um bom trabalho, para bem de todos nós, patriotas ou não. Sei que isso é muito difícil, pelo simples facto de os oito anos de Scolari por terras lusas terem deixado a selecção na lama. Não estranhem o peso da expressão, que eu explico: não são os resultados que ficam; o que resta é um conjunto de comportamentos e atitudes (aquilo a que os patriotas chamam mentalidade) erróneas sobre o jogo e a competição. Querem um exemplo? Dou-lho já: Quim, o guarda-redes do Benfica e da selecção – o tal que veio do Europeu lesionado para não ter que aturar o banco eterno – já anda a imitar o Ricardo, nas saídas a bolas cruzadas; e nos frangos também. Vejam como tenho razão. Estes vícios pegam-se. Por isso sempre disse que Queiroz devia era ter ficado junto do seu mentor Ferguson, no United. Mas ele é muito mais patriota do que eu alguma vez serei. Boa sorte, então.

(A Voz de Loulé, 1 Outubro 2008)

sábado, setembro 27, 2008

Ah tabaco a quanto obrigas

Já ninguém se lembra das campanhas contra a proibição de fumar em espaços públicos. Muitos dos blogues que se armaram em propagandistas do fumo, exibiram imagens das grandes estrelas de Hollywood de cigarrinho na boca. A piada é que uma notícia, hoje divulgada, dá conta de um estudo de investigadores da Universidade de Nova Iorque que provou que muitas dessas estrelas receberam somas chorudas para estimular o uso do tabaco. Nomes? Stewart Granger, Bette Davis, Clark Gable... Um tiro pela culatra, portanto!

sábado, setembro 20, 2008

Ensaio aqui ao lado

Texto sobre o Manifesto de Marx e Engels no Socializar. A ler (link).

Treinador de Bancada #15

O TEMPO DOS ATLÉTICOS

Como se sabe, o futebol foi inventado como prática desportiva da burguesia. Apesar de jogado com os pés, a modalidade foi rapidamente aceite, pela beleza dos gestos corporais e pela finura dos toques que os pés permitiam. As famílias inglesas que o criaram e desenvolveram vestiam-se a rigor para o praticar, de casacos tweed e bonés de fazenda. O futebol não passou despercebido aos operários mais jovens que o vislumbravam aquando do caminho para o trabalho e o copiavam dos relvados de jardins aristocráticos. Rapidamente, a apropriação popular deste desporto se desenvolveu, de tal modo que alastrou para o mundo inteiro, tanto nas colónias inglesas como nos países periféricos.

Em Portugal, conhece-se a prática da modalidade desde finais do século XIX, tendo vários clubes sido fundados na altura.

Do clube do meu bairro há pouca história feita. O sítio, na margem direita do rio Arade, entre a cidade de Portimão e a foz do rio na Praia da Rocha, vivia do complexo industrial conserveiro da Júdice Fialho: fábrica, estaleiro, armazéns, doca de atracagem e outros equipamentos. Para que os industriais dispusessem da mão-de-obra a toda a hora, as operárias e operários viviam num bloco rectangular rasteiro, dividido em 21 parcelas de quatro pequenas divisões, cada uma delas para duas famílias, uma média de oito pessoas por casa/parcela.

A este sítio se dedicaram vários topónimos: S. Francisco, por causa do convento seiscentista do brasão portimonense Castelo Branco; Estremal ou Estrumal, por origem em extrema, ou tresmalho (arte de pesca, praticada no rio); mais tarde algumas designações mais cinematográficas, como Chicago City, por exemplo.

O certo é que os criadores do clube decidem fundá-lo com o pomposo nome de Lusitano Atlético Clube Estremalense, também conhecido por LACE. Penso que a dupla designação de “lusitano” e “atlético” teve a ver com a origem dos habitantes do bairro operário, vindos das orlas camponesas da cidade, mas também de diversos pontos do país, como a região saloia de Lisboa, ou a costa litoral de Peniche a Espinho. O que é certo é que no nome ninguém nos batia e quase sempre os adversários o invejavam. E o equipamento também: aquela risca amarela diagonal na camisola vermelha, dava um ar de comendador a cada jogador. E, por causa disto, foram muitos os forâneos de outros bairros da cidade de Portimão, ou mesmo forasteiros, que quiseram vir jogar no Clube, muito antes de Schengen. Até estrangeiros nós tínhamos, pois a partir de meados dos anos 60, com a chegada dos primeiros ingleses, era fácil aliciar jovens para as equipas que participavam nos torneios organizados por nós ou por outros clubes populares da cidade.

Campos não nos faltavam. Havia um, grande, com as medidas adequadas, copiadas a olho do campo do Portimonense Sport Club, o clube de quem mandava na cidade. O outro campo, mais pequeno, era quase sempre para o jogo da malta mais nova, convocada por assobios ou gritos de Tarzan, na versão Weissmüller, muito em voga na altura. Ambos os campos ocupavam áreas baldias do terreno murado do complexo fabril e que a burguesia industrial ia permitindo, como escape das 18 horas diárias de trabalho do proletariado.

Mas o clube da minha terra só reapareceu em grande forma no período pré-revolucionário. Ele foi motivo de muitas reuniões e conversas dos operários militantes e opositores ao regime, ali mesmo na taberna da Ti Gertrudes, onde nos abastecíamos de água para toda a casa, dos primeiros cigarros da adolescência e se vendia vinho, muito vinho, em copos de três e penaltis, como homenagem ao futebol, claro. Eu, que tinha 13 ou 14 anos na altura e que andava nas noites a ler «A Mãe» de Máximo Gorki às escondidas, percebia que algo se passava. Confesso que entendi com mais dificuldade o que era o raio do “samovar” onde os personagens do romance se aqueciam, do que o tema central das conversas no quintal da taberna, com o pretexto de refundar o clube. Os rituais de iniciação e de passagem eram assim: os mais velhos protegiam os mais novos, neste caso dos muitos bufos que cirandavam à volta dos copos ou dos jogos da lerpa e do truque, nas mesas de mármore.

É por estas e por outras que o meu olhar sobre o futebol haverá de partir sempre destas memórias, e de outras que vos contarei.

(A Voz de Loulé, 15 Setembro 2008)


quinta-feira, setembro 18, 2008

Integração nas escolas

No final do ano lectivo passado tive a oportunidade de defender, numa reunião de encarregados de educação na Escola EB 2/3 Duarte Pacheco, em Loulé, que a integração dos alunos mais novos (sobretudo os que mudam do 1º para o 2º ciclo) se faria com maior qualidade se correspondesse a um trabalho com os alunos mais velhos (sobretudo os do 9º ano). A questão parece-me simples: mobilizar e dinamizar os alunos mais velhos e responsabilizá-los como tutores dos mais novos, tendo como função principal a sua socialização na escola. Tarefas simples, como mostrar a escola, apoiar algumas tarefas administrativas, defender e integrar nos grupos de pares, são de uma importância decisiva para evitar o crescente bullying nas escolas. Na abertura do actual ano-lectivo a televisão lá mostrou uma escola, do concelho de Bragança, que adoptou pela primeira vez este mecanismo. Chamou “padrinhos” aos alunos mais velhos, talvez pelo nome estar associado mais fortemente a um conceito de protecção social. Mas o sentido do que defendo, está lá. Espero que outras escolas adoptem este modelo. E saibam porque o fazem.

domingo, setembro 14, 2008

Edital

Ainda a ressaca das férias e já estamos num novo ciclo de aulas. Trabalho, muito trabalho, meu, dos filhos... A partir de Outubro devo entrar num programa de doutoramento e aí estarei eu: mais três ou quatro anos de estudos pós-graduados. Entretanto, por aqui, vamos ver o tempo que resta para postar com regularidade. No meu blogue académico irei proceder a algumas alterações. Como passarei a usar uma plataforma electrónica de tutoria com os alunos, o Socializar por aí deixará de ter conteúdos curriculares e passará a dispor de pequenos textos ou ensaios sobre vida académica ou política educativa. No Contra>Senso colocarei sempre um link quando se justificar o interesse de leitura, em geral.

Culpas de Caravaggio

O jogo de Portugal (em futebol, é bom que se diga) contra a Dinamarca teve uma primeira parte de assombro: técnica, velocidade, inteligência, sentido colectivo. O que de melhor Queiroz pode oferecer como treinador. Até nos fez esquecer a célebre burrice de Scolari, que eu e muitos outros fomos denunciando contra a corrente. Na segunda parte, apesar dos muitos golos (especialmente os do adversário), lá estávamos nós outra vez com as pechas do conservadorismo no futebol: perdidas, individualismo, rodriguinhos. Nada que preste. Eu bem dizia há tempos: os anos de trabalho (salvo seja) de Scolari deixarão mazelas muito entranhadas e não pensem que até à África do Sul o problema se resolve. Desenganem-se.

sábado, setembro 06, 2008

Música a sério


Hoje queria chamar a atenção para o programa de JP Simões - conhecido mentor e vocalista dos interessantes Belle Chase Hotel, de Coimbra e, mais tarde, com uma excelente carreira a solo - na RTP 2, intitulado "Km Zero". É um discreto mas sério programa sobre a música nacional que se vai fazendo por Portugal fora, a partir de experiências de bandas que ainda não gravaram. Já vi os primeiros vídeos disponibilizados na net (link), isto porque o horário do programa (sábados, na 2 às 19.30h {hoje}) tem sofrido sucessivas alterações devido a jogos de futebol ou olímpicos. A emissão de 4 de Outubro contará com gente do Algarve: Trio de João Frade (Portimão), Nanook e Jazztaparta (Faro). A ver, meus amigos. A página no My Space disponibiliza muita informação (link).

X Files

No dia dos meus anos ganhei a colecção da 1ª série completa de Ficheiros Secretos, a celebrada criação de Chris Carter, que fui vendo, aos poucos em vários canais, nos anos 90. Na altura o meu interesse partia do ponto de vista da ideia de outros mundos, matéria que me interessava e atraía nas leituras de ficção e ensaio. Por ora, sento-me ao portátil vendo os dvds de cada episódio de 1993, e verificando como o que se faz hoje de bom (e muito bom) nas séries televisivas deve quase tudo a estes X Files. E aquele assobio, tem tudo...

quarta-feira, setembro 03, 2008

Treinador de Bancada #14

AS MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DA BOLA

Javier Marías é um escritor nosso vizinho. Nascido em 1951, em Madrid, dele são conhecidos em Portugal alguns dos melhores romances escritos em língua castelhana (ou espanhola, se preferirem), como «Todas as Almas» ou «O Homem Sentimental». Para além de um romancista emérito, ele também escreve crónicas sobre futebol. Pelo menos escreveu. De 1992 a 2000 publicou, no «El País» ou no suplemento «El Semanal», pequenos ensaios sobre futebol. Só sobre futebol, aquilo que ele designa como sendo um “descanso”, uma forma maravilhosa de exercitar a “recuperação semanal da infância”. Para muitos escritores – diferentes de Javier Marías que nunca jogou futebol mas é um assumido colchonero (adepto ferrenho do Real Madrid) – o futebol foi outra pátria, muitas vezes em território alheio. Albert Camus foi guarda-redes do Racing Universitaire de Argel nos seus tempos de exílio interno. No terreno de jogo aprendeu tudo sobre a moral humana. E para quem leu «A Peste» ou «O Estrangeiro» percebe bem o que ele quis dizer com isso. Nabokov, também em terra alheia, foi guarda-redes em Cambridge e, muito antes de «Lolita», deixou o vício em muitas lolitas americanas. Foi o que Marías testemunhou mais tarde, quando percebeu que as raparigas de Wellesley só escolhiam futebol, numa terra em que o futebol “macho” americano é que dita as regras.

Para um escritor de crónicas, ou para um treinador de bancada como quer que seja, a leitura de «Selvagens e Sentimentais: Histórias do Futebol», de Javier Marías, é uma tarefa e um prazer incontornáveis. São meia centena de pequenos textos de sabedoria, vício, hooliganismo decente, uma literatura admirável, para a aproximação dos povos. Trata-se de uma “literatura confessional”, pois aqui é impossível não tomar como padrão a memória de infância que todos nós temos, dos relatos radiofónicos ao domingo, dos cromos da bola trocados a peso de ouro e colados com farinha e vinagre nas cadernetas escassas, dos primeiros jogos que vimos com familiares e amigos. Outros tempos, que aqui trarei nas próximas crónicas. Hoje é impossível não recorrermos, nas nossas interpretações, a esses tempos de infância, nos quais construímos o olhar sobre o futebol. E por mais que queiramos ser objectivos, todos sabemos que o nosso olhar de hoje, sobre os tempos de ontem, são definidos pelo que somos e sabemos hoje. O nosso olhar sobre o passado é sempre reinterpretado, uma visão romantizada do que vivemos nesses tempos.

Javier Marías bem tenta recordar-se, e escrever sobre o jogo de caricas que o irmão Fernando montou e dominou nos grandes jogos das tardes de adolescência. Também eu me lembro da construção de autênticos e verdadeiros campos de futebol, em tábuas de madeira encontradas nos baldios dos valados do bairro. Sobre ela colocávamos pregos bem posicionados nos lugares dos jogadores, onze de cada lado do campo, que dividíamos ao meio com lápis e régua. As balizas eram dois pregos maiores, a pequena distância para que não fosse fácil marcar. Também nessa infância portuguesa e mediterrânica, o Vítor “Bagu” se lembrou de apor um bocado de rede de pesca nas balizas. Foi dessa forma que o jogo se tornou mais científico: acabavam as discussões sobre a entrada ou não da bola na baliza. Ah, a bola, o que era a bola? Um botão largo de vestido de mulher que roubávamos às nossas mães, desertificando os vestuários domingueiros, ou uma moeda, ainda mais rara, nesses tempos. Colocado na tábua, o botão, ou a moeda, era só chutar à vez, com a ponta do indicador a fazer pressão no polegar. Havia quem tivesse outros estilos, mais Di Stéfano, ou mais Eusébio. Claro que não havia nunca bolas para o ar, nem golos de cabeça. Torres, ou Vítor Baptista, nem pensar em jogo de cabeça. As caricas, de que Marías fala, também serviam de bola, mas eram muito grandes. O seu serviço era outro, mas isso conto contar em crónica seguinte.

Nestes jogos de simulação, menos de futebol e mais de construção de uma personalidade integrada e coesa, lá estava também o desejo, o vício, a necessidade premente de ganhar sempre. Como no futebol – diz Javier Marías – é preciso vencer sempre uma e outra vez, todas as vezes, porque não há passado na bola. Neste mundo, é sempre o presente que manda, como um condenado à vitória perene. Mais do que a felicidade da vitória passada, o que conta é a angústia de ter de vencer agora. Agora e sempre. É essa angústia que faz do futebol a desgraça que muitas vezes é. Não o facto de ser jogado a pontapé, como Cabrera Infante, escritor cubano, defende. Talvez. Talvez Javier Marías tenha razão, pois “o futebol tem qualquer coisa de inestimável e que não costuma acontecer nas outras ordens da vida: incita ao esquecimento, o que equivale a dizer que nunca incita ao rancor, coisa que só se aprende na idade adulta”.

Em breve falaremos disto.

(A Voz de Loulé, 1 Setembro 2008)

segunda-feira, agosto 04, 2008

minguante a crescer


Júlia
Correspondi ao desejo dela, quando nos pediu para tapar os olhos. Tapar os olhos era o desejo mais insidioso que se poderia esperar de uma jovem que se vai despir na praia. [Ler o resto do meu conto na revista >]

sexta-feira, agosto 01, 2008

Treinador de bancada

OS SUÍÇOS: NA BOLA E NA VIDA

Como referi na crónica anterior, tinha previsto falar-vos dos comentários de Fernando Correia, no Rádio Clube Português, a propósito da competência dos suíços na organização do campeonato europeu de futebol, vulgo Euro 2008. Eu sei que já estão fartos de futebol, agora que se iniciaram os célebres torneios de início de época, ali para os lados de Albufeira ou Vila Real de Santo António. Uma oportunidade para ver os jogadores arrastarem-se na relva, ou no banco, amuados com a expectativa das negociações de novos contratos, ou penalizados pelo treinador.

Mas voltemos a Fernando Correia. Toda a gente conhece aquela voz de sabedoria, de experiência feito, um homem cultivado próximo dos relvados e dos microfones. Há tempo que o respeitamos, nas coisas da bola. Acontece que, há semanas, comentando a capacidade dos suíços na organização do Euro 2008, afirmou que nunca tinha visto nada assim. Aquilo era a falta constante de garrafas de água para refrescar os jornalistas; documentos informativos que nunca chegavam e sempre faltavam; falta de apoio técnico e de informações sucessivas; ausência de gabinetes e de pessoal técnico capaz. Nós não duvidamos do que Fernando Correia diz.

A mim parece-me que, na verdade, os suíços estavam-se marimbando, um pouco é claro, para aquele evento que pouco lhes dizia. Lembro-me de pequenas entrevistas de rua em que, perguntados, os autóctones lá afirmavam: que havia actividades culturais mais interessantes para frequentar; que ligavam pouco ao futebol; e que tinham mais que fazer do que estar horas ocupados à volta de um objecto redondo. Enfim, a gente gosta da bola e percebe que os suíços (para não falar dos austríacos) são gente fria, que vive na neve, rodeados de rios gelados e montanhas cheias de vaquinhas de chocolate. Como podem amar o pontapé na bola? Aliás, os alemães apanham pela mesma bitola. Quando a equipa alemã ganhou a Portugal, o epíteto de “frio” foi a fundamentação teórica dos treinadores de bancada para justificar a vitória germânica. Como se sabe, o frio ganha sempre ao quente. Eu, que estou a escrever esta crónica numa esplanada em Quarteira, fugi do calor da praia para este frio modorrento da sombra.

Bom, mas esta história do jornalista do Rádio Clube Português (boa antena, ouçam!) lembrou-me o capitão Kaspar Glauser-Röist, membro da Guarda Suíça, protector de Sua Santidade o Papa e agente policial ao serviço do Tribunal da Sacra Rota Romana, e personagem do romance histórico de Matilde Asensi «O Último Catão». Li-o, há um ano talvez, mas voltei às suas páginas para perceber como é que seriam os suíços. Frios, distantes, incompetentes, desconhecedores do futebol sério? Talvez. Mas este capitão da história não pode deixar de ser suíço, pois essa nacionalidade “é obrigatória para todos os membros do pequeno exército vaticano”. E ele é inteligente, honesto, cumpridor, sério, afectuoso, misterioso. E no fim, até se torna o último Catão - o Catão CCLVIII - depois de ter superado, com os seus companheiros de romance, as difíceis provas propostas por Dante Alighieri em «A Divina Comédia».

Não é que eu tenha algo quanto ao prestígio da Suíça como país inspirador de trabalho, pois não é verdade que os dados estatísticos provam que é nesse país que os portugueses trabalham mais? Talvez liguem menos ao futebol. Bem, também os vimos, dando a cara às câmaras de televisão durante o Euro 2008. Claro que eram muitos no início e já muito poucos no fim. Pudera! Esta questão levou-me também a procurar notas várias sobre os índices de desenvolvimento da Suíça e o que tinha, ou consultei, deixou-me mais descansado. Ora vejamos.

Um estudo da Unicef, sobre o bem estar das crianças, mostra que a Suíça ocupa a sexta posição no índice da qualidade de vida dos menores (afecto, educação, relação social), enquanto Portugal fica em 17º lugar, num estudo que envolveu 21 países. O nosso só se destaca no campo dos relacionamentos familiares. Nada mau para as nossas boas famílias. A Suíça bate-nos no item relacionamento com amigos, que é muito melhor do que o nosso. O que o estudo mostra, nos seus 40 parâmetros, é que os dados podem ser muito condicionados pelas políticas sociais e educativas dos países. Claro que isto também já se sabe. Portugal pode ser muito bom (o melhor mesmo) a organizar europeus de futebol, mas quanto a políticas educativas e sociais, pois, pois.

Num outro estudo, o PISA/2006 (programa internacional que acompanha os resultados de evolução escolar), também a Suíça se destaca, nas áreas das ciências naturais, da leitura e da matemática. Nos dados globais das três áreas, a sua média é superior à média dos restantes países testados da OCDE. Mas os suíços, com a sua fleuma de apreciadores de futebol alheio, lá vão dizendo que os dados não são tudo, que não se podem comparar estes resultados como se fossem uma prova desportiva, etc, etc.

E esta, hem? Bom, esta reacção tem muito a ver com o facto de a Suíça ser um país de forte imigração (20,2% de estrangeiros), muita dela portuguesa. O trabalho de integração de imigrantes, com diferentes culturas e línguas, não é fácil, mas a Suíça fá-lo, há muitos anos como se sabe. E os resultados estão à vista, mesmo que os suíços não sejam muito competentes na organização de eventos da bola. E os portugueses que o digam.

(A Voz de Loulé, 1 Agosto 2008)

Coça, coça.


Apanhei a peça por acaso. Ontem, era tarde, e dei por mim a ver, na RTP, a peça monólogo de José Pedro Gomes "Coçar onde é preciso". Um stand-up-comedy de quase duas horas, que começa pelas histórias dos percursos burlescos dos CTT e acaba com estatísticas sobre sexo. Um texto surpreendente do actor, cuja capacidade para olhar o pormenor já se conhecia de várias crónicas radiofónicas da TSF. Uma cenografia simples, mas muito eficaz, como é o caso da sanita-baú-quadro de papel-frigorífico (na imagem acima), integra e reforça o texto e a representação. Ah, genial, também a Mona Lisa: "Ó Mona por que hás-de ser lisa?". Para desconstrui-la, Gomes enche-lhe as mamas de várias formas. Magnífico.

terça-feira, julho 29, 2008

A história da loira

Através do serviço de busca local de blogues do Sapo, lá descobri esta pérola do JJS (link). Como o conheço, sei que fala verdade e não faz história. Bom, a história, essa é a de um concurso para uma chefia de divisão na Câmara de Loulé. Atentos, atentos...

segunda-feira, julho 28, 2008

Casas ilegais na Ria?

É claro que não estranho a notícia de um novo levantamento das casas a demolir ou a requalificar na Ria Formosa. Já aqui tinha dito, e defendido, que os sucessivas governos nunca teriam coragem de concretizar o plano de limpeza da ilegalidade, nas dunas e ilhas-barreira da costa algarvia. Há uns dois anos referi o choradinho do governador civil da altura (e hoje presidente da Região de Turismo) que não queria ver destruída a casa construída pelo seu avô, de forma ilegal. Mas leia, leia a notícia (link).

quinta-feira, julho 24, 2008

Lourenço Marques

O trabalho na Universidade não me deixa postar tanto quanto queria, ou era meu hábito. Bolonha, ali tão perto, trouxe mais tarefas e burocracia, enquanto Lisboa, vai deixando precariedade e insegurança. Enfim, à noite há sempre uns minutos para ler. Por agora na "Cabeceira"*, o romance de Francisco José Viegas, «Lourenço Marques», sobre as memórias românticas de África, uma terra que poderia não ter sido nem imperial, nem miserável.
* [No Livro de Cabeceira pode aceder a uma pequena recensão]

quarta-feira, julho 23, 2008

Treinador de bancada

EM NOME DA PRÁTICA DESPORTIVA AMADORA

Deixo, para o próximo número, a abordagem da opinião sobre as competências organizativas da Suíça, como país promotor do Euro 2008 em futebol porque, hoje, gostaria de falar de outra modalidade desportiva. Em geral, quando não falamos de futebol, lá estamos nós com a tendência para considerar as outras como modalidades amadoras, como se o termo justificasse amadorismo, sinal de mau desempenho, desobrigação, ou outra qualquer forma de desinteresse pela prática desportiva ou cultural. Falemos, então, de práticas desportivas, e por inteira justiça de práticas sociais e culturais que não beneficiam dos sacos azuis do futebol.

Estou aqui, de portátil ao colo, a assistir ao “31º Kokusai Shitoryu Koshukai-Portugal 2008”, estágio internacional de karate que a Federação Mundial de Karate Shitoryu organiza, em Portugal, todos os anos no final da época de prática da modalidade no Algarve. Melhor dizendo, nos concelhos de Loulé e Albufeira. Pouco se dá por este trabalho, quase secreto, vivido entre horas e horas semanais de treinos e práticas competitivas durante semanas a fio, e muitos fins-de-semana em pequenos torneios na região. A imprensa, apenas a local, vai dando notícia dos pergaminhos alcançados pelos atletas a nível nacional e, por vezes, no quadro internacional. A prática vive muito do espírito de dedicação de professores, alunos e pais, aliás, como todas as modalidades que vão construindo o corpus sócio-cultural das urbes e sociedades modernas, por esse mundo fora. Fácil será entender que quando se trata de futebol as coisas piam mais alto. Basta ver as capas quotidianas dos três jornais diários desportivos nacionais ou, sem qualquer prurido, perceber como o futebol também enxameia as páginas da imprensa local. Com muito desplante, diga-se.

Ao olhar para o que tenho em frente – cerca de uma centena de praticantes de karate de diversas graduações e de diversas proveniências territoriais e culturais – pode entender-se como se vão construindo as aprendizagens humanas e sociais de muitas crianças e adolescentes, no seu percurso de vida.

Há alguns anos não era assim. Lembro-me, bem, quando a prática do karate se iniciou em Portimão, terra onde nasci e vivia na altura, quando tinha cerca de 15 ou 16 anos. A modalidade foi-se instalando, como sempre, a partir do entusiasmo de um mestre recente que chega a um local e dispõe do interesse e motivação de alguns futuros discípulos. Eu ia ver muitos dos treinos porque, na altura, a prática era apenas conhecida das sessões de cinema dos grupos de jovens na “febre de sábado à noite”, nos cinemas da cidade. Sobretudo pela beleza das performances do actor sino-americano Bruce Lee e do seu celebrado kung fu. Nos treinos do novel karate, juntava-se mais gente a ver do que a praticar. Fazê-lo, nem pensar, porque o preço estava muito, mas muito longe das bolsas da classe operária da terra e, como a modalidade estava em divulgação, mais valia aproveitar os pequenos momentos de treino dos poucos atletas da altura. Quase todos eles eram jovens que já trabalhavam, em oficinas ou no pequeno comércio, depois de terem terminado o ciclo preparatório ou frequentado a escola comercial ou industrial, o que lhes permitia uns trocos para a prática da modalidade. Claro que, ao tempo, eu praticava outras modalidades, não pagas como se entenderá: o “vernacular” futebol de onze, as modalidades dos torneios quadrangulares de verão e, mais tarde, com fervor e paixão, o badmington.

Se há algo que constitui um evidente padrão de mudança na sociedade portuguesa, este é o índice de prática desportiva dos seus jovens. E não falamos da prática desportiva no sistema e período escolar – que excelentes professores sempre souberam aproveitar em tempos de ditadura – mas da prática à disposição, nos vários clubes e associações desportivas do país, a preços módicos e acessíveis a qualquer jovem. Melhores e mais equipamentos desportivos, construídos pelas autarquias com o orçamento dos contribuintes, vestuário e calçado desportivos ao alcance de qualquer bolsa média, permitiram uma expansão maciça das diversas práticas desportivas. Algo que não estava à nossa disposição, antes do 25 de Abril de 1974.

Se é claro que este movimento se enquadra nos tempos contemporâneos da defesa da saúde e da promoção de práticas desportivas hedonistas e atomistas, ele não deixa de ser representativo da democracia desportiva e da descoberta de uma cidadania mais activa. Porque a prática desportiva sempre foi um dos parâmetros para medir os índices de desenvolvimento das sociedades humanas.

(A Voz de Loulé, 15 Julho 2008)

sexta-feira, julho 04, 2008

Treinador de bancada

MULTICULTURAL, SÓ QUANDO INTERESSA

Tinha prometido, nesta crónica, abordar a tão propalada questão do “multiculturalismo” da selecção de futebol de Portugal. E fá-lo-ei, apesar de me apetecer, confesso, ablar un ratito sobre el fútbol castellano.

A questão da multiculturalidade merece umas linhas, já que parece ir conquistando, aos poucos, uma certa intelectualidade bem pensante dos jornais e da televisão. A ideia central deste princípio é que o nosso país dá excelentes exemplos de integração de pessoas de outras etnias e culturas, promovendo uma inclusão de imigrantes oriundos de países externos.

Há dias, um dos habituais comentadores de futebol da RTP Norte, Rui Moreira (conhecido como adepto do FC Porto e presidente da Associação Comercial do Porto), referia que a selecção de futebol, no Euro 2008, era um bom exemplo de multiculturalidade, pois integrava jogadores oriundos do Brasil e de outros países lusófonos.

A questão parece simples, mas não é. Parece simples porque, por estes dias, o futebol foi mostrando, no Euro, como as selecções se constroem a partir da entrega da nacionalidade a jogadores de outros países que trabalham (praticam futebol) nos seus clubes. Alemanha, Espanha, França, Portugal, Turquia, entre outros, são exemplos do que digo. Teríamos assim equipas nacionais multiculturais. Ora bem, não seriam nem uma coisa nem outra. Aliás, como sabemos, esse mecanismo é uma forma estratégica de reforçar as selecções de vários países no quadro competitivo mundial, ou de permitir a determinados jogadores ascender a selecções externas, quando nunca teriam hipóteses nas suas. Na verdade isto não parece uma coisa má. Mas então, se é assim, há que repensar o conceito de “nacional”. Por isso é que, por detrás desta aparente simplicidade, se esconde algo mais complexo.

Exemplifiquemos, de duas formas.

Primeira: a defesa da multiculturalidade só se acentua quando se fala de futebol. Pouca gente sabe mas, por exemplo, a selecção nacional de andebol feminino não pôde contar com a presença, na sua equipa, de jogadoras exímias dos clubes de bairro da periferia de Lisboa. Razões? Só porque não detinham a nacionalidade portuguesa, apesar de terem nascido em países africanos de língua oficial portuguesa ou, tendo nascido cá, não a tinham ainda obtido. Como se sabe, o futebol de Scolari, com a conivência da Federação e do governo, foi mais lesto e expedito.

Segunda: a bandeira nacional multicultural só se alvoroça quando se trata dos ícones de topo do orgulho nacional. Muitos anos de salazarismo deram nisto. O que nos leva a sustentar, que somos um povo exemplar na multiculturalidade espelhada no brilho da selecção, mas esquecendo a exclusão que fazemos, todos os dias, a pessoas imigrantes dos antigos países da Europa de Leste, do Brasil, da China, ou mais próximos de nós, ali das antigas colónias de Angola, Moçambique, Cabo Verde ou Guiné.

Não sendo de nenhuma destas nacionalidades, mas apesar de tudo oriundo de uma certa cultura africana, Francis Obikwelo é um paradigma do que acabo de dizer. Porquê? A resposta é simples. Enquanto imigrante nigeriano, Francis era apenas mais um negro a trabalhar nas obras de algumas empreitadas do Algarve. Depois, foi o que sabemos: enquanto velocista de mérito, Francis seria um digno representante da bandeira multicultural de Portugal nos Jogos Olímpicos.

Pergunta-se: então, afinal, quem é que é multicultural? Resposta: o melhor é não abrir a boca, porque pode entrar mosca ou sair asneira.

(A Voz de Loulé, 1 Julho 2008)

sábado, junho 28, 2008

Para fugir do futebol, em Loulé

A partir de terça, dia 1 de Julho, a Fundação Manuel Viegas Guerreiro vai organizar um curso livre de História Contemporânea denominado “O Algarve no contexto da 1.ª República”.
Esta iniciativa pretende contribuir para um conhecimento mais aprofundado e abrangente do agitado período da 1.ª República no Algarve, traçando um retrato de época ao nível dos quadrantes social, económico, político, mental e cultural, isto na senda da política de (in)formação e difusão de conteúdos relativos à história contemporânea algarvia que a Fundação tem vindo a seguir nos últimos anos.
São treze sessões temáticas, durante o mês de Julho, entre as 18.30 e as 20.30 horas, na sala de leitura do novo Arquivo Municipal de Loulé.
Dia 1 destaco a conferência do historiador Rui Ramos (cronista do Público) sobre "A República e o seu tempo". A não perder. Os interessados podem inscrever-se neste curso através dos números de telefone 289422607 ou 916990465.

Scolari

O homem que tinha vindo unir a pátria da futebolândia é, agora, o escarrador público da arenga nacional (link para fuga ao fisco). Há muito que nós explicámos. Há muito mais tempo que não somos entendidos.

quinta-feira, junho 26, 2008

Final

Confesso que uma final Alemanha-Espanha agrada-me. Quer ganhe uma ou outra equipa provar-se-á que a patridiotice*, enquanto nacionalismo saloio criado por Scolari em Portugal, não vinga em países desenvolvidos e modernos. A selecção de futebol do país vai pagar, por muitos e bons anos, este populismo castrista/caravaggiano.

[* termo devido a Vale de Almeida]

quinta-feira, junho 19, 2008

Patridiotas

Ah sim, "eu estou tranquilo, mais do que tranquilo". A patridiotice acabou na altura certa e agora só falta retirar as bandeirinhas da 1ª república das janelinhas coitadinhas. Scolari deu o pum do Ipiranga e eu agradeço, pois já não tenho que aturar as idiotices dos patriotas da bola. Agora a sério: a equipa da Alemanha fez a síntese hegeliana. Não percebem? Vão estudar!

quarta-feira, junho 18, 2008

Treinador de bancada

RESTRIÇÕES À JUSTIÇA DESPORTIVA

Bom, deixarei para a próxima crónica a propalada questão do “multiculturalismo” da selecção de futebol de Portugal, que parece aproximar uma certa intelectualidade das manifestações nacionalistas do velho império. Por agora, abordarei as demarches da justiça desportiva, que têm sido mais actividade desportiva de juízes do que justiça sobre o desporto.

Já se torna claro que os tempos dos comportamentos trogloditas de dirigentes nos estádios, das ameaças de grunhos do norte contra o sul e vice-versa – que a comunicação expandiu e ampliou –, deixaram de fazer qualquer sentido. Tirando os apaniguados do costume, já ninguém lhes liga. Os tempos são outros e o fair-play não serve só para ostentar nas camisolas. A luta pelo poder trava-se agora noutros campos.

Tudo indica que o FC Porto vai ser impedido de disputar a Liga dos Campeões, pelo facto de estar a ser investigado num processo sobre corrupção desportiva. O facto de ser tricampeão em Portugal não conta para nada, nem deve servir para recurso. Até porque o processo discorre exactamente sobre esses períodos. Por isso, tudo indica que a UEFA não vai voltar atrás com a primeira decisão. Quando esta crónica for lida, já terá reunido a Comissão de Apelação da organização do futebol europeu e já se saberá a deliberação final. Eu aposto no impedimento. Entretanto, se isto se confirmar, o SL Benfica é um dos clubes beneficiados. Tento não usar o meu subconsciente clubístico: o Benfica não deveria necessitar de aproveitar este mecanismo tribunalício para integrar as provas europeias. Foi um mau clube esta época, mas a justiça tem destas coisas; em todas as matérias. Agora dizer (como faz Miguel Sousa Tavares), que o Benfica faz pressão na UEFA a favor de uma decisão favorável, é confundir os leitores. Se a justiça desportiva precisa de provas, as afirmações que se fazem, também.

Apontando, agora, a agulha para outros territórios do desporto e da justiça. A RP da China aprovou um pacote de 57 restrições ao aficionado dos Jogos Olímpicos de Pequim. Como sabem, até a liberdade tem limitações. Foi o que a Revolução Francesa nos legou. O New York Times dá a história toda. Querem conhecer algumas dessas restrições? Aqui vão: i) a concessão de vistos a visitantes será controlada nome a nome; ii) todo o activismo, em nome dos direitos humanos, será punido; esperemos que não a esmagamento de canhão; iii) portadores de doenças sexualmente transmissíveis ou do foro psíquico não terão entrada; por isso veja lá bem; iv) imagens e textos atentatórios da política, economia, ou moral chinesas serão proibidos; de acordo com a cartilha chinesa, claro. A lista é grande e ficaremos por aqui. Provavelmente ela aumentará à medida que os Jogos se aproximam. Como o respeitinho é muito bonito, o Comité Olímpico Internacional nada diz. Ora, ora, quem cala consente.

A China, mais uma vez, mostra que tem o poder discriminatório de impor limitações à liberdade, até agora inauditas noutro qualquer país organizador. Até Hitler foi mais estúpido. Ainda longe do carácter assassino dos anos da guerra, deixou que em 1936, em Berlim, o velocista Jesse Owen lhe mandasse à cara o que significava esse conceito de “raça ariana”. A China é mais polida. Publica, antecipadamente, restrições ao contágio da causa da democracia capitalista de pés de aço, que norteia a sua gestão nos últimos tempos. Uma nova revolução cultural, talvez seja o que nos espera.

(A Voz de Loulé, 15 Junho 2008)

sexta-feira, junho 13, 2008

Restrições nos Jogos Olímpicos

A RP da China aprovou um pacote de 57 restrições ao aficionado dos Jogos Olímpicos de Pequim. Como sabem, até a liberdade tem limitações. Foi o que a Revolução Francesa nos legou. O New York Times dá a história toda. Querem conhecer algumas dessas restrições? Aqui vão: i) a concessão de vistos a visitantes será controlada nome a nome; ii) todo o activismo, em nome dos direitos humanos, será punido; esperemos que não a esmagamento de canhão; iii) portadores de doenças sexualmente transmissíveis ou do foro psíquico não terão entrada; por isso veja lá bem; iv) imagens e textos atentatórios da política, economia, ou moral chinesas serão proibidos; de acordo com a cartilha chinesa, claro. A lista é grande e ficaremos por aqui. Provavelmente ela aumentará à medida que os Jogos se aproximam. Como o respeitinho é muito bonito, o Comité Olímpico Internacional nada diz. Ora, ora, quem cala consente.

quarta-feira, junho 11, 2008

Justiça desportiva

Tudo indica que o FC Porto vai ser impedido de disputar a Liga dos Campeões, pelo facto de estar a ser investigado num processo sobre corrupção desportiva. O facto de ser tricampeão em Portugal não conta para nada, nem deve servir para recurso. Até porque o processo discorre exactamente sobre esses períodos. Por isso, tudo indica que a UEFA não vai voltar atrás com a primeira decisão. Entretanto, se isto se confirmar, o SL Benfica é um dos clubes beneficiados. Tento não usar o meu subconsciente clubístico: o Benfica não deveria necessitar de aproveitar este mecanismo tribunalício para integrar as provas europeias. Foi um mau clube esta época, mas a justiça tem destas coisas; em todas as matérias. Agora dizer (como faz Miguel Sousa Tavares), que o Benfica faz pressão na UEFA a favor de uma decisão favorável, é confundir os leitores. Se a justiça desportiva precisa de provas, as afirmações que se fazem, também.

quarta-feira, junho 04, 2008

Em espera...

Amanhã (ou depois) escreverei sobre dois assuntos próximos do que recentemente abordei na minha coluna Treinador de Bancada, em A Voz de Loulé: a deliberação da UEFA que retira o FC Porto da Liga dos Campeões e as 57 restrições da RP da China aos visitantes dos Jogos Olímpicos de Pequim. Material que pega fogo.

terça-feira, junho 03, 2008

Treinador de Bancada


Apitemos, então!

Não, não me esqueci do Apito Final. Só que a selecção de futebol tem ocupado tanto os nossos olhos e ouvidos que ninguém tem paciência para nos ler. Eu próprio vou confirmando o papel manipulador dos media, na sua profusão de futebolândia em todos os meios: rádios, jornais, televisão, web. No meu bairro, já começaram a aparecer as bandeiras, com timidez é certo, até porque este ano o que está a dar é ser sócio da selecção, uma invenção mais consonante com a desgraçada classe média que temos e ao nível do programa da Liga dos Últimos, um momento de culto do futebol nacional.

Entretanto, alguém vai ter que ir tocando o país para a frente. De vez em quando uma noticiazinha, lá no fim do jornal da noite, ou nas páginas a preto e banco dos jornais desportivos, vai informando o povo do processo do Apito Final. Sabemos que Pinto da Costa já não manda penhorar a casa de banho do estádio do dragão, que Valentim Loureiro já não manda passear a procuradora Maria José Morgado, que Pimenta Machado e João Loureiro estão fora das direcções dos clubes que dirigiram a seu bel-prazer. De Avelino Torres não vale a pena falar, de tão rasteira que a coisa é.

Quando escrevi aqui, na minha antiga coluna, em 15 de Março de 2004 (em plena euforia da 1ª futebolândia nacional) sobre as ligações entre futebol, construção civil e branqueamento de capitais, caiu o Carmo e a Trindade. Melhor, caiu o Largo de S. Francisco e o pórtico da Graça. Mas eu recordo, agora que parece que o povinho do futebol já aprendeu alguma coisa:

(…) O dirigismo no futebol é tirocínio obrigatório para quem quer ascender a cargos políticos de referência. Em qualquer currículo que se preste a provas eleitorais, lá vai a referência à gestão da direcção do clube da aldeola, ou à prática desta ou daquela actividade amadora. Em tempos, era raro o presidente de Câmara que não tivesse lugar cativo na presidência de uma qualquer assembleia-geral de um qualquer clube. Do anonimato para a associação, desta para o clube de futebol da terra, e deste para o cargo político, este era o caminho certo para o poder (…)
A sociologia há muito tempo que estuda o assunto. E é por isso que se pode ler o futuro. A corrupção no futebol é algo evidente que, mais tarde ou mais cedo, se vai provando aos poucos, e a tendência é que desça dos grandes para os pequenos. E sabem porquê? Não? Eu digo-vos: é que o caminho da futebolândia constrói-se a partir de uma rede de favores e benevolências minúsculas e invisíveis, que estruturam a fidelidade de apaniguados, empregados, funcionários e autoridades. Só assim é possível, a quem detém o poder, mobilizar em sua defesa todos aqueles que dependem dessa rede diáfana da solidariedade corrupta. Para contrariar esta rede, é só alguém meter um pauzinho na engrenagem e já está.

Ora, o que é interessante nos dias que correm é a premente necessidade de identificação com os clubes, em particular com o futebol, que muita gente vai assumindo. Esse proselitismo saloio tem várias funções: o futebol é a sua pátria e ao seu serviço até vão combater na guerra do Iraque; eles são os únicos patriotas, erguem todas as bandeiras contra o inimigo, sobretudo quando os detractores estão nos blogues e nas colunas de jornal; eles formaram-se nas escolas dos clubes e o seu bilhete de identidade dá-lhes o direito de maltratar os adversários.

Talvez se possa aconselhar algum remédio a esta gente. Quando forem à bola, quer seja na caravela em seco, vulgo pomposo estádio do Algarve, quer seja no pelado do treino do filho, levem um livrinho e leiam algumas páginas. Aconselho dois: Contra o Fanatismo, de Amos Oz e El Fútbol a Sol y Sombra, de Eduardo Galeano. Perguntam-me do que falam os livros? É melhor lerem, verão que assim perceberão melhor o futebol e claro, a cidadania…

A Voz de Loulé, 1 de Junho 2008

sexta-feira, maio 30, 2008

Teatro Análise de Loulé

Parece que foi ontem. Em 1983 integrava, com alguns amigos e outros menos conhecidos, uma Oficina de Formação Teatral com os actores do Teatro Laboratório de Faro, Luís Aguilar, Isabel Pereira e José Louro. Por motivos pessoais e profissionais não terminei a formação, mas vim a assistir à produção colectiva Cena Vazia que o curso apresentou em Faro, no velho edifício dos Correios. Nesse ano ainda, a partir de um grupo de jovens formandos de Loulé, nasce o TAL, Teatro Análise da Casa da Cultura de Loulé. O grupo faz agora 25 anos, tanto tempo já. Parabéns à Manuela, ao Teiga, ao Quim Mealha e ao Clareza... O Canal do Sul edita uma reportagem vídeo sobre o aniversário. Depois de aceder ao site, clicar no vídeo "Os 25 anos do TAL" (link).

Música de Tradição Oral

Abri mais uma secção no sidebar do blogue, intitulada Música de Tradição Oral. A ideia é disponibilizar, graciosamente, a audição de temas da música tradicional de transmissão oral, por mim recolhidas, permitindo o usufruto do melómano e/ou a investigação da temática, a partir do descarregamento na plataforma onde estão alojadas. Há alguns meses, tinha já carregado dois temas do álbum «Velhos da Torre e Amigos», e um tema do álbum «Outras Músicas», editados pela Câmara Municipal de Loulé, sob a minha coordenação. Só agora foi possível indicá-los ali ao lado, a partir do tema "Marcadinha", de Analide Santos, exímio tocador de harmónica e castanholas de Alte, infelizmente já falecido. Assim, esta novidade é também uma homenagem da minha parte. Em breve carregarei, na plataforma, mais espécimes musicais.

Os patriotismos do Euro

A crónica, que publicarei na minha coluna Treinador de Bancada em A Voz de Loulé, do próximo dia 1 de Junho, tem muito de similitude com isto:
O Público de segunda-feira trazia uma interessante reportagem que juntava especialistas em futebol, como Humberto Coelho ou Bruno Prata, e completos leigos que pouco ou nada sabem sobre bola, como José Diogo Quintela ou Artur Jorge. Afinal de contas, já só faltam 23 dias para o jogo de abertura. Não temos muitos dias para iniciar a nossa preparação, enquanto adeptos. Em meados de Junho, teremos de estar com os níveis de patriotismo no ponto certo para apoiar os jogadores da selecção nacional e suportar com denodo a desilusão que eles vão proporcionar-nos desta vez. Todo o tempo é pouco. Ler +

quarta-feira, maio 28, 2008

Tyto Alba

Em pleno Alentejo, uma Coruja das Torres voava, cansada e ofuscada, em plena tarde de sol. Capturei-a, apenas para que a minha esposa pudesse registar a sua beleza, emprestada naquele dia. Depois, soltei-a para a noite que se aproximava.
Mais foto (link)>

terça-feira, maio 27, 2008

Pollack

Habituei-me a gostar dos filmes de Sidney Pollack, não tanto pela realização (e de muitos recordo África Minha ou Tootsie, que quase toda a gente viu), mas sobretudo pela capacidade de ele se colocar dentro do filme, para lá do interior da câmara de filmar. Essa competência em se expor, fez dele um outro Hitchcock, não tanto pelo humor do personagem, mas mais pela afectividade com os outros personagens.

sexta-feira, maio 23, 2008

Guantánamo

O governo continua a meter a cabeça na areia. E ainda por cima se arma em avestruz arrogante. Desde há cerca de um ano que recusa confirmar os voos da CIA no espaço aéreo português, sobretudo os que tiveram origem e destino na prisão americana de Guantánamo. Hoje, finalmente, confirmou a passagem de 56 voos entre Julho de 2005 e Dezembro de 2007. Desses, 55 eram militares. Daqui a um ano confirmará que nesses aviões viajaram prisioneiros muçulmanos acusados de terrorismo pelos EUA.

quarta-feira, maio 21, 2008

Memória de José Vieira

O último Laboratório da Memória, iniciativa da Divisão de Cultura e História Local da Câmara de Loulé (CML), foi dedicado a José Cavaco Vieira. Este altense é sobejamente conhecido e, por isso, a conversa à volta da biografia e significado social desta personalidade assentou mais numa leitura sócio-antropológica do que na narração de datas e acontecimentos significativos da sua vida. O problema é que a sua cronologia de 98 anos foi tão preenchida que não se pode interpretar a personalidade sem perceber a sua circunstância, como defendia Ortega y Gasset. No encontro, tive a oportunidade de alinhavar algumas ideias que me parecem chave para perceber José Vieira, e o seu papel na história de Alte e do Algarve. A propósito, recordo algumas palvaras que escrevi, como coordenador da edição, na introdução à obra «Conversando a Vida Toda», lançada no âmbito das comemorações do centenário de Vieira, em 2003, e que a CML distribuiu graciosamente no encontro:

José Cavaco Vieira nasceu em Alte, em 1903 e morreu na mesma aldeia, no ano de 2002. Faria 100 anos no dia 23 de Novembro do corrente ano.
A propósito das comemorações do centenário do nascimento de José Cavaco Vieira, ilustre cidadão altense, ocorreu-me pensar no, também ilustre, poeta que abriu caminho àqueles que por obras valorosas se foram da lei da morte libertando. Talvez porque Vieira tenha percorrido todo o século XX, vivendo diversos contextos sociais e políticos, sempre, mas sempre, com um valor intrínseco e elevado: fazer o bem! A sua vida pautou-se por uma multifacetada diversidade histórica, equilibrando diversas dimensões humanas: por um lado uma dimensão humanista; por outro lado uma dimensão comunitária; ainda uma dimensão artística ecléctica; e finalmente, uma dimensão ecológica e histórica.