quarta-feira, outubro 28, 2020

A esquerda e o orçamento


Dá pena ver o PCP questionar, de forma submissa, o PM sobre se o PS irá convergir com o partido ou com a direita. Claro que Costa responde como o patrão que sabe que deve começar por elogiar o súbdito, para o manter ao serviço na discussão da especialidade do orçamento para 2021. Este caminho do PCP não irá trazer bom futuro. O Bloco não poderia ter outra posição e Pedro Filipe Soares fez bem, ao explicar que há diferenças ideológicas do lado do voto contra, assumindo-o como a alternativa de uma esquerda que não está disposta a fazer joguinhos. Por isso não entendo Paulo Pedroso quando pensa que a estratégia do BE (que chama de auto-marginalização) evitaria a aprovação do OE na generalidade:

«O Bloco entendeu não entender esse exercício e auto-marginalizou-se de contribuir para ele ao tentar bloquear, num golpe de tesoura de aliança à direita, que o OE sequer visse a especialidade».

 

terça-feira, outubro 27, 2020

Alexandre O'Neill - um site pra ir e voltar


Foi o Pedro Mexia que me chamou a atenção para o novel site da Biblioteca Nacional de Portugal, sobre a vida e a obra de Alexandre O’ Neill. O poeta surrealista é um dos meus preferidos, uma linguagem cheia de humor e da verve irlandesa («Ó Portugal, se fosses só três silabas…»).

Em 1980, no Concurso A Prata da Casa, tive a oportunidade de, na segunda jornada, em competição com a equipa da Guarda, representar o poeta no sketch que a equipa de Faro apresentou. O texto (que ainda tenho guardado, mas que agora não o vou verificar) era uma adaptação de uma peça que o Zé Louro tinha encenado, e que a nossa equipa concebeu de modo a que os membros do júri do concurso fossem os personagens principais. Lembro-me de estar deitado no chão do palco do Teatro Villaret em Lisboa, com uns óculos de massa característicos de O’ Neill, debitando uma melopeia sobre o declínio da poesia. Não recordo a pontuação da prova mas sei que, depois de ganharmos a Évora, perdemos contra a equipa da Guarda. A RTP destruiu os arquivos do concurso e só algumas  filmagens da altura poderão ser testemunhas destes tempos.

(Deixo no sidebar o desenho de André Carrilho que permite o acesso ao site do Caixa Dòclos)

Os Verde abstêm-se na votação geral do OE 2021

 

Os Verdes, querendo mostrar a sua autonomia relativamente ao PCP, anunciaram a sua posição sobre a votação do OE 2021 para hoje, como se alguém acreditasse que iriam fazer algo diferente daquilo que os seus donos já haviam determinado. O argumento para definirem a abstenção é a de que o PS abriu-se todo às propostas daqueles sobre proteção da natureza. Que propostas? Que importância têm essas medidas no contexto de agravamento da crise económica e social? Os Verdes são mesmo pálidos!

segunda-feira, outubro 26, 2020

Resultados das eleições regionais nos Açores

As eleições regionais dos Açores confirmam o sentido das sondagens e das percecões políticas mais recentes. O parlamento regional abre-se a mandatos de novas forças, tal como no continente, e a extrema-direita do C. entra na assembleia regional. A derrota clara não foi para o PS – que perdeu a maioria absoluta mas mantém a relativa – mas para a CDU, que perde o único deputado de que dispunha. Tal como no continente – fenómeno visível sobretudo no Alentejo interior – foi o Chega que beneficiou da transferência de votos do PCP. E isto não surpreende, pela marca ideológica do nacionalismo dito ‘patriótico’ do PCP, que se assemelha, na representação popular, às posições extremadas da direita.

 

Bloco de Esquerda vota contra orçamento...


O orçamento de estado para 2021 deverá passar na AR e posteriormente ser discutido na especialidade. Essa foi a lógica disfarçada do PCP para anunciar a sua abstenção, dando uma no cravo e outra na ferradura. Mascarado de coerência – que muito gente mesmo à direita elogia – este voto é a prova de que o PC não tem caminho para andar, que evite cada vez mais a sua desagregação. Entretanto Os Verdes só amanhã anunciam o seu sentido de voto (grande surpresa?!). Ao Bloco não restava outra posição que não o voto contra. Razões? Elas explicam-se por muitas medidas: continuar a despejar o nosso dinheiro no Fundo de Resolução do Novo Banco; deixar na linha de pobreza a parte mais desfavorecida da nossa população; desperdiçar as propostas de reforço do SNS; e continuar a manter as medidas de austeridade da troika na legislação laboral. Não é pouca coisa.