quarta-feira, setembro 30, 2020

Rua do Peixe Frito, novo álbum dos «Mare Nostrum»

Dei com a música, por acaso, na rubrica Cantos da Casa, no EsquerdaNet. Há tempo que não ouvia aquelas melopeias de fusão entre os melismas árabes e as danças celtas, que nos ficaram pelos Algarves. Os Mare Nostrum (alguns deles amigos de longa data, com quem partilhei música e amizade, por exemplo no grupo de música tradicional Borda D'Água, e mais tarde como 'manager' da banda Entre Aspas) fazem sempre temas cuidados e respeitadores da cultura musical popular.

Ver e ouvir aqui.

Ensino superior: as causas de tanta euforia

Anda muita gente a chamar a si os louros dos recordes de entrada no ensino superior universitário e politécnico. Docentes e instituições perfilam-se em explicações sobre tanto interesse. Mas convém ver, en passant, outras razões:

i) A crise económica e social, agravada pela pandemia, que não deixa grande expetativa aos jovens que terminaram o secundário, empurra-os inevitavelmente para os bancos do ensino superior, a adiar a sua entrada nalgum emprego precário;

ii) A abertura, pela primeira vez - depois de muitas batalhas e tempos perdidos - de acesso a exames regionais especiais para os estudantes do ensino secundário profissional, resolveu um problema de grande injustiça e discriminação e alargou o universo de vagas;

iii) Finalmente, a luta dos estudantes e a  pressão da esquerda para o alargamento das bolsas de apoio a propinas e ao alojamento, bem como a descida daquelas, permitiu uma maior mobilização do interesse pelo superior.

segunda-feira, setembro 28, 2020

Herberto o do meu nome


São quase duzentas páginas de puro deleite linguístico. Uma prosa que entra pelo corpo e chega ao cérebro, como poesia depurada de sangue e de nervos, de ossos e de vaidades. «Photomaton & Vox» – editada em 1970 pela Ulisseia – voltou a encher-me a alma às noites e nos dias, na cama e na praia, onde terminei a última sílaba, pela segunda vez. A minha edição é de 2013 e da Porto Editora.

Um belo tríptico toponímico

                                               (perto do Parque Municipal de Loulé-foto do autor)

Já noutro post, mais abaixo, mostrei como a toponímia da cidade andava pelas ruas da amargura. Talvez este seja um bom nome para a avenida onde se situa a Câmara Municipal de Loulé. Eis outra placa, destruída e encostada como um objeto degradado, algo que não queremos deitar fora e encostamos ali junto do lixo, que ninguém se atreve a recolher. Afinal trata-se de um belo tríptico!

Um povo mobilizado pelas novas matrículas

 Somos um povo de mobilizados inertes. Ninguém se mobiliza mais do que nós. Não para a luta por melhores salários e pensões; menos para protestos contra o desemprego e a precariedade. Mas olhem bem, com  olhos de ver, para todos os veículos e vejam a quantidade de povo que tratou – sem qualquer obrigação legal – de mudar as chapas de matrícula para as novas configurações dos veículos novos: sem data de emissão da primeira licença. Muitos destes cagões – como se lhes pode chamar – vão ser multados nas sequentes inspeções. É o custo do povo mobilizado!

sexta-feira, setembro 25, 2020

Agrocapitalismo selvagem na costa vicentina

A Praia da Amália faz parte do magnífico conjunto de arribas de xisto e argilas do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. Há muitos anos que circulo por lá, em férias, fins de semana, e muito antes em trabalho etnográfico nos anos 1982-1984. Em agosto deste ano deparei-me com os velhos estradões de terra batida desta costa todos alcatroados, entre a Praia do Carvalhal e a Zambujeira do Mar; presumo que nos Montes da Figueira Nova e da Alcaria do Clemente (que conheço muito bem) e na ligação à estrada nacional, tudo esteja também pintado de preto. E quase que apostava que a responsabilidade das obras é das Câmaras da área, submetidas ao jogo aldrabão do capitalismo moderno das agro-indústrias dos frutos vermelhos, dos relvados e da exploração da mão de obra asiática. Para se perceber melhor o que lá está em jogo é importante ler a excelente reportagem de Elisabete Rodrigues do Sulinformação (carregar sobre a palavra sublinhada).

Na companhia de Herberto Helder

 A (serpente) vai fazendo companhia, entre outros textos de Herberto Helder, nas noites de espera. Poesia limada e depurada em prosa, gramática pura e vocabulário de abrir os olhos:

Passemos à nova fase, agora que o poema está resgatado de tantas dívidas culturais e pagou juros muito acima da legalidade. Agora o poema é um instrumento, mas não das disciplinas de cultura, é uma ferramenta para acordar as vísceras - um empurrão em todas as partes ao mesmo tempo. (Photomaton & Vox).

quarta-feira, setembro 23, 2020

Mariolas de pedra não prejudiciais


Desde há muito tempo que empilho pedras e rochas, sobretudo em praias, frequentadas por companheiros desconhecidos que contribuem com a mesma 'arte'. Estas mariolas são quase sempre efémeras, pois a maré trata de as alterar e convidar a novas construções. No caso presente são quase sempre pouco intrusivas, pois são usadas pedras soltas nas areias e deslocadas pelo mar. Diferentes, agressivas e intrusivas são as mariolas feitas na montanha e nas serras, sobretudo em áreas de caminhadas ou de desportos ao ar livre, onde servem para guiar percursos e orientações, e qualquer acrescento que se faça apenas serve para confundir e perigar os amantes destas paisagens. Para além disso, a remoção de pedras destrói os abrigos de espécies da flora e da fauna, decisivas para a manutenção e progressão destes habitats. Por isso, não se arme em artista!

(Acima imagens das mariolas da Praia do Barranco e da Praia da Amália)

15-25, programa da SIC

 Em geral, os programas que falam de conteúdos sociológicos têm a tendência para generalizar o singular do tema, metendo tudo no mesmo saco, quer seja a identidade, o género ou a geração. Aliás, sobre a temática geração conhecemos vários epítetos muito pouco sociológicos e quase sempre jornalísticos ou economicistas. Atribuída a Vicente Jorge Silva, é conhecida a designação de 'Geração Rasca' para os jovens dos anos 1990. Na mesma linha conhecemos os 'millenials', os 'yuppies', etc.

Vem isto a propósito do novo segmento da SIC intitulado «15-25», sobre a atual geração deste escalão etário, que passa às terças no Jornal da Noite. Ontem, no primeiro, houve o cuidado de mostrar que esta geração assim designada não é genérica e igualitária, mas sujeita a diferenças, desigualdades, ideias. Vale isso, perceber que a luta de classes continua, entre os jovens, entre os géneros, entre as etnias. Vamos a ver os próximos apontamentos!

terça-feira, setembro 22, 2020

Peneireiro vulgar em Sagres

Sim, é verdade que o cume aqui só apresenta um céu azul grego, o que não espanta, pois esta é a Finisterra. Mas é também o local onde um bando de peneireiros vulgares vogava ao sabor do vento norte, como a navegação à bolina de Corto Maltese. No dia anterior, pelo menos 7 casais desafiavam a forte aragem da manhã.
 

domingo, setembro 20, 2020

Portimão, Estremal e o 'comboio parado'

                                                          (publicada no jornal Barlavento)

Ao dar a habitual vista de olhos pela imprensa regional, que destaco no meu blog, dei com o título "comboio parado" no jornal de Portimão - «barlavento» - e isso trouxe-me à memória a chamada classificação do outro sobre o bairro onde nasci. O artigo de opinião de Ricardo Camacho, arquiteto (não conheço, pelo menos não me diz nada), também me cita, sobre temas do bairro que já abordei em vários locais (jornais, blog...), mas não me recordo da totalidade de referências que o autor arrola. Como é assunto do tema da minha tese de doutoramento, talvez tenha respirado alguma coisa por essa via. De qualquer modo, apesar de misturar vários assuntos e cruzar apressadamente as fontes, vale a pena ler o artigo neste link.
 

sexta-feira, setembro 18, 2020

Louis-Ferdinand Céline

Esta capa limpa não é a do meu livro; a minha está bem usada e sem películas e carregada de bagos de areia. A obra está comigo desde 2 de dezembro de 1983, quando ainda assinava com os dois nomes pegados e com maiúsculas no H e no R. Tempos de crise e de rutura, quando abandonei a ortodoxia leninista e dediquei-me a pensar como um neo-marxista. Herman Hesse, tem grandes culpas no cartório, sobretudo com as obras de autonomia do rebanho, «Siddharta» e «O Lobo das Estepes» (este, nome do blog dos meus arquivos). Mas a música tradicional e a pop portuguesa, as artes plásticas, as viagens imaginárias e a descoberta da natureza selvagem, deram alguns empurrões. Este é um livro desse tempo, comprado para exorcizar os fantasmas do anti-semitismo e da apologia do nacional-socialismo, de que Céline foi acusado e bem. Mas, para o peditório da sobreposição entre artista e arte, já dei o que tinha a dar. Viagem ao Fim da Noite foi prémio Goncourt em 1932, quando foi editado, mas Céline não se escaparia dos seus textos panfletários, «Bagattelles pour un massacre», de 1937, dois anos antes da guerra, que criou a resistência francesa e as acusações ao médico da periferia e escritor por acaso. Nas palavras do seu magnífico tradutor, que é Aníbal Fernandes, lemos, no prefácio a outra obra:

O espanto que as fortes personalidades provocam anda sempre de mistura com a surpresa indignada. Houve quem decidisse difícil de engolir tanto talento, ainda por cima chegado por caminho lateral às letras, ainda por cima a passar sobre cadáveres repentinos de escrita encartada, a deixar velha - e velha de vez - a sintaxe de bom-senso da 'boa' literatura francesa.

 

Zivkovic

Aqui, com a camisola da Sérvia, Zivkovic o carrasco do Benfica na disputa pela liga milionária com o Paok. Ele foi dispensado e, na verdade, como a vingança se serve fria, foi o autor do golo que eliminou e correu com o clube da Luz para a liga dos suplentes da Europa. Copiando a falsa modéstia da tradição, o jogador não comemorou e parece que até pediu desculpa. Quem o devia ter feito era o gabarola do Jesus, que inchou com o período do Brasil, numa equipa ganhadora num país que é uma miragem do futebol que exibia há anos.

 

quarta-feira, setembro 16, 2020

Edital da casa: Celine e Ana Gomes

Tudo muito calmo por aqui, tal como nesta manhã de agosto, muito cedo no Esteiro dos Azeites na península do Ancão. Entretanto, muitas leituras, dos clássicos da banda desenhada como «Maus», até aos clássicos imperdíveis das leituras de uma vida, como «Viagem ao Fim da Noite». Falarei deles um dia destes. Também por estes dias, comprovou-se que o medo e a arrogância dos cuidadores da pandemia afinal são ideológicos, que preferem Fátima ao Avante e que o PS apoia mesmo Marcelo contra a sua militante indesejada, Ana Gomes. Em breve escrevinharei sobre o tema. Até logo!

sexta-feira, setembro 04, 2020

MemóriaMedia, e-museu do Património Cultural Imaterial

A propósito do post abaixo, sobre o projeto da Casa da Cultura de Loulé de registo de testemunhos vídeo sobre o período dos Quinze Anos de várias gerações, gostaria de destacar aqui um dos projetos mais interessantes sobre a memória cultural do país, um verdadeiro e completo inventário do património cultural imaterial, gerido pela cooperativa Memória Imaterial e enquadrado cientificamente pelo IELT-Instituto de Estudos de Literatura e Tradição, com quem em tempos colaborei e onde em breve depositarei algum do meu acervo. Para saber + clicar na imagem em destaque no sidebar.

Desta vez, os meus quinze anos!

O projeto da Casa da Cultura de Loulé (CCL), intitulado Os Meus Quinze Anos, de que já falei aqui, pretende registar testemunhos de gerações diversas sobre os períodos decisivos das adolescências, em contextos sociais e políticos diferentes. A CCL já disponibilizou mais registos, entre os quais o meu. Podem ser vistos no site da associação.