segunda-feira, setembro 20, 2021

O Paraíso, não o de Dante Alighieri

É este plano de  água, rodeado de azinheiras, sobreiros e matagal aquático, com areão desprendido das rochas marmóreas, calcárias e argilosas, pelo roçar contínuo da água doce da ribeira de Odivelas, submetido às massas de ar ténues e frescas do noroeste, que nos abriga em tempo de descanso, quente nos dias da calma alentejana, queimando como um braseiro, mas fresco, muito fresco, nas noites mesmo de agosto, quando o céu, imune às agressões da iluminação artificial, deixa ver, muito claro, as estrelas, os planetas e as galáxias, entre as poeiras cósmicas. Talvez este seja o paraíso, ou pelo menos o mais próximo dele…


 

sexta-feira, setembro 17, 2021

As praias do meu contentamento descontente


São poucas as praias, nas costas sul e ocidental, que desconheço. Sei que há muita gente que também o diz. Em tempos, fui divulgando aos amigos ocasionais os locais mais recônditos, em que as areias quase desertas e o mar limpo nos esperavam, acolhedores. Um dos exemplos é a praia da Amália, junto da casa que comprou no Brejão, na freguesia de São Teotónio/Odemira. Em agosto de 2017 ainda se contavam numa mão, os presentes nas suas areias; três anos depois, no mesmo mês, mesmo cedo, era quase impossível encontrar uma nesga de areia disponível. Claro que a moda e os media tratam do assunto, e permitem a liberdade de conhecer recantos da natureza ainda quase intocáveis, mas o seu efeito é naturalmente a pressão que degrada e polui areias, caminhos, aldeias e o mar, já farto de plástico e de petróleo. Conheço as duas praias menos acessíveis na costa ocidental, onde nem todos se aventuram e, por isso, poderão ser por enquanto o meu refúgio de egoísmo. Uma delas é esta!

quarta-feira, setembro 15, 2021

As premonições de Eça de Queirós, em «O Crime do Padre Amaro»

Nas memórias da minha leitura, presente, da obra realista de Eça de Queirós «O Crime do Padre Amaro» - de que darei nota em post posterior quando acabar a sua leitura -, queria referir duas premonições que me parecem interessantes: a primeira, aquando de uma conversa entre o similar do governador do distrito de Leiria e um dos padres da panelinha eclesiástica, quando um deles se refere à necessidade de  instalação de um fenómeno semelhante ao de Lourdes, em França, como via para o desenvolvimento económico das terras de Leiria. Recorda-se que Fátima, fenómeno para-religioso criado em 1917, é mesmo ali perto, sendo que a diocese atual engloba o eixo Leiria-Fátima; a segunda, bem mais prosaica, mostra como a exibição do cravo ao peito, nas lapelas dos casacos masculinos em dia de missa grande, já era hábito das lusas comunidades. Ou terá sido inventada por Eça?

 

terça-feira, setembro 14, 2021

Contra as culturas intensivas no Alentejo

Já por aqui falamos do mar de plástico que invadiu a costa vicentina, padrão da exploração de solos, água e trabalho quase escravo, sobretudo de mão de obra imigrante. A resistência vai-se fazendo, através da denúncia da esquerda, das associações ambientalistas locais e das comunidades. Agora, é da Alemanha que vem a primeira campanha internacional contra as culturas intensivas no Alentejo, como dá conta o esquerda.net

está em marcha na Alemanha uma campanha contra as culturas superintensivas no Alentejo e no Algarve. Foi lançado um manifesto, ilustrado por Joana Mink, que circula nas redes sociais alemãs e está a ser distribuído no Centro do Livro de Língua Portuguesa de Frankfurt.

segunda-feira, setembro 13, 2021

Sobreiros, azinheiras e oliveiras

No Alentejo, ele tem sido o rei dos solos; com a azinheira, constitui o mapa da cultura e da economia do sul do país, desde há alguns séculos. Por agora, como em tudo, a sua presença e o seu papel na natureza e no ambiente está a mudar, dando lugar ao plantio de oliveiras em regime intensivo. À volta deste sobreiro centenário, preservado pela visão e economia ambientalista de uns amigos, quase já não é possível circular a pé, de bicicleta e de cavalo, pelo meio de sobreiros e azinheiras, tal a dimensão verde dos olivais, criadas em regime intensivo e ocupando elevadas extensões de terra.


 

domingo, setembro 12, 2021

A estética da natureza

A natureza imita a arte, dizia um amigo meu, aquando da publicação de uma fotografia sobre a planície de Monsaraz, há alguns anos. Na verdade, sabemos como os naturalistas ou os impressionistas, copiaram a natureza e a sua estética humanizada. Muitos pintores, mais do que os fotógrafos, podem colocar na tela apenas o que lhes interessa, deixando de lado o que acham parasitário e opressor. Aqui, nesta imagem, antes de os meus pés alterarem a massa e o desenho da areia da duna, criada pelo vento de sueste, é possível ver a linha longitudinal a 45º da linha de mar. Uma beleza da natureza, que alterei de imediato.