quinta-feira, março 31, 2022

Democracia funciona no Parlamento

Ventura afirmou, há minutos, que o parlamento aprisionou a democracia ao chumbar a dupla eleição dos seus candidatos a vice-presidentes da Assembleia da República. Mas quem defendia o fascismo contra a democracia era o seu ex- militante do MDLP, movimento da extrema direita do pós Abril de 1974. Lembro-me bem desses tempos, de consolidação da democracia, que as votações de hoje mostram que os deputados e deputadas que elegemos, exerceram o seu dever democrático.

sexta-feira, março 25, 2022

O sorriso Golgate da ministra Ana Mendes Godinho

A ministra Ana Mendes Godinho tem o direito a sorrir ‘Golgate’, para a fotografia em pose de viagem rumo à Polónia e à Roménia, com a oferta de empregos para os refugiados. É justo e compreende-se o exagero hiperbólico daqueles sorrisos de jovens em viagem de férias. Mas a ministra, agora reconduzida no mesmo cargo, não sorrirá tanto, quando tiver que lançar verdadeiras ofertas de emprego para os milhares de desempregados em Portugal. Apesar das estatísticas estarem abaixo dos dois dígitos, 25% desses desempregados são jovens qualificados à procura do primeiro emprego, decente e não precário. E o Algarve é uma das piores regiões nesses números. A ministra e o governo deveriam rir menos!

(na imagem recorte da Visão de 17.3.22, p.19 > clicar na imagem para ler)

O sismo dos chineses

Ouvida pela tv, a senhora habitante de Velas, ilha de S. Jorge nos Açores - agora sujeita a um sistema sismico provavelmente imparável - não tem problema nenhum em justificar a sua módica bagagem de partida: "Só levo esta malinha. Para onde vou há os chineses...".

quarta-feira, março 23, 2022

As traições de Philip Roth

O ‘homem’ é acusado de misoginia, vaidade, anti-semitismo e muitos epítetos mais. Entre a espada da crítica e a parede do Nobel que nunca ganhou (pelo menos em vida) Philip Roth é um escritor amaldiçoado, e querido por uma elite de leitores. Talvez eu esteja neste grupo, pois a heterodoxia política e cultural sempre me obrigou a ações e leituras menos evidentes ou esperadas. O romance «Deception» de 1990, editado no ano seguinte pela Bertrand em português com o título «Traições», estava escondido na minha estante, comprado em 26 de julho de 2007 na FNAC à espera de tempo e paciência para ser lido. A construção dos diálogos é exímia e prende o leitor de imediato, levando-o rapidamente para o final, sem preocupações que não seja a de contar uma boa história de amor, mesmo que invulgar, entre dois amantes que dissecam as suas e as vidas dos outros. Se toda a ficção é autobiografia, Roth é o padrão que orienta, ou por via dos nomes judeus das personagens (ele que também o era), ou pelas frases retumbantes que só dão razão ao que se disse lá acima. Como nos casos do adultério, que só pode ter um dos elementos a queixar-se de dissabores, senão não haveria tempo para viver a história (p. 44). Ou o que diz a Lolita amante que ia para a cama com ele: “imagine, eu só tinha vinte e um anos” (p. 52). O homem afinal sabia do que escrevia!


 

terça-feira, março 22, 2022

Gastão Cruz

No domingo, 20, morreu Gastão Cruz, poeta de Faro da geração da Poesia61. É um dos mais destacados poetas nacionais e do Algarve, companheiro de Ramos Rosa, Casimiro de Brito e Luiza Neto Jorge. Poeta multipremiado, também se dedicou ao teatro. Em memória de um poeta, que influenciou alguns dos meus escritos, deixo ‘Velha Imagem’, do seu livro «Repercussão» (Assírio & Alvim, 2004):

Peso do céu que nunca dirá nada

como um golfo de morte um poço

em que não entra o balde que na casa

cortava outrora a escuridão da água

 

quinta-feira, março 17, 2022

A grande Casa Grande de Romarigães

«O vento, que é um pincha-no-crivo devasso e curioso, penetrou na camarata, bufou, deu um abanão». Este - juntamente com o início do romance de George Orwell, «1984» - é um dos mais interessantes princípios do verbo. O romance de Aquilino Ribeiro «A Casa Grande de Romarigães» (1957), editado pela Bertrand em 1980 (5ª edição), é um naco da história da aristocracia quase liberal de setecentos e oitocentos, sobre o poder das famílias rurais e a destruição dos patrimónios herdados e roubados nas terras do norte. Para quem não está habituado à linguagem culta, barroca e modernizadora de Aquilino, sirva-se de um dicionário de português, ali ao lado da mesa ou da cabeceira, para aprender geologia, botânica, direito e um pouco de história.

terça-feira, março 15, 2022

Guerra na Ucrânia: media, manipulação e ignorância

Nos últimos dias, não é o massacre da invasão da Ucrânia que me encanita. Os media (ditos mídia, à brasileira) elegeram o tema para as 24 horas do dia e deram-lhe um nome pomposo e aldrabão: «Guerra na Europa». Talvez se tivessem vivido noutro tempo, ou pelo menos estudado um pouco de história da dita Europa, fossem mais sérios e menos manipuladores. Tristeza é ver ainda jornalistas e comentadores, que nada leram de história ou política internacional, conduzindo emissões a fio, debitando asneiras, denunciando lacunas, alimentando dogmas. Felizmente há futebol, ciclismo, a RTP2 e as músicas do Mezzo na televisão. E a literatura, que está disponível em casa, nas bibliotecas e onde quisermos. Menos na comunicação social!

quarta-feira, março 02, 2022

Short Movies e Jerusalém, para além da técnica

Há tempos que queria ler algo de Gonçalo M. Tavares - em edição livro, já que o leio regularmente nas crónicas semanais na Revista do Expresso. A escolha é muita, pois o homem escreve a uma velocidade estonteante. Lembro que em tempos li uma entrevista, na qual referia que já tinha escrito quase tudo o que viria a publicar, com uma regularidade ainda mais estonteante. Em cima da pilha de livros, que os técnicos da biblioteca de Loulé deixaram no pólo da biblioteca em Alte, lá estava os «Short Movies», pequenas histórias olhadas através de uma câmara fictícia que o autor manuseia a seu bel prazer, procurando um campo de observação filosófico, sobre as pequenas coisas do dia a dia, acrescidas de uma invenção surrealista. A partir de hoje, já está sobre o armário «Jerusalém», terceiro romance da série O Reino, e obra premiada…para ler.