domingo, outubro 31, 2021

Alte e a fonte das danças do mundo

Vista do serro, quase no cume, aquele vale abre-se em tons de verde e amarelo, numa altura em que o outono dá os primeiros passos a afirmar-se, entre as águas de uma fonte que nunca secou: plátanos – a árvore preferida de Vieira -, a dar sombra ao palco das danças etnográficas do mundo.


 

quinta-feira, outubro 28, 2021

'SEM MODERAÇÃO' PASSA DO Q PARA A SIC

Vejo o programa há anos, e ontem foi o último. Debutou no canal Q, na posição 70, ideia original provavelmente de Nuno Artur Silva, criador das «Produções Fictícias», que deram tantos sucessos, hoje cooptados pelas majors dos media. O Sem Moderação, é isso mesmo: um moderador informal em cada programa, com os comentários de membros mais ou menos ativos dos principais partidos (o PCP está quase sempre excluído deste tipo de programas de debate; neste caso Daniel Oliveira, ex-PC e ex-Bloco ‘faz um duplo papel’). Para além dele, por ora estão José Eduardo Martins, Pedro Delgado Alves (que substituiu João Galamba) e Francisco Mendes da Silva. O decisivo aqui, é que a SIC acaba de comprar o formato para o seu canal de Notícias, roubando o primeiro e o último às concorrentes RTP e TVI. O Grupo SIC, depois de ter recentemente aberto mais um espaço de debate curto, às segundas e quartas (Linhas Vermelhas), mostra ao que vai, hegemonizando o debate político nas televisões. Espero, e parece que é o que vai acontecer, que após a emissão na SIC o Q possa passar também os programas. Mas quem quererá ver o serôdio, se tem o temporão?


 

Espólio da Revista Seara Nova

A Revista de crítica e pensamento humanista Seara Nova está a fazer o seu centenário. Aqui ao lado, pode aceder ao espólio digital da revista, conhecendo a sua história, os seus fundadores e ler a opinião que marcou indelevelmente a história do século XX em Portugal. É só clicar sobre a imagem da capa do seu primeiro número, de 1921.

quarta-feira, outubro 27, 2021

Rio reconhece que perde o PSD

Em declarações, à momentos na AR, Rui Rio engana-se e chama a Rangel líder da oposição, a propósito da reunião deste com o presidente da república para definir calendários eleitorais. Para além de percebermos as escolhas de Marcelo, fica entendido o subconsciente de Rio.

terça-feira, outubro 26, 2021

Ao PS interessa o chumbo do Orçamento! E a esquerda?

Diogo Martins tem toda a razão. O PS está enredado na sua velha ideologia liberal, que hoje é predominante nas suas fileiras. Daí que o interesse claro de Costa seja neste momento enterrar o arco de governação parlamentar com a esquerda. O PS pretende claramente ver chumbado o Orçamento e deixar a direita ganhar as legislativas, governar com o seu programa neoliberal e assim culpar a esquerda. A esta, pelo contrário, apenas resta intensificar as lutas organizadas, procurando aproximações partidárias entre si; o Bloco e o PCP são obrigados nos próximos tempos a caminhar juntos.

segunda-feira, outubro 25, 2021

Revista Seara Nova com 100 anos

Nunca fui grande leitor da revista «Seara Nova». Apesar de lhe reconhecer um passado de oposição ao regime do estado novo e à ditadura salazarista, e de conhecer ou ser leitor avulso de alguns dos seus autores e textos, as minhas leituras eram mais radicais, e nesse campo, as que ultrapassavam a censura, estavam o «Comércio do Funchal» - o célebre ‘CF’ - e o «Notícias da Amadora». Entre as revistas do pós-abril de 74, tive tempo de passar os olhos por muitos artigos de «O Tempo e O Modo». Ambas as revistas, a SN e o TM passaram, nos anos de 1974-1975, para as mãos do PC e do MRPP respetivamente e, por isso, naturalmente não eram leituras minhas. Mas acontece que nem todas as revistas saem a público ininterruptamente, durante 100 anos, o tempo que a «Seara Nova» está comemorando por ora. Daí a importância de olharmos para a sua história, os seus fundadores, e o seu espólio extraordinário. Sobre isto, o esquerda.net publica um dossiê muito interessante, com contributos diversos, que vale a pena conhecer. Entre os documentos destaco o documentário (em 2 episódios) de Diana Andringa, que pode ver na RTP Play, na internet, ou para quem tem plataformas distribuidoras, agora também nas aplicações das operadores de televisão.

Pandemias: qual a pior?

A CCL organizou mais um debate quinzenal das quartas feiras, desta vez sobre o tema geral ‘As Pandemias’. Na tertúlia, pude desenvolver algumas ideias de que deixo aqui uma síntese pessoal:

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A recente pandemia da SARS-Cov2, mostrou a fragilidade de respostas coesas da governação mundial ao problema. Por um lado, o facto de ter origem conhecida (ainda de forma incipiente) na potência imperial chinesa, coloca obstáculos ao conhecimento científico. Por outro lado, mostrou que na verdade não há organismos mundiais com poder para dirigir alguma resposta. Nem a OMS (Organização Mundial da Saúde), nem a ONU (Organização das Nações Unidas) mostraram ser capazes de impor soluções internacionais. Os países responderam à  crise pandémica, sem orientações e com a autonomia dos momentos, criando as maiores dissonâncias internas e de resposta regional. Esta situação acabou por criar fossos abissais entre os países ricos e os países pobres, ou entre o norte e o sul; a África e a América  Latina são dois bons exemplos do desnorte do combate, agravado pelos conflitos étnicos, pelas guerras regionais ou pelas ditaduras, mais ou menos descaradas.

E se a resposta dos cientistas, e dos laboratórios de investigação, veio mais depressa do que se supunha, foi porque as farmacêuticas e os grandes laboratórios mundiais tiveram interesse na venda de vacinas aos países com capital para a sua aquisição. Não é de estranhar que sejam os grandes bancos e fundações que estejam por detrás dos interesses da Aliança Global para as Vacinas (GAVI). Recordo que Durão Barroso é o presidente desta novel instituição de forma gratuita, mas mantém a sua choruda remuneração do Banco Goldman Sachs International, que nós conhecemos bem pelas crises financeiras que espoleta. Em Portugal, a Fundação Champallimaud é das que mais investe em ciência de resposta internacional, mas os pobres por cá, nada vislumbram desse conhecimento em saúde.

Assim, talvez seja bom desenvolver uma capacidade de reflexão crítica mais aguda, que tem estado arredada, nestes tempos de acontecimentos e comportamentos efémeros. Neste tempo de leitura, escrita e partilha de vulgaridades, dentro da bolha das redes virtuais, dominadas pelos grandes monopólios das tecnológicas digitais. O caso recente do apagão, e das denúncias da ex-diretora de segurança tecnológica do ‘facebook’ (Frances Haugen), mostram que este poder digital domina grande parte do capital económico e financeiro e hegemoniza pensamentos, reflexões e conhecimento. A manipulação dos comportamentos e, por consequência, das atitudes negacionistas, violentas e agressivas que têm vindo a crescer  nestes últimos dias (Albufeira, Vilamoura, Porto), mostram a perigosidade para os cidadãos, as comunidades e as sociedades humanas.

Perante o domínio do capitalismo global na área da saúde, e com sociedades civis cada vez mais frágeis, parece que a resposta aos problemas pandémicos, quer sejam vírus, guerras ou fome, só pode constituir-se com o reforço das respostas cidadãs, organizadas a nível local. Mas que devem estar em sintonia com outras afirmações e lutas que se desenrolam nos diversos pontos do globo, quer seja no Brasil, em Hong Kong ou nos Estados Unidos. Quer seja no combate à exploração de lítio, contra o aumento do preço dos combustíveis e energia, ou pela defesa do Serviço Nacional de Saúde.

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Entretanto, na próxima quarta (27), a associação organiza mais uma tertúlia dedicada ao tema da Cidadania. Contamos com toda a gente!