Nos inícios da década de 1980, e depois de uma fase de grande militância ativa, política, estudantil e sindical, muitos de nós procurávamos outras vias de afirmação e intervenção sociocultural. Nas esplanadas dos cafés, construíamos o reino da pesquisa, da busca individual e de pequenos coletivos, nas artes, na música, na etnografia. Esse era o espaço das almas da literatura, como dizia George Steiner.
Este desenho, que mimetiza o célebre trabalho de José de Almada Negreiros, sobre o poeta da grande heteronomia, foi feito numa dessas esplanadas, no café das Pirâmides, em Faro, talvez no ano de 1983, pela jovem estudante de arquitetura Célia Anica. Encontrei-o, claro, dentro do livro «Quadras ao Gosto Popular» de Fernando Pessoa.