O título deste post bem poderia ser «Micro ensaio sobre o ser algarvio», para fazer jus ao relambório desatado que aí vai por essas redes alegadamente sociais. António Pina, presidente da Câmara de Olhão e também da AMAL, apelou a si a presumível identidade dos algarvios, para chamar a atenção dos prevaricadores do isolamento social, no caso, num registo um pouco xenófobo. Devia ter apelado a comportamentos e a atitudes consentâneas com o registo de 'pessoas', quer algarvios ou outros quaisquer. Por que não conhecemos o que é isso de ser algarvio, como se fosse uma etiqueta colada na testa, a partir da fronteira da Serra do Caldeirão. As identidades são tão mestiças, tão volúveis e tão indeterminadas, que será muito difícil encontrar o algarvio. Como se sabe, muitos procuraram esse ser e, ou nunca o encontraram, ou então inventaram um tipo identitário que não existe, quer falemos de Torga, de António Ferro, de Teixeira Gomes ou de qualquer pateta que gosta de passar férias no Algarve, mas alimenta também uma visão xenófoba sobre o território e as pessoas que cá habitam e trabalham. Para esse peditório não dou nada!
Ora, a laranjeira que ali se mostra, que embeleza pátios e praças do Magrebe, foi trazida para o Algarve por almóadas e almorávidas na expansão comercial muçulmana. Mas delas não provamos frutos, porque não comestíveis. Preferimos as laranjas doces da China, trazidas por navegantes mercantis portugueses e genoveses desses longínquos cantões. Pois é isso que nós somos: árabes, fidalgotes nortenhos, plebe vadia do Al-Garb e do norte de África, galegos e andaluzes, judeus e moçárabes, cristãos novos e velhos. Tudo isso, apenas com um ponto em comum: por ora vivemos no Algarve!