domingo, abril 26, 2020

Memória do meu 25 de Abril de 1974

Foi uma surpresa quando a vi editada. Na pesquisa bibliográfica para o meu doutoramento encontrei o livro com testemunhos do 25 de Abril, recolhidos para a edição das memórias do PREC, no 20º aniversário da revolução, por Francisco Martins Rodrigues com o título «O Futuro Era Agora. O movimento popular do 25 de Abril» das Edições Dinossauro (1994). Na página 16, após o testemunho da operária conserveira Maria Luísa Ernesto - que seria durante 10 anos presidente do Sindicato das Conserveiras em Portimão - lá vinha a letra da canção "A Luta das Conserveiras". Eu tinha-lhe perdido o rasto, apenas ficara na memória aqueles dias de outubro/novembro de 1974, de vigilância diurna e noturna à porta das fábricas de conserva de Portimão, para não deixar os patrões retirar as conservas para as vender, como forma de obrigá-los a aumentar os míseros salários e a assinar um contrato coletivo de trabalho. Eu era estudante do Liceu de Portimão, depois de ter vindo da Escola Comercial de Silves, e em conjunto com mais colegas e camaradas, alguns já professores, cumpríamos a vigília da noite, quase sempre ao frio, aquecidos de café trazido por amigos, ou pelas violas dos companheiros do GAC- Grupo de Acção Cultural 'Vozes na Luta' - que, entre outras, cantaram a canção da greve do «Jornal do Comércio». E foi nessas muitas noites seguintes, faltando às aulas das manhãs, que eu e o Helder Gonçalves, e com a ajuda suponho de mais amigos e amigas, fomos construindo a letra da Luta das Conserveiras, com a melodia da canção Greve no Jornal do Comércio. E que cantamos, noites sem fim, nesses dias «Onde emergimos da noite e do silêncio / E livres habitamos a substância do tempo» (Obrigado Sophia).

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