sábado, junho 04, 2005

Os nomes dos homens que nos atormentam

Hoje, em Alte, ao pesquisar os arquivos da Junta de Freguesia verifiquei, mais uma vez, que o jornal «O Aldeão» não é conhecido. Na Junta apenas existe o «Folha de Alte». Portanto, sem conhecimento não há memória. Tempo, talvez, para o Arquivo Histórico da Câmara de Loulé disponibilizar, aos altenses, uma cópia dos seus primeiros jornais. Mais tarde, falando com a Dona Lourdes Madeira, directora do jornal «Ecos da Serra», respondo à sua pergunta sobre se eu conhecia «O Aldeão» e sobre se João de Deus teria estudos. Lembro que sim, que João de Deus foi seminarista em Faro, que era culto e escrevia bem, que criou à volta dele uma plêiade de jovens republicanos, escrevinhadores no jornal, entre os quais Graça Mira, mais tarde fundador da Folha. Recordo-lhe que, várias vezes, «O Aldeão» noticiou os célebres bailes do Centro Republicano, que duravam até madrugada e eram abrilhantados pelo gramofone de José Francisco da Encarnação Madeira, pai da minha interlocutora, da D. Lourdes exactamente. Perguntei-lhe porque razão João de Deus não era reconhecido em Alte, não tinha o seu nome numa rua de Alte, por exemplo, e a senhora disse-me que ele era muito crítico, falava mal de todos. Compreendo que a ausência de consensualidade não ajudou João de Deus a obter, na sua terra, a devida recompensa por ter ajudado a fundar um Centro Escolar e Republicano que foi uma verdadeira escola política e cultural da aldeia. Mais tarde, quando retorno ao arquivo da Junta, encontro o livro de inscrições de sócios do referido Centro Republicano. Entusiasmo-me, mas resolvo deixar para outro dia a pesquisa dos nomes dos sócios. A paixão nem sempre é boa conselheira. Mas outra novidade ainda me esperava. Quando volto a falar com D. Lourdes sobre Graça Mira ela diz-me que ele se suicidara, em Alte no dia 1 de Maio de 1939, “escolhendo” um dia em que a aldeia estava cheia de visitantes.