Eu sei que as coisas não mudam por artes de magia.
Eu sei que se o país não vai bem, não é de um dia para o outro que tudo fica melhor.
Mas eu sei que quando algo está mal, então alguma coisa tem que ser feita.
O que eu não consigo, por mais que me esforce, é perceber o sentido das soluções que têm sido avançadas pelos dirigentes que ingénua ou cegamente continuamos a colocar no poder.
Agora como antes, a solução parece estar na diminuição das condições sociais, na contenção dos encargos salariais…E simultaneamente pede-se que haja aumento na produtividade e reforço na competitividade face aos mercados externos, para aumento das exportações.
Estamos a meu ver perante uma enorme contradição, que só poderia “pegar” se vivêssemos como há cinquenta anos, orgulhosamente sós, com as fronteiras bem fechadas, porque de “Espanha nem bom vento, nem bom casamento”.
Não é possível pedir mais sacrifícios e simultaneamente mais empenhamento. E não é possível fazê-lo quando sabemos que recebemos mais baixos salários e que compramos géneros de primeira necessidade mais caros.
Agora não há fronteiras que nos dificultem a entrada nos supermercados, nas lojas, nas bombas de gasolina do país vizinho. E também não há contas de câmbios a fazer para nos confundir, está tudo claro, muito claro…Nem precisamos de ir longe, aqui ao lado na vizinha Andaluzia, os ordenados são superiores e em contrapartida até as casas, seja para compra ou para aluguer são na generalidade mais baratas.
Já cheguei a ouvir explicações brilhantes – “o português lá fora trabalha, mas aqui não se esforça”.
É evidente que os contextos e as motivações interferem fortemente nos resultados. Exactamente. As motivações.
Para os que ao futebol dão importância, por vezes mais do que a devida, apetece-me repetir aqui uma máxima, quase sempre verdadeira, a de que “a defesa começa no ataque”. Equipa que joga à defesa o mais certo é perder o jogo.
Os governantes deste país há muito que jogam à defesa. Em vez de estimularem a produtividade promovem a desmotivação e a retracção.
Estamos feitos. É que o problema está exactamente em quem nos dirige, alheados da vida real, das dificuldades de cada um e de todos.
Quando ouvi o Eng. Sócrates, ainda em campanha eleitoral, prometer como uma das suas grandes medidas reduzir o número de funcionários públicos, definindo que, por cada dois que saíssem só iria entrar um, fez-se luz. Tudo continuaria como antes.
É evidente que o problema não está no número de funcionários públicos, porque a seguir serão criadas empresas privadas a quem serão adjudicados os serviços e a quem pagaremos o mesmo ou mais. O problema está no que eles não fazem e deveriam fazer.
E porquê?
Porque não têm objectivos nem responsabilidades definidas, porque são penalizados pela iniciativa, porque são alvo de favoritismos pessoais e partidários, porque não são estimulados para a produtividade e para a qualidade do serviço, porque a única coisa em que lhe exigem rigor é no cumprimento do “pica o ponto”...
E porquê?
Porque os dirigentes políticos e técnicos, com honrosas excepções, não têm qualidades, nem princípios, nem eles próprios objectivos…
De tanga em tanga continuaremos, até que a classe dirigente dos organismos públicos, mas também das entidades privadas, seja objecto de uma profunda requalificação técnica mas sobretudo cultural e cívica. Só a capacitação para gerir cada serviço e cada empresa, no princípio da co-responsabilização, do estímulo à inovação e à produtividade com qualidade, pode alterar este rumo.
Se não fosse para todos dramático, o que faríamos se não rir de cada governo que passa, com medidas cada vez mais drásticas para reduzir o défice que ao invés do esforço, todos os anos aumenta?
[Joaquim Mealha Costa]
Eu sei que se o país não vai bem, não é de um dia para o outro que tudo fica melhor.
Mas eu sei que quando algo está mal, então alguma coisa tem que ser feita.
O que eu não consigo, por mais que me esforce, é perceber o sentido das soluções que têm sido avançadas pelos dirigentes que ingénua ou cegamente continuamos a colocar no poder.
Agora como antes, a solução parece estar na diminuição das condições sociais, na contenção dos encargos salariais…E simultaneamente pede-se que haja aumento na produtividade e reforço na competitividade face aos mercados externos, para aumento das exportações.
Estamos a meu ver perante uma enorme contradição, que só poderia “pegar” se vivêssemos como há cinquenta anos, orgulhosamente sós, com as fronteiras bem fechadas, porque de “Espanha nem bom vento, nem bom casamento”.
Não é possível pedir mais sacrifícios e simultaneamente mais empenhamento. E não é possível fazê-lo quando sabemos que recebemos mais baixos salários e que compramos géneros de primeira necessidade mais caros.
Agora não há fronteiras que nos dificultem a entrada nos supermercados, nas lojas, nas bombas de gasolina do país vizinho. E também não há contas de câmbios a fazer para nos confundir, está tudo claro, muito claro…Nem precisamos de ir longe, aqui ao lado na vizinha Andaluzia, os ordenados são superiores e em contrapartida até as casas, seja para compra ou para aluguer são na generalidade mais baratas.
Já cheguei a ouvir explicações brilhantes – “o português lá fora trabalha, mas aqui não se esforça”.
É evidente que os contextos e as motivações interferem fortemente nos resultados. Exactamente. As motivações.
Para os que ao futebol dão importância, por vezes mais do que a devida, apetece-me repetir aqui uma máxima, quase sempre verdadeira, a de que “a defesa começa no ataque”. Equipa que joga à defesa o mais certo é perder o jogo.
Os governantes deste país há muito que jogam à defesa. Em vez de estimularem a produtividade promovem a desmotivação e a retracção.
Estamos feitos. É que o problema está exactamente em quem nos dirige, alheados da vida real, das dificuldades de cada um e de todos.
Quando ouvi o Eng. Sócrates, ainda em campanha eleitoral, prometer como uma das suas grandes medidas reduzir o número de funcionários públicos, definindo que, por cada dois que saíssem só iria entrar um, fez-se luz. Tudo continuaria como antes.
É evidente que o problema não está no número de funcionários públicos, porque a seguir serão criadas empresas privadas a quem serão adjudicados os serviços e a quem pagaremos o mesmo ou mais. O problema está no que eles não fazem e deveriam fazer.
E porquê?
Porque não têm objectivos nem responsabilidades definidas, porque são penalizados pela iniciativa, porque são alvo de favoritismos pessoais e partidários, porque não são estimulados para a produtividade e para a qualidade do serviço, porque a única coisa em que lhe exigem rigor é no cumprimento do “pica o ponto”...
E porquê?
Porque os dirigentes políticos e técnicos, com honrosas excepções, não têm qualidades, nem princípios, nem eles próprios objectivos…
De tanga em tanga continuaremos, até que a classe dirigente dos organismos públicos, mas também das entidades privadas, seja objecto de uma profunda requalificação técnica mas sobretudo cultural e cívica. Só a capacitação para gerir cada serviço e cada empresa, no princípio da co-responsabilização, do estímulo à inovação e à produtividade com qualidade, pode alterar este rumo.
Se não fosse para todos dramático, o que faríamos se não rir de cada governo que passa, com medidas cada vez mais drásticas para reduzir o défice que ao invés do esforço, todos os anos aumenta?
[Joaquim Mealha Costa]