José Carlos Fernandes (JCF) é de Loulé. Nasceu e vive por cá. Mas o que interessa, aqui, não é o facto de ser louletano. Não é só por ser louletano que é o que é. Isso deve-o a outro facto. Exactamente por ser um dos melhores autores de banda desenhada portugueses. E coloco a nacionalidade ali, no fim da frase, para torná-lo universal, pois se dissesse autores portugueses de banda desenhada estava a reduzi-lo a um cantinho que produz já mais BD do que a que é lida em Portugal. Estaria a reduzi-lo a uma escrita nacionalista, ou regionalista, coisa que a sua BD não é nem quer. Basta ler um livro qualquer de JCF para vislumbrar isso: uma visão do mundo, fora dos limites de Vilamoura ou da serra do Caldeirão, onde perpassam Jorge Luís Borges ou Mozart, Laurie Anderson ou Coltrane, o jazz e a filosofia, a monocultura da televisão, ou a veia sanguinolenta dos homens (e das mulheres). Mas são desenhos antitéticos, em que também perpassa a paz, uma flor na mão de um puto que procura algo, um aventureiro que por acaso é marinheiro que por acaso navega em Veneza, uma banda musical que prefere tocar as superfícies do mundo em vez de outras menos arrojadas pautas musicais.