Escreve-me, de novo, o Dr. José de Sousa Uva, desta vez para me falar do Dr. Joaquim Magalhães, o professor Magalhães como todos o conhecíamos. Propõe uma homenagem ao pedagogo e homem de cultura que, vindo do Porto, lançou no Algarve as raízes de uma intensa actividade cultural que ainda hoje perdura. Mais conhecido por ter sido “o secretário do poeta Aleixo”, Joaquim Magalhães fundou o Círculo Cultural do Algarve, associação de prestígio da cidade de Faro. Com Pinheiro e Rosa, Lyster Franco e José Neves Júnior, constituiu uma plêiade de homens cultos das ciências e das letras que marcaram muitos de nós. Por agora, entre tantos momentos de convívio, lembro o dia em que em sua casa, nos anos 80, discutíamos a poesia de António Ramos Rosa. Magalhães, habituado a uma métrica precisa e aos cânones clássicos da arte de rimar, dizia-me, citando de cor algumas passagens da obra de Ramos Rosa, mais ou menos isto: «Como é que eu posso gostar disto: o dedo, o dedo na porta de madeira, a madeira do outro lado, sem o dedo dentro de si, o dedo, o dedo na porta (...)». Logo de seguida, com a sua proverbial sabedoria, acrescentava: «Bom, mas este poeta é dos nossos maiores e vai ser famoso!». Que saudades destas polémicas e destas sapiências. Só me resta concordar com a proposta.