No passado dia 12 decorreu uma manifestação contra as portagens na Via do Infante, no Algarve. Muita gente percorreu a EN 125 para mostrar ao governo que esta estrada não é uma alternativa. Os argumentos são muitos e juntam toda a gente: empresários, sindicatos, hoteleiros, comerciantes, políticos de todas as áreas. Uma espécie de consenso de uma pseudo-região independente, diferente das outras em que se pagam portagens para circular. Portanto uma região em excepção. A nota de descontentamento foi dada pelos empresários de turismo que acharam que assim os turistas não poderiam deslocar-se ao Algarve, coitados, devido ao preço das portagens. Também o comércio, os industriais de construção e todos os outros que vivem à sombra da monocultura do turismo fizeram coro. E assim a corda engrossou. E formou-se uma espécie de governo regional contra as portagens, liderado pela Junta Metropolitana do Algarve e pela Região de Turismo do Algarve. Por razões óbvias, ambos os órgãos, dirigidos por militantes e dirigentes do PSD. Evidente, também o dia escolhido, o mesmo em que o partido maioritário do governo iniciava o congresso de Barcelos. Portanto, uma espécie de pró-governo regional que reivindica poderes e lugares, contra o governo central, numa altura em que as portagens não existem e muito antes de os protestos terem cabimento, ou seja em 2005 ou 2006. Mas tem sentido ganhar apoios agora, para jogar depois. Estranho o regionalismo bacoco de outros, que mostraram a cara na moldura das declarações televisivas: Vitor Neto, antigo militante do PC, ex-secretário do turismo de Guterres e agora dirigente empresarial do NERA; a CGTP e UGT; e ainda o Bloco de Esquerda. Região, a quanto obrigas. O povo, esse não protesta. E não o faz porque não circula de carro; viaja em autocarros e comboios entre os locais de residência e de trabalho e ao fim de semana passeia, a pé, ao pé de casa. Para que se perceba o problema, as portagens na via do infante não devem ser só encaradas na perspectiva regionalista ou familista dos interesses do poder no Algarve. O argumento do turismo é para além disso submisso e oportunista. Eu direi mesmo: se pago portagens em todas as minhas deslocações, fora do Algarve, porque não pagarão aqueles que ao Algarve se deslocam? Outra questão é ainda esta: discute-se o problema da liberdade dos acessos viários e nunca o problema da redução do tráfego. Essa é a verdadeira visão do futuro. A propósito, alguém sabe que há um projecto, na gaveta, para uma ciclovia de VRSA a Sagres?