Não vale a pena censurar Woody Allen. Os seus filmes são as obras de arte que nós reconhecemos e que nos serviram para um maior conhecimento do cinema e das relações humanas. A manipulação do lobby de Mia Farrow, vista através do documentário da HBO, já foi analisada por muita gente, mas convém mais uma vez separar a obra do artista. Em «Pura Anarquia» (Gradiva, 2007), que li na altura da sua edição em português e que muito me fez rir e pensar, lá está o ‘libertino e promíscuo Allen a satisfazer os meus desejos ímpios’:
Eu ajustei-me ao estilo pessoal da criatura com um pouco mais de flexibilidade que a minha mulher, tendo mesmo tentado ajudá-la a relaxar com uma ou outra massagem nas costas, mas quando a dona da casa se apercebeu de que eu passara a usar Max Factor e levava o pequeno-almoço à cama à rãzinha, enfiou um slip cor-de-rosa nas dobras da poitrine de Veronique e espetou-lhe com a Louis Vuitton no passeio (p. 60).