Nunca tinha lido Charles Bukowski. Acusado de abjecionista e de misógino, o escritor ganhou-me como adepto leitor logo às primeiras palavras da sua obra «Pão com Fiambre». A narrativa não se quer julgar intelectual, como se fora um ensaio sobre a vida de um adolescente, aparentemente cobarde, anti-social ou violento. Escolhendo uma linguagem simples, para ser lida por todos, mas sem ser popularucha ou básica, o texto atrai pela dinâmica dos pequenos episódios da vida quotidiana: em casa ou na escola, no jogo de pares ou nas amizades efémeras, na descoberta do outro, cooperante ou conflituoso. Claro que se descobre os ritos de passagem de um adolescente, marcado pela passividade da mãe e pela violência cobarde do pai, que inevitavelmente marca o livro e a vida de Bukowski. Se o livro marca um diferendo de oposição entre duas ou três críticas que li na net, eu, como me revi naquele quotidiano de luta contra a exploração, a maledicência e a ignorância, adoto a obra como uma parábola da minha passagem por aqueles tempos de vida. Para quem não os viveu, parece-me difícil que se entenda, mesmo sendo um percurso de universalidade.