No meu trabalho como docente tive oportunidade de conhecer e conviver com algumas comunidades ciganas, nos concelhos centrais do Algarve, particularmente a do Acampamento Azul (uma interessante experiência de auto-construção de alojamento na freguesia de Quelfes em Olhão), a dos Bairros da Horta da Areia e da Avenida Cidade Hayward em Faro (experiências de bairros multiétnicos), ou dos Bairros de alojamento social em Loulé (que permitiram a habitação de ciganos vindos de locais como o Cerro de Santa Luzia, por exemplo). Fiz algumas amizades e de vez em quando ainda converso com alguns elementos destas comunidades, em especial com amigos vendedores no mercado de Loulé. Em todas estas e outras comunidades tenho antigos alunos e alunas a trabalhar, e nalguns casos a dirigir projetos e instituições, como na ACASO em Olhão, na Fundação António Silva Leal em Faro ou na Casa da Primeira Infância em Loulé.
Conhecemos a cultura cigana, as suas idiossincrasias gregárias, de coesão e de solidariedade, também de conflito e de receio do outro, resultados da perseguição que sofreu o povo Rom ou o povo Calé, ambos originários da mesma região da Índia. Do ramo minoritário Calé, saliento uma das minhas melhores alunas, voluntária dos Bombeiros de S. Brás de Alportel e que deu já a cara em defesa da sua comunidade e do seu povo. A ela tive o maior gosto em oferecer-lhe o livro Os Ciganos, de Claire Auzias, uma das melhores especialistas no povo Rom.
Por isso assisto, com
prazer e contentamento, à resistência que elementos destas comunidades estão a
desenvolver contra a xenofobia, o racismo e a intolerância
da extrema direita,
nas ruas do Alentejo e do Algarve.