sábado, julho 02, 2005

Um poema de José Carlos Barros

A «Periférica» publica, no seu último nº, cinco poemas do José Carlos Barros. O que se segue, pode ser lido online. Os outros só na edição em papel, que pode ser adquirida apenas num único ponto no Algarve: a livraria Bertrand no AlgarveShopping da Guia/Albufeira.
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As Fronteiras

Era no tempo improvável da etnografia:
vestíamos jeans e corríamos no restolho,
viravam-se nos lameiros os fenos
três dias depois de ceifados
à lâmina, vivíamos depressa
a ler o Cesariny ou a debulhar
o milho nos sobrados, espalhava-se no chão
a caminho da igreja o alecrim.
Parece que foi no séc. XIX
entre retratos como se fossem a sépia e os bilhetes
do expresso de Lisboa comprados
no Cunha a ver os concertos de jazz.
O que nos traiu não é fácil de dizer.
Agora é apenas como se um estranho caleidoscópio
misturasse a tristeza e o êxtase
do que fomos, do que quase chegámos a ser.

[José Carlos Barros, revista «Periférica», nº 13]