terça-feira, março 15, 2005

Quem alfabetiza, desenvolve

Alguém deu pelo último “Relatório PISA 2003”? Pois é. O Ministério da Educação, em Portugal, falou dele o menos possível, como era de prever. E eu que até leio jornais não vi quase nada publicado sobre o tema. Distracção minha, porque alguns jornais falaram do assunto, como vim a confirmar por pesquisa posterior na rede. Pois publicaram, mas de forma um pouco envergonhada e sempre escondida nas páginas de sociedade. O que é engraçado é que tenham sido publicações estrangeiras a chamar-me a atenção para o assunto. É melhor explicar o que é isto do PISA (Programme for International Student Assessment)? Trata-se de estudos encomendados, regularmente, pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico) sobre a performance de estudantes de quarenta países em três habilidades básicas: matemática, leitura e ciências.
Foi a revista «Veja», do Brasil, a mostrar-me os números desastrosos. Os estudantes brasileiros estavam no fim da tabela nas três áreas. Como não vi o nome de Portugal nos primeiros seis lugares resolvi procurar resultados. Mas, antes, verifiquei que a Finlândia ocupava dois primeiros e um segundo lugar. Extraordinário. Ao ler o «El País», espanhol, percebi que o jornal em vez de se preocupar muito com os desempenhos dos alunos pátrios, foi à Finlândia perceber porquê. Nada mais simples: 5,8% do PIB (Produto Interno Bruto) vai direitinho para a educação; 4.100 dólares por ano é o que é investido em cada aluno; o acesso à educação é uniforme e equitativo e o ensino é obrigatório até ao fim...da universidade, pois claro. O sistema assenta em duas bases educativas fundamentais: participação dos pais e famílias no sistema educativo e formação adequada dos professores. E no fim, o melhor dos países desenvolvidos: o ensino na Finlândia é gratuito até ao doutorado. É por isto tudo que na Finlândia, o tal país do gelo que ocupa o primeiro lugar do ranking na performance educativa mundial, a taxa de alfabetização é de 100%. Em Portugal, temos – para vergonha nossa – 10% de analfabetos, um milhão de pessoas. Posto isto, já perceberam: eu nem vou falar dos resultados de Portugal!
[texto da minha coluna publicada, hoje, em «A Voz de Loulé»]