quarta-feira, março 02, 2005

As árvores morrem de pé? II

Mas esta é uma moda que se pega, um contágio que se dissemina. Em Silves, junto das muralhas velhas do castelo, também as espécies invasoras, como os ailantos foram arrancadas e, com elas, todas as outras, espécies de valor botânico e cultural como a pimenteira. Em Loulé, talvez tenha sido o edifício que vai albergar o novo Arquivo Histórico que se sobrepôs à presença das árvores. Talvez. Talvez se pense que o nosso olhar bebe melhor a limpidez vazia da paisagem, a casa no deserto sombrio. Mas não. A cal da parede esmorece ao sol; ninguém se abrigará da chuva na rua frente às casas; os ruídos dos carros nunca serão quebrados pelo chilreio dos pardais; ninguém verá mais, gatos e cães dormitando na rua. A Rua Sacadura Cabral ficará limpa, mas vazia de paisagem. Como um pulmão jovem, mas doente, porque lhe falta o oxigénio da vida. A vida nas cidades modernas – como diz o arquitecto Ribeiro Teles – não tem futuro se continuar a respirar o ar do alcatrão, do betão e da pedra. As cidades viverão se souberem manter os pequenos pulmões dos jardins, dos pequenos bosques e pomares, das árvores plantadas no seu seio. Como eram as árvores da Rua Sacadura Cabral, em Loulé.
[publicado, ontem, na minha coluna em «A Voz de Loulé». Conclusão do post de ontem]