[desmistificação II de IV]
Mas Macário tem mais argumentos: o político (ou será o engenheiro?) considera que o Algarve constitui “uma unidade histórico-cultural”. Em tempo de diversidade biológica e cultural este argumento é tão redutor como dizer que Faro é a capital nacional da cultura. Mas desde quando é que os traços que delimitam administrativamente o distrito determinam a sua unidade? Não há qualquer identificação social, económica ou cultural entre as gentes do litoral, do barrocal e da serra. Qualquer estudante sabe isso. E sabe também que mesmo a memória cultural consagrou a expressão “Vou lá abaixo ao Algarve”, para designar a ida dos habitantes da serra algarvia ao chamado baixo Algarve. Para elas esse é o verdadeiro Algarve, o das cidades que sempre decidiram e impuseram o seu poderio sobre os serrenhos. As identidades constroem-se pelas partilhas sociais e culturais. E é por isso que os algarvios de Alcoutim, de Cachopo, do Ameixial, de Odeceixe, sempre se identificaram mais com os seus vizinhos do sul alentejano. Unidade (ou unidades, melhor dizendo), hoje, apenas existem nas pequenas comunidades, nas pequenas freguesias e nos montes onde permanecem ainda restos das sociedades rurais. Dizer o contrário não passa da velha hegemonia grosseira dos munícipios sobre as freguesias.
[continua amanhã]
Mas Macário tem mais argumentos: o político (ou será o engenheiro?) considera que o Algarve constitui “uma unidade histórico-cultural”. Em tempo de diversidade biológica e cultural este argumento é tão redutor como dizer que Faro é a capital nacional da cultura. Mas desde quando é que os traços que delimitam administrativamente o distrito determinam a sua unidade? Não há qualquer identificação social, económica ou cultural entre as gentes do litoral, do barrocal e da serra. Qualquer estudante sabe isso. E sabe também que mesmo a memória cultural consagrou a expressão “Vou lá abaixo ao Algarve”, para designar a ida dos habitantes da serra algarvia ao chamado baixo Algarve. Para elas esse é o verdadeiro Algarve, o das cidades que sempre decidiram e impuseram o seu poderio sobre os serrenhos. As identidades constroem-se pelas partilhas sociais e culturais. E é por isso que os algarvios de Alcoutim, de Cachopo, do Ameixial, de Odeceixe, sempre se identificaram mais com os seus vizinhos do sul alentejano. Unidade (ou unidades, melhor dizendo), hoje, apenas existem nas pequenas comunidades, nas pequenas freguesias e nos montes onde permanecem ainda restos das sociedades rurais. Dizer o contrário não passa da velha hegemonia grosseira dos munícipios sobre as freguesias.
[continua amanhã]