(publicado, hoje, no jornal «barlavento»)
Nove milhões e meio de euros é muita nota. Tanta, que merece mais umas pequenas notas a acrescentar ao orçamento de Faro, Capital Nacional da Cultura 2005. Uma missão que, disse em tempos o secretário de estado dos bens culturais, iria transformar a face do Algarve. Declarações megalómanas para quem nada conhece do Algarve e por estes dias vive os seus últimos dias de gestão corrente. Aliás, nunca vi nenhuma campanha que mexesse fundo nas estruturas culturais. Bem, só a célebre campanha do trigo de Salazar, nos anos 30 e 40 do século passado. Mas essa destruiu os solos das florestas e das sementeiras, de outras culturas. No mesmo sentido, esta é criada de cima para baixo. Lisboa decide e Faro alinha, quando ainda marcava a agenda cultural no Algarve. Mas isso foi há tempos e em anterior gestão. Projecta um teatro municipal, que já vem do tempo do ministro Carrilho, que parece ser a nossa senhora do programa da capital da cultura, uma santa Engrácia que nunca mais fica pronta. A cidade arma-se toda, convoca a Santa Maria de Faro para imagem de marca, mas esquece os agentes culturais [já disse que sempre preferi a expressão actores] que há muito desenvolvem um trabalho estrutural em pesquisa e produção cultural. Sem dinâmica cultural, o município que governa a cidade, é como aquele jovem rei que não pode e menos sabe governar e convoca para seu regente alguém de outro reino. Os programadores culturais são prova disso: Jorge Queirós nas artes plásticas; Luísa Taveira na dança; Miguel Abreu no teatro; a Universidade do Algarve e Pedro Ferré na literatura; ninguém na música, nem música nos dão. Conhecem? Eu também não! Eu, a pensar, na minha “ingenuidade provinciana”, nos nomes de Manuel Batista, António Laginha, José Louro, Nuno Júdice, pela mesma ordem de funções; e para a música José Eduardo. Qual quê! Programar Faro, Capital da Cultura, com algarvios, ainda por cima competentes, seria “saloice” a mais [Lisboa dixit], nada melhor do que descentralizar comissários da capital, a verdadeira, como se fez com os secretários de estado há uns meses, lembram-se? Por isso dou por mim a pensar: será que vai acontecer à Comissão de Faro, Capital Nacional da Cultura, o mesmo que aconteceu ao governo, ou ela antecipa-se?
[Nota: depois da escrita deste texto, vim a saber, via «Expresso», que aos nomes dos programadores foi acrescentado o de Anabela Moutinho, no cinema e de Luís Madureira, na música. Portanto, nada do que afirmo no texto é posto em causa].
Nove milhões e meio de euros é muita nota. Tanta, que merece mais umas pequenas notas a acrescentar ao orçamento de Faro, Capital Nacional da Cultura 2005. Uma missão que, disse em tempos o secretário de estado dos bens culturais, iria transformar a face do Algarve. Declarações megalómanas para quem nada conhece do Algarve e por estes dias vive os seus últimos dias de gestão corrente. Aliás, nunca vi nenhuma campanha que mexesse fundo nas estruturas culturais. Bem, só a célebre campanha do trigo de Salazar, nos anos 30 e 40 do século passado. Mas essa destruiu os solos das florestas e das sementeiras, de outras culturas. No mesmo sentido, esta é criada de cima para baixo. Lisboa decide e Faro alinha, quando ainda marcava a agenda cultural no Algarve. Mas isso foi há tempos e em anterior gestão. Projecta um teatro municipal, que já vem do tempo do ministro Carrilho, que parece ser a nossa senhora do programa da capital da cultura, uma santa Engrácia que nunca mais fica pronta. A cidade arma-se toda, convoca a Santa Maria de Faro para imagem de marca, mas esquece os agentes culturais [já disse que sempre preferi a expressão actores] que há muito desenvolvem um trabalho estrutural em pesquisa e produção cultural. Sem dinâmica cultural, o município que governa a cidade, é como aquele jovem rei que não pode e menos sabe governar e convoca para seu regente alguém de outro reino. Os programadores culturais são prova disso: Jorge Queirós nas artes plásticas; Luísa Taveira na dança; Miguel Abreu no teatro; a Universidade do Algarve e Pedro Ferré na literatura; ninguém na música, nem música nos dão. Conhecem? Eu também não! Eu, a pensar, na minha “ingenuidade provinciana”, nos nomes de Manuel Batista, António Laginha, José Louro, Nuno Júdice, pela mesma ordem de funções; e para a música José Eduardo. Qual quê! Programar Faro, Capital da Cultura, com algarvios, ainda por cima competentes, seria “saloice” a mais [Lisboa dixit], nada melhor do que descentralizar comissários da capital, a verdadeira, como se fez com os secretários de estado há uns meses, lembram-se? Por isso dou por mim a pensar: será que vai acontecer à Comissão de Faro, Capital Nacional da Cultura, o mesmo que aconteceu ao governo, ou ela antecipa-se?
[Nota: depois da escrita deste texto, vim a saber, via «Expresso», que aos nomes dos programadores foi acrescentado o de Anabela Moutinho, no cinema e de Luís Madureira, na música. Portanto, nada do que afirmo no texto é posto em causa].