sexta-feira, dezembro 20, 2019

Sul Informação discrimina

Queria eu comentar o artigo do Sul Informação sobre a aprovação na Assembleia Municipal de Loulé da suspensão do Plano Diretor Municipal na área referente ao terreno do mercado semanal de fruta em Quarteira, mas eis que o jornal online não me deixa comentar, a não ser por via da merda do feicebuque (como diz o RAP). Discriminação estúpida, digo eu, para um jornal tão moderno que não respeita as opções livres de cada leitor. E eu, que tenho o jornal nas minhas leituras de sidebar, em conjunto com outros bem mais sérios...

sexta-feira, dezembro 13, 2019

Medronhos

Aí estão eles, os arbustos do barrocal e da serra do Algarve, cheios de frutos laranjas e vermelhos, enquanto o sol tímido do outono não traz algum calor aos montes. São redondos e picados de rugosidade, tenros ao contacto dos dedos e brilhantes no desejo de os colher e comer. Quando era puto, dizia-se da sua bebedeira; eram os mais velhos guardando para si os sabores ácidos dos medronhos. Colhidos, limpos de folhas e pedúnculos, depois fermentados em tinas várias, eles são o conduto dos alambiques de cobre, aquecidos a lenha, até se despejarem em líquido escorreito, transparente e quente até às goelas a queimar de quem o bebe. Em jovem trabalhei numa moagem e destilaria em Lagos, mas lá só se destilava o engaço da uva e o figo, transformados em bagaços e aguardentes. Ao sair do alambique para o copo, vinha solícita até à nossa boca sequiosa de adolescente. Mais tarde, em adulto, colhi muitos medronhos nas serras de xisto do nordeste, com o mesmo frenesim com que sabia os iria beber em líquido de fogo.

quinta-feira, dezembro 12, 2019

Crónicas de Assis Pacheco

Numa investigação que estou a fazer, nos jornais locais e regionais no Centro de Documentação da Câmara de Loulé, deparei-me com as minhas crónicas publicadas no jornal A Voz de Loulé. Insertas com vários formatos e designações eram, de certa maneira, devedoras deste blog e suas causadoras também. É o ovo e a galinha da filosofia. Mas vem isto a propósito de este estímulo me ter levado a voltar à leitura de livros de crónicas. Ao livro de Nelson Rodrigues, A Vida Como Ela É... e a este caso, quase surrealista de Assis Pacheco, Tenho Cinco Minutos para Contar uma História. Pequenos contos de 5 minutos, lidos aos microfones da rádio, entre 1977-1978, sobre tudo o que merece ser contado e partilhado, palavras, frases e expressões nas quais nos revemos sempre.
(Clicar na imagem para aceder ao livro)

quarta-feira, dezembro 11, 2019

José Lopes

José Lopes tinha menos dois anos do que eu. Morreu na rua, de tristeza e de miséria. Tinha sido ator e colaborador da extinta Cornucópia, o projeto de teatro excecional de Luís Miguel Cintra. O blogue de Eduardo Pitta, pergunta: ler aqui!

Liberais sem iniciativa

Confrangedora, foi a intervenção do deputado da Iniciativa Liberal no debate quinzenal parlamentar com o governo. Mal preparado, sem dados para argumentar no pouco tempo de debate, foi gozado e enxovalhado, pelo humor pouco habitual, mas repescado, do primeiro ministro. As promessas da ideologia liberal cada vez conquistam mais detratores.

quarta-feira, dezembro 04, 2019

Tirem a pata de cima!

Estiveram bem, e coerentes, com a defesa de uma política de paz e de solidariedade entre os povos, o Bloco e o PCP na Assembleia da República, ao questionarem a reunião, ao que parece clandestina, entre o secretário americano Mike Pompeo e o primeiro ministro israelita Benjamin Netanhiu. Empurrados pelo esperto Boris Jonhson, que deu a desculpa de estar muito ocupado para assegurar segurança e custos em Londres, aqueles dois colonizadores e fazedores de guerras, vêm encontrar-se em Portugal, não como turistas, mas para cozinhar algo, Ambrósio! Razão tem o líder parlamentar do BE, quando afirma que isto nos faz lembrar a cimeira das Lajes, nos Açores, quando a direita europeia se encontrou, sob o beneplácito de Durão Barroso, antes da invasão e da guerra do Iraque.

segunda-feira, dezembro 02, 2019

O Anjo Pornográfico

Volto à segunda leitura de O Anjo Pornográfico, A Vida de Nelson Rodrigues, a biografia do cronista e dramaturgo mais importante do Brasil. A obra, do maior biografista de língua portuguesa é, na verdade, sobretudo um quadro quase cinematográfico do Brasil das primeiras sete décadas do século XX. Ruy Castro faz uma investigação pormenorizada, sem cedências metodológicas, que cruza pesquisa documental, entrevistas e conversas informais, e que coloca no lugar a interpretação insuspeita sobre uma figura controversa e marcante desse período: progressista e reacionário, génio e louco, anticomunista e socialista. A não perder, e para ler mais do que uma vez. Para quem fica viciado, aconselho as belas crónicas dos anos 1940-1960 de Nelson Rodrigues, obra editada pela Tinta da China, com o título A Vida como Ela é... (clicar sobre o nome da editora).

segunda-feira, novembro 25, 2019

José Mário Branco militante

O percurso militante e ativista de Zé Mário Branco é conhecido, mas não tanto. Aqui, já falamos do site que congrega o seu trabalho de musicólogo mas, por ora, salientamos o seu papel de construtor de amizades, projetos e militâncias, tão político-sociais quanto estéticas. Uma delas foi a sua participação na criação do site e jornal Mudar De Vida, um jornal popular pouco conhecido. A outra, a sua colaboração na construção de um dos mais interessantes projetos teóricos do marxismo, o Passa-Palavra. Neste, escreveu textos magníficos sobre a ética e a estética da canção, num conjunto que intitulou de 'Oficina da Canção'.
Aconselhamos vivamente a sua leitura, clicando nas palavras sublinhadas!

The Weekly, uma série do New York Times

O The New York Times, um dos jornais mais famosos do mundo, lançou recentemente uma série televisiva, um verdadeiro jornal de investigação em série. Supervisionado pelos editores do NYT, The Weekly é uma aposta interessante, feita por jornalistas locais ou investigadores com tarimba nos temas abordados. Já traduzida para emissão portuguesa, passa no canal Odisseia (posição 118), às terças, no horário das 23 horas. No caso de Portugal, os editores decidiram começar pelo episódio 3, que trata  do papel do «You Tube» na manipulação ideológica e política das eleições presidenciais brasileiras, e no quotidiano virtual do país. A não perder (clicar em The Weekly).

Para onde vai o Brasil?

Para onde vai o Brasil, pergunta-se no título, agora que tem Bolsonaro na presidência, Deus no céu e Jesus na terra? Esperemos que apenas seja a vitória, latino-americana, de um clube de regatas do princípio do século passado.

sexta-feira, novembro 22, 2019

A ainda vida de Cláudio Torres

(fonte: RTP2)

A vida de Cláudio Torres dava um filme; e deu mesmo. A RTP2 começou a transmitir a série documental Cláudio Torres, arqueologia de uma vida, um documentário de 3 episódios da responsabilidade de Ricardo Clara Couto, baseado no livro de Manuela Barros Ferreira, sua mulher e companheira de sempre. 
Atenção que já passaram os dois primeiros episódios (para quem tem box ou outro sistema de gravação ver dias 14 e 21, pelas 23:05h.). O próximo e último passa no dia 28 à mesma hora. Uma oportunidade para conhecer muitos episódios, desconhecidos de quase todos, do Prémio Pessoa de 1991.
Atualização: a RTP Play já disponibilizou os dois primeiros episódios.

Arquivo de José Mário Branco

(fonte: FCSH)

José Mário Branco sempre disse que o seu património artístico seria de todos, mesmo em vida. Pouco dado a direitos de autor, e usando apenas o mínimo para viver, deixa um património artístico e estético, cultural e musical imprescindível, hoje confiado ao CESEM, Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical, da Universidade Nova de Lisboa, coordenado pelo professor Manuel Pedro Ferreira. Esse espólio, quase completo, pode ser acedido aqui. vamos lá clicar na palavra sublinhada!

terça-feira, novembro 19, 2019

José Mário Branco e as inquietações



Só a morte obriga ao consenso das homenagens, como se todos nos sentíssemos órfãos de alguma coisa, seja da amizade ou da presença vívida. Gosto muito pouco destas manifestações, e se José Mário Branco - que conheci e com quem tive as maiores proximidades políticas, em quase todos estes tempos político-sociais - precisa também da minha homenagem, é esta que deixo, aquela que perdura na voz de Camané e nos instrumentos dos Dead Combo. Que venham mais e mais inquietações!

quarta-feira, novembro 13, 2019

Abrupto no banco de jardim

Durante vários anos, o blog Abrupto (de José Pacheco Pereira) foi leitura obrigatória da blogosfera nacional, até por ser dos primeiros a surgir na época da moda dos blogs, que ocorreu nos princípios deste milénio. Entre tantos textos de interesse, havia a participação regular de um leitor que enviava fotos e pequenos textos de referência climatérica, sobre «a passagem do tempo num banco de jardim de Santo Amaro». Recordei esses posts, quando fotografei este banco de jardim na urbanização da Boa Entrada, em Loulé.

terça-feira, novembro 12, 2019

'Acuerdo' de esquerda em Espanha




(fonte: publico.es)

Bueno! Tinha acabado de escrever este post, sobre a eventualidade e a necessidade de acordo à esquerda no parlamento de Espanha e parece que a realidade me deu razão, a mim e a outros. Sanchéz e Iglesias negociaram um preacuerdo para a investidura do dirigente do PSOE como primeiro-ministro e o dirigente do Unidas Podemos será, tudo indica, vice-primeiro-ministro. A ver...

Um encantamento de texto

«A Metamorfose», de Kafka, é apenas um pretexto para chamar a atenção para a beleza preocupante deste texto de Carla Romualdo (a seguir apenas um extrato):
E esta frase, que apanhei por sorte num final de jornal televisivo, encheu-me de esperança. Poderá não ser a vida eterna, mas há, afinal, vida depois da morte, até para os não crentes. Basta que acreditemos na domiciliação bancária e no débito directo. Encantamentos modestos, mas acessíveis.

Unidas Podemos??

As eleições em Espanha, do passado domingo, aproximam os resultados das eleições legislativas de Portugal em 1995, sobretudo na situação da instabilidade governativa dos projetos hegemónicos do capitalismo. Sem maiorias absolutas, não tem havido governação absoluta dos partidos 'socialistas' em Portugal e em Espanha. Por ora, o PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) mantém o mesmo discurso e hesitação, entre os acordos legislativos à direita ou à esquerda, sendo que em Espanha o parlamento, agora com a presença da extrema-direita do Vox, merece outra atenção. No entanto não é só o PSOE que tem titubeado na crise institucional do país vizinho, com eleições sucessivas e o 'tsunami' catalão. Também o Unidas Podemos, sobretudo da linha Pablo Iglésias, tem mostrado não estar à altura de acordos que livrem a direita espanhol de tomar o poder. A cisão da UP, por via do Más País, de Inigo Errejón, que alcançou 3 deputados (uma espécie de Livre do Bloco português), mostra que o caminho deve ser esse mesmo: deixar de querer lugares no governo e para já aceitar as devidas condições para uma maioria de esquerda no parlamento de Espanha.

Para uma leitura do que diz Daniel Oliveira no Expresso diário (via blog de Joana Lopes), clicar nas palavras sublinhadas.

sábado, novembro 09, 2019

O velho Melhoral


O velho Melhoral ainda existe. Recordei-me dele a propósito do desabafo de um septuagenário que, à porta do hipermercado, vinha protestando sozinho em voz sussurrada: «É sempre a mesma coisa, ontem não tinham, hoje também não!». Perguntei-lhe o que se passava, ele explicou-me, vinha à procura dos tais velhos comprimidos. Contra a minha sugestão de adquirir outros analgésicos, respondeu-me, «bah!».

sábado, novembro 02, 2019

A extinção dos passeriformes


Há algumas semanas Carla Tomás, jornalista do Expresso, assinava um texto no jornal sobre o desaparecimento de muitas espécies de flora e de fauna dos montes das serras algarvias. Ouvidos pastores e agricultores concluía pela quase extinção de algumas espécies de passeriformes [aves insectívoras de pequeno porte]. O problema, na altura em que se torna moda falar de ecologia, é preocupante, mas interessa percebê-lo num quadro de maior complexidade. Com o abandono da economia serrana (pessoas, trabalho e vida) as aves migram em busca de habitats mais favoráveis, tal como a espécie humana, e fazem-no há mais tempo do que nós. Por exemplo, é ver os bandos de pardais de vários tipos, ou de pintassilgos, junto das dunas e das praias, alimentando-se de restos de comida, sementes e o que vier ao bico.

Nas caixas-ninho, colocadas na parede norte da minha casa, na cidade de Loulé, destinadas a abrigar criações de chapim-real e mais tarde colonizadas quase sempre por pardal comum, foram criadas esta primavera-verão cerca de 4 posturas em cada caixa, dando origem aos juvenis que hoje vemos a limpar os insectos das periferias, tornando mais limpo o nosso clima.

sexta-feira, novembro 01, 2019

A moda é uma merda!


Autor convidado: Joaquim Mealha Costa
E indispensável ler. 
Ocasionalmente, assisti e participei no bar do Cineteatro [Loulé], a uma conversa com Vítor Belanciano. Talvez há 5 ou 6 anos, ainda no período cinzento de mando dos capatazes ao serviço dos senhores financeiros, donos dos escravos do nosso tempo, era sobre a cultura e a sua função... Não consigo precisar bem... Sei que a certa altura lancei para reflexão a crise dos valores humanistas, o primado da selvajaria liberal, o esmagamento dos mais fracos, culpabilizados, porque se assim estavam é porque não empreendiam, havia um mundo de sonho à sua frente, bastava vender pipocas, garantia o "embaixador" nomeado por Coelho... E a meu ver a arte e os artistas e criadores do vazio, da estética sem ética, sem causas, sem valores humanistas, sem propósitos de transformação, tem sido um instrumento para construir o estado comatoso em que nos encontrávamos e encontramos... Pareceu-me, estar de acordo... Não posso afirmar... Quantas vezes nos enganamos com o que nos aparenta serem assentimentos...!
Este artigo mostra e demonstra o equívoco que continuamos a construir... É angustiante... O futebol que já vem do antigamente; o fanatismo das múltiplas seitas, pouco capazes de entender que a realidade tem múltiplas faces, veio superar Fátima; e a festa, branca, preta, com luzes, ruídos, supostamente com estética mas sobretudo anestésica. E tudo injetado como  progresso. Numa sociedade em que a condição humana é degradada, embrulhada em realidades conceptuais, virtuais, em saladas de palavras torpedeadas no seu sentido... 

Para lerem e pensarem! Clicar na palavra sublinhada para ler a crónica de Vitor Belanciano no Público.

terça-feira, outubro 29, 2019

Rosa Mota

Parece uma picuinhice vaidosa de Rosa Mota, o facto desta ter recusado estar presente na inauguração do renovado Pavilhão Rosa Mota, agora designado Super Bock Arena, pavilhão Rosa Mota. A polémica tem a ver com a mudança do logótipo que menorizou o nome da atleta olímpica e ligou-a a uma marca de cerveja. Mesmo quem gosta da bebida de trigo, sabe muito bem que a mercantilização do desporto e a submissão da prática desportiva ao capitalismo financeiro é o pão nosso de cada dia, e um caminho cada vez mais perigoso na alienação popular. Razão teve Rosa, quando respondeu ao presidente da República, a propósito da afirmação deste de que ela era mais importante do que qualquer presidente: Nãoooo!

Peneireiros nas arribas

Nestas arribas, de argila e arenitos, nidificam peneireiros vulgares. Este ano, na primavera e no verão, alguns casais de peneireiros vulgares colocaram e chocaram os seus ovos nas fendas abrigadas das arribas, depois alimentando e ensinando voo e caça aos juvenis. No pico do verão, quando se instalam centenas de veraneantes nas praias e nos topos das rochas, eles seguem para outras paragens, deixando em silêncio estas escarpas, depois de fazerem ouvir os seus assobios estridentes quando caçam. No próximo ano, talvez voltem.

domingo, outubro 27, 2019

A indignação pública

O Joaquim Mealha chama-me a atenção para o texto que a Marisa Matias, eurodeputada do Bloco de Esquerda, publicou no «Diário de Notícias» no passado dia 26, a propósito da votação de uma lei sobre resgate de emigrantes, que foi chumbada com o contentamento da direita e sem a indignação da esquerda. Já o tinha lido no blogue da Joana Lopes, que o publica na íntegra e, na verdade, lembrei-me do que disse o Daniel Oliveira há uns tempos: temos que nos indignar de forma descarada, em alta voz e em público, nas ruas e nos media, tal como a direita boçal o faz.

quinta-feira, outubro 24, 2019

Refeições nas cantinas das escolas

Não é visível, à partida, a relação entre as refeições das cantinas escolares e a autonomia das escolas (ver aqui o artigo de António Nabais no 'Aventar'). O que é certo é que a partir da empresarialização das compras dos alimentos, e da entrega das cantinas a empresas, a autonomia e tudo o que ela consubstancia de proximidade, interrelação escolar e respeito pela economia local, transformou-se no seu oposto, a heteronomia. Quer dizer que tudo é imposto pelo exterior, quer ele seja o município ou as grandes empresas. Por isso, a luta contra a municipalização das escolas é um desiderato de  todos aqueles que consideram a defesa da escola pública.

Como ver o Mundial de Râguebi?


Sobre o râguebi, já passou o tempo dos olhares de uma modalidade agressiva, violenta e marialva, por causa das formações ordenadas, das placagens e dos constantes pick and  go. Assistindo aos jogos da bola em melão, no campeonato do mundo a decorrer no Japão, é uma beleza para os olhos ver os movimentos, o bailado da passagem da bola, os ensaios e penaltis sucessivos. E mais do que tudo, o respeito pela pedagogia dos árbitros a explicar as incorreções dos jogadores. Um mimo.

quarta-feira, outubro 23, 2019

Ciganos na comunidade

Um casal cigano vareja uma oliveira na urbanização Boa Entrada em Loulé. Sujeitos a discriminações e preconceitos, os ciganos têm vindo, paulatinamente, a ser aceites na sua diversidade cultural. Um dos meios utilizados tem sido a sua integração nas comunidades, como coletores ou respigadores, de fruta, vegetais ou mariscos. Mesmo neste caso são acusados de roubo, por estarem a usar espaços e propriedades alheias, muitas delas abandonadas. No caso presente, também eu, e mais vizinhos, aproveitamos o desperdício de figos, azeitonas e amêndoas destas árvores, quase sempre à espera de cortes, devido à expansão urbanística dos terrenos das periferias da cidade. Recordo o sapiente José Vieira que, já nas décadas de 1950-1960, entregava a apanha da alfarroba a famílias ciganas acampadas em Alte, abrindo assim caminho à inclusão de etnias discriminadas.

segunda-feira, outubro 21, 2019

AMAL: para que serve?



Parece que o atual presidente da Câmara de Loulé vai candidatar-se à presidência da AMAL (Área Metropolitana do Algarve), agora que o seu ex-presidente rumou à Assembleia da República e parece que à Secretaria de Estado das Autarquias. 
É verdade que, há dias, ouvi o antigo presidente Jorge Botelho falar da dificuldade de instalar, de uma vez por todas, a Ciclovia do Algarve, uma via ciclável que conheço bem e sei do estado miserável em que se encontra. Ainda por cima sem aparentar sequer qualquer sensibilidade para a questão, como se fora alguém que nunca pisou os pedais de uma bicicleta. Se é para isto que serve a AMAL, vou ali e já volto...

sexta-feira, outubro 18, 2019

Catalunha: olhar o problema

(Portada do El País)
Quem analisa o tsunami democrático na Catalunha como se fora uma revolta juvenil, está a ver apenas as filas da frente dos milhares de manifestantes em marcha para Barcelona. Quem julga que este movimento de massas nunca visto, é apenas uma rebelião contra a condenação dos líderes catalões democraticamente eleitos, pretende apenas pôr nas mãos do poder judicial espanhol, aquele que é um problema político de fundo. Uma questão de nacionalidade, numa Espanha multinacional que nunca se enfrentou, como um abanico de identidades dispersas que deve dar a palavra ao povo sobre a sua auto-determinação. Como dizia um sexagenário catalão, há pouco na SIC, se o poder judicial e político toma decisões nos gabinetes contra o povo, o povo toma as ruas. Como fez em toda a sua história.

quarta-feira, outubro 16, 2019

Populismo: conceitos vários

O sociólogo e ativista Walden Bello esteve em Portugal para uma conferência no ISEG e aí esclareceu o seu ponto de vista atual sobre a globalização. Numa pequena entrevista ao Público, mostrou como a extrema direita se apropriou de bandeiras da esquerda em todo o mundo, conquistando eleitoralmente apoios populares e mobilização nas ruas. Particularmente, sobre o conceito de populismo - agora que a designação é usada para cobrir mecanismos e fenómenos muito diversos - esclarece que muitos destes fenómenos, a sul ou a norte, não são na verdade movimentos populistas. Por isso vale a pena citar um excerto da sua entrevista:
O populismo é um estilo de comunicação com as massas e tanto políticos de direita como de esquerda usam-no. Vejo isto mais como um movimento contra-revolucionário. Ao longo das décadas, em alguns casos, foi uma contra-revolução contra a emergência da classe baixa. Noutros casos, o que se passa é o fracasso da democracia liberal na satisfação das aspirações daqueles que inicialmente sentiram que a democracia liberal iria ser um caminho para um empoderamento e igualdade reais. Este movimento contra-revolucionário em oposição à democracia liberal  põe em causa as próprias fundações da democracia , como por exemplo o secularismo, a diversidade, o estado de direito. Os movimentos de extrema-direita, não são só racistas, como colocam em causa as fundações da democracia liberal. (jornal Público, 7 outubro 2019, pp. 30-31)

sábado, outubro 12, 2019

Trabalho em revista



Ocupado com outras investigações e eventuais artigos - entretanto a próxima revista do Arquivo Municipal de Loulé, Al-Uliã, trará dois artigos meus, um deles em co-autoria com antigas alunas minhas - não tenho podido publicar na revista brasileira Trabalho necessário. Mas o facto não me iliba de chamar a atenção para a excelência dos artigos dos dois  mais recentes números, cujas capas estão acima. Para ler é só clicar sobre o nome da revista que está sublinhado.

domingo, outubro 06, 2019

O equívoco das causas da abstenção nas legislativas de 2019


A ideia de que a disseminação de partidos candidatos às eleições são expressão de participação democrática e que determinam a ida às urnas, sempre foi errada e esconde a verdadeira participação por detrás do chapéu de chuva da representação. Grande parte dos 21 partidos candidatos, ao invés de serem mobilizadores, afastam claramente os eleitores. Uns por serem recauchutagem de velhos responsáveis; outros por parecerem a palhaçada visível da ignorância e da vulgaridade; outros surgindo como partidos unipessoais ou monotemáticos. Aliás, o debate radiofónico, expandido às imagens televisivas, foi um belo  exemplo de stand up comedy, melhor do que o 'Levanta-te e Ri'.
Por isso, que não se estranhe a abstenção a subir aos 50%, nestas legislativas de 2019.

quarta-feira, outubro 02, 2019

Organismos gelatinosos

(fotos de Deanna Raimundo)

Na minha infância e adolescência brincávamos com estas alforrecas, na Praia da Rocha. Hoje, elas são organismos gelatinosos importantes para a ciência e para o conhecimento das alterações climáticas, que observamos nas costas marítimas, sobretudo nas marés baixas. Este ano fizemos vários avistamentos, de diversos indivíduos, sobretudo de Rhizostoma luteum, quase sempre na Praia da Falésia, no concelho de Albufeira. As imagens e outras informações são enviadas para o projeto 'Gel à Vista', coordenado pelo IPMA e que pode ser visitado aqui (clicar sobre a palavra sublinhada).
Conselho: Não convém tocar!

terça-feira, outubro 01, 2019

A velha agenda cultural de Loulé

(clicar na imagem para ver melhor)

Na arrumação - crónica - de velhos papéis e revistas que enxameiam arquivos mortos e prateleiras na garagem e restantes espaços da minha casa, lá encontrei alguns velhos recortes que fazem as memórias e as histórias do presente. Neste caso, trata-se de um texto de José Batista (conhecido no mundo da banda desenhada como Jobat), amigo e companheiro de várias lides, já falecido. O Batista faz, no texto, o historial daquela que foi a primeira Agenda Cultural do município de Loulé, na altura designada como «Roteiro Cultural e Desportivo de Loulé» e publicada em Novembro de 1991. Nunca lhe agradeci o encómio que nos faz, a mim, ao Luís Guerreiro (RIP) e ao Joaquim Mealha Costa, dez anos depois daquela data.

terça-feira, setembro 24, 2019

Recicla-me, porra

Duas tampas de garrafa de coca-cola. Em cima, uma tampa de garrafa comprada em Portugal; em baixo uma tampa de garrafa comprada em Espanha. Todo um programa ecológico dos fabricantes e distribuidores da bebida conhecida como a bebida do imperialismo americano. Mesmo assim, Portugal mantém uma quota de reciclagem superior à do país vizinho.

sábado, setembro 21, 2019

Gajas e frangos

Um grupo de adultos maiores, conversando sobre política sexual na esplanada da avenida José da Costa Mealha em Loulé, à volta do pasquim «Correio da Manhã», aberto nas páginas voyeuristas:
Vocês perdem tempo aí a olhar para as pernas das gajas; eu não perco tempo com isso. Isso é papel. Eu prefiro uma boa perna de frango!

segunda-feira, setembro 09, 2019

Fernando Silva Grade


(Blog FaroArtistas)
Dei pela notícia do falecimento do Fernando Grade numa leitura do 'barlavento' a propósito dos organismos gelatinosos, do programa Gelavista, em que participo. O Fernando Grade - era assim que o conhecíamos, já que vem a adotar o nome Silva mais tarde por razões artísticas,  - era hoje mais conhecido como crítico urbanista e ativista ambiental. A sua formação de biólogo e a sua veia filosófica macrobiótica levam-no a aderir às causas ambientais, muito antes da moda e da sua filiação na associação Almargem.
Conhecemo-nos, entre outros praticantes e defensores das tradições musicais do Algarve, no projeto musical Levante, que mais tarde dá origem ao ainda célebre Grupo Dar de Vaia. O Fernando era o homem das congas e da viola, que assumia com empenho, nos ensaios e nos treinos de casa que compartilhei algumas vezes. Entre 1983 e 1984, fez parte da equipa do Museu Regional do Algarve, comigo e com a Luísa Rogado, que investigou Aljezur e preparou a exposição sobre o património do referido concelho. Durante esse período passamos muito tempos juntos, na aldeia da Zambujeira e na casa de família na Praia de Faro, visionando centenas de diapositivos para que o Fernando desenhasse, a tinta-da-china, os elementos etnográficos. Muito na linha do etnógrafo Fernando Galhano, o Fernando ganhou alento para iniciar a sua pintura de temática geológica, vivendo alguns tempos isolado em retiro junto da aldeia da Raposeira, como motivo de inspiração e de recolhimento. Aí visitei-o algumas vezes, entre as minhas odisseias em busca do património cultural algarvio, e nos últimos tempos tenho pena que nos tenhamos avistado tão poucas vezes.
Até sempre Fernando!

sexta-feira, junho 21, 2019

A bebedeira do mar


A obra acima - que deveria ser lida por toda a gente - é uma enciclopédia simples de saber que estou a ler de novo. Os livros de Bryson são isso mesmo: tentações de saber.
No capítulo XVI (O Planeta Solitário), o autor descreve as investigações malucas dos Haldane, pai e filho, sobre a intoxicação por azoto, que se transforma «numa droga potentíssima a profundidades superiores a 30 metros». Estava na praia quando li estas páginas (359-371) e por associação de ideias veio-me à memória as histórias contadas pelos pescadores submarinos da Carrapateira, em Aljezur, no verão de 1982. Estávamos junto da praia nos primeiros esboços abarracados de alojamento turístico de um amigo, ouvindo os pescadores que tinham ido pescar sargos e liças para o nosso jantar. E acabado o vinho, o acompanhamento disponível de medronho obrigava a uma magia de audição de histórias e a desenhos inextrincáveis. E aí eles contaram como a profundidades altas, na costa vicentina, entre as arribas de xisto e basalto, perdiam os sentidos na apneia de pesca, e ouviam chamados cânticos de sereias e uma coloração vegetal de algas em arco-íris, obrigando-os a deixar armas e equipamento para o fundo do mar. Só depois, a consciência os trazia, em suspensão, para a superfície. Era o azoto no cérebro, pois claro!

terça-feira, junho 04, 2019

Agustina




Confesso que «A Sibila» nunca sibilou aos meus ouvidos, talvez porque no meu tempo «Os Maias» davam cartas no liceu, romance que também não li. Na altura, era o marxismo que me ocupava as leituras, de ensaios e romances.
Em 1988, numa fase de busca de individualidade libertária-filosófica comprei «Prazer e Glória», acabado de sair, um romance sobre uma família burguesa – como era o universo de Agustina – mas com o bastardo artista João Pinheiro (talvez lembrando o traído Pinheiro Alves, marido da amante de Camilo, esse sim autor boémio de que li muito) a contrariar o universo.
Pedro Mexia dizia, ontem a propósito da literatura de Agustina, que ela era sobretudo criticada por motivos ideológicos, como autora burguesa e elitista, mas que a devíamos olhar pelo lado puramente literário. Lembro-me que na altura achei prazeirosa e gloriosa a crítica de Agustina à atitude miserável, ignorante, e incivilizada do povinho português. E essa era também a minha impressão. Há semanas atrás voltei a pegar no livro da Guimarães Editores, para o reler, e ali está ele na página 19, de canto dobrado: “Eram gente de prazer e de glória, que em tudo morre para em tudo permanecer”.

quinta-feira, maio 30, 2019

É tempo de desmantelar o Facebook


Para quem anda alienado ou distraído com a melhor ferramenta de alienação mental já inventada, vale a pena ler o texto de Chris Hugues, cofundador do facebook, publicado no New York Times e no Expresso/Revista do passado sábado. A história é comovente, mas para quem sabe da poda, mostra ali o perigo para a democracia que está na mão de um yuppie neocapitalista, que se está cagando para as partilhas e as interações do povo. Já tinha sido uma lástima, ver o Zuckerberg a suar em bica na televisão ou no senado americano, a justificar a sua bondade, mas o homem não engana com o ópio que substituiu a velha religião. Sim, o canal Odisseia passara em março deste ano dois episódios vergonhosos para a letra 'f', que muita gente continua a defender, como crianças a brincar com o fogo. E sabemos como o fogo alastra até aos nossos pés.
Este blogue abomina o facebook e está explicado porquê. Depois não digam que não vos avisei.

Liga Europa em silêncio na TV

Artur Jorge, um jogador de excelência da velha Académica e do Benfica (e naturalmente o primeiro treinador português a ganhar a liga dos campeões), costumava dizer que preferia ver futebol na tv com o som no silêncio. Acrescentava música clássica para acompanhar as jogadas no relvado, sem as perturbações dos comentadores encartados. Foi o que fiz ao visionar o jogo da final da liga Europa, entre o Chelsea e o Arsenal. Apaguei, assim, o desconhecimento do pivô da Sic e os comentários perturbantes, aborrecidos e irritantes do Marco Caneira, sofrível jogador e ainda pior analista. O homem, quando o deixei falar, ainda apostava no 'futebol apático do Chelsea', veja-se só. Depois não sei o que disse. Pouco importa, já que o Chelsea deu uma lição de como se joga à bola. Pena foi o olhar triste de Petr Cech no final do jogo.

terça-feira, abril 09, 2019

O que fazer pelo clima?

Recupero o  texto de Francisco José Viegas, que só li agora, sobre o tema em título (ler aqui). O que ele escreveu foi o mesmo que pensei, na altura quando dei pela ação de alguns jovens das escolas. Em minha casa poupa-se água e energia, separamos lixo orgânico e todos os restantes resíduos sólidos urbanos para o ecoponto, recolhemos lenha e pinhas para aquecimento, não temos ar condicionado, aproveitamos a água da chuva para limpezas e rega de plantas, usamos viaturas em segunda mão, vendemos ou oferecemos o que não nos faz falta, trocamos livros usados, andamos a pé e de bicicleta, enfim... E os meus filhos (jovens naturalmente) fazem parte desta filosofia prática. Por isso, FJV tem toda a razão! Velhos e reacionários, uma ova!

segunda-feira, abril 08, 2019

Conversando de José Cavaco Vieira



O Museu Municipal de Loulé (MML) publica regularmente um Boletim do seu Centro de Documentação, dando a conhecer o seu património documental. O último número traz uma segunda referência ao jornal local «Ecos da Serra» de Alte, desta vez sobre a sua rubrica mais famosa, a crónica do altense José Cavaco Vieira, intitulada ‘Conversando’ (ler aqui, nas páginas 6-9, texto de Sónia Silva, técnica do MML).
A qualidade dos textos do 'Conversando' motivou a sua publicação pela Câmara Municipal de Loulé, ainda em 1997 e em vida do autor e, mais tarde, em 2003, numa obra que tive o prazer de coordenar e de introduzir aquando das comemorações do seu 100º aniversário, após o seu fenecimento. A obra, intitulada «Conversando a Vida Toda», é hoje considerada rara, apesar de ainda estar à venda nos serviços da autarquia (ver aqui).