Aí estão eles, os arbustos do barrocal e da serra do Algarve, cheios de frutos laranjas e vermelhos, enquanto o sol tímido do outono não traz algum calor aos montes. São redondos e picados de rugosidade, tenros ao contacto dos dedos e brilhantes no desejo de os colher e comer. Quando era puto, dizia-se da sua bebedeira; eram os mais velhos guardando para si os sabores ácidos dos medronhos. Colhidos, limpos de folhas e pedúnculos, depois fermentados em tinas várias, eles são o conduto dos alambiques de cobre, aquecidos a lenha, até se despejarem em líquido escorreito, transparente e quente até às goelas a queimar de quem o bebe. Em jovem trabalhei numa moagem e destilaria em Lagos, mas lá só se destilava o engaço da uva e o figo, transformados em bagaços e aguardentes. Ao sair do alambique para o copo, vinha solícita até à nossa boca sequiosa de adolescente. Mais tarde, em adulto, colhi muitos medronhos nas serras de xisto do nordeste, com o mesmo frenesim com que sabia os iria beber em líquido de fogo.