O sociólogo e ativista Walden Bello esteve em Portugal para uma conferência no ISEG e aí esclareceu o seu ponto de vista atual sobre a globalização. Numa pequena entrevista ao Público, mostrou como a extrema direita se apropriou de bandeiras da esquerda em todo o mundo, conquistando eleitoralmente apoios populares e mobilização nas ruas. Particularmente, sobre o conceito de populismo - agora que a designação é usada para cobrir mecanismos e fenómenos muito diversos - esclarece que muitos destes fenómenos, a sul ou a norte, não são na verdade movimentos populistas. Por isso vale a pena citar um excerto da sua entrevista:
O populismo é um estilo de comunicação com as massas e tanto políticos de direita como de esquerda usam-no. Vejo isto mais como um movimento contra-revolucionário. Ao longo das décadas, em alguns casos, foi uma contra-revolução contra a emergência da classe baixa. Noutros casos, o que se passa é o fracasso da democracia liberal na satisfação das aspirações daqueles que inicialmente sentiram que a democracia liberal iria ser um caminho para um empoderamento e igualdade reais. Este movimento contra-revolucionário em oposição à democracia liberal põe em causa as próprias fundações da democracia , como por exemplo o secularismo, a diversidade, o estado de direito. Os movimentos de extrema-direita, não são só racistas, como colocam em causa as fundações da democracia liberal. (jornal Público, 7 outubro 2019, pp. 30-31)