quinta-feira, novembro 01, 2018

A prosa de Rosa contra as balas


Li, por estes dias, entre muita prosa sobre a eleição do fascista Bolsonaro para presidente do Brasil, um extrato de Grande Sertão:Veredas, a obra prima de João Guimarães Rosa, um dos 100 livros mais importantes de sempre. O excerto era este:
-Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram da briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvore, no quintal, no baixo do córrego. Por meu acêrto. Todo dia isso faço, gosto; desde mal em minha mocidade. Daí vieram me chamar.
O excerto é do início do romance. Fui ver ao meu livro e confirmei, como a ficção prevê a realidade; e por arrasto fui ao fim do livro, após as suas belas 594 páginas:
Nonada. O diabo não há! É o que eu digo se fôr... Existe é homem humano. Travessia.
O livro, um testemunho da invenção literária e do arrojo de criação linguística do sertão brasileiro, é um testemunho do poder da palavra e do ser humano. Uma prosa que liberta, uma Rosa que se une, contra o regresso da maldade.