sexta-feira, novembro 09, 2018

Alte e o concurso da aldeia mais portuguesa de Portugal (1938)

Os escritos científicos (artigos ou teses) não estão imunes a erros, omissões ou inverdades. As pesquisas duradouras e extenuantes obrigam, muitas vezes, a pequenas ou grandes imprecisões. Resultado de cansaço, imprudência, ingenuidade ou inexperiência, podem originar erros mais ou menos graves. O exemplo que aqui trago, não é sobre algo de extrema importância no contexto da investigação, até porque não é matéria central do texto. Expliquemo-nos! 
Há dias, procurando resultados no Google sobre eventuais plágios de textos meus ou de origem conhecida, lá encontrei um 'velho' mito, o da aldeia de Alte como a segunda eleita no Concurso da Aldeia Mais Portuguesa de Portugal, realizado em 1938, pelo Secretariado de Propaganda Nacional. No exemplo, foi um problema de fontes; quando a mesma não é fidedigna e, no caso, a da Junta de Freguesia de Alte, pelo seu caráter encomiástico, não é nada segura. Trata-se de uma tese de doutoramento (o que deveria obrigar a um maior controlo), sobre história local, da autoria de Maria Inês Cristiano Cerol, intitulada «O Espaço Público nas Aldeias e nos Centros Históricos do Barlavento Algarvio...», defendida em 2015, na Universidade de Lisboa. Na página 55, no contexto do concurso acima referido, afirma-se:
(...) Nesse concurso a aldeia algarvia Alte ficou em segundo lugar (JF-ALTE www), galardão que durante os primeiros tempo de propaganda turística foi exibido como atestado da genuinidade do seu interior (...)
Ora, são conhecidas antes da data da referida tese, algumas teses de mestrado e de doutoramento, realizadas em Alte, que abordam direta ou indiretamente esta questão e que, por isso, deveriam ter sido consultadas, apesar de se saberem de mais difícil acesso. Mas não é esse um dos desafios principais dos investigadores? Para não maçar muito, e usando textos que são fontes fidedignas, apenas queremos referir o já clássico texto de Joaquim Pais de Brito (1980, pp. 511-532), publicado nas Actas do Colóquio «O Fascismo em Portugal»; o capítulo 9. O Concurso 'A Aldeia Mais Portuguesa de Portugal' (1938), da autoria de Pedro Félix* (2003, pp. 207-232), inserta na obra magna «Vozes do Povo. A Folclorização em Portugal», organizada por Castelo-Branco e Branco; e ainda o meu humilde livro «Grupo Folclórico da Casa do Povo de Alte. 75 anos de vida: ora agora mando eu!», publicado em 2013 e cuja capa se reproduz na imagem.

Já agora: a aldeia de Alte foi selecionada, de entre as concorrentes, para um primeiro grupo de seis aldeias e, numa segunda fase, foi eliminada para a fase final, em que foram colocadas: Paul, Carrezedo de Bucos e Monsanto. Como sabemos, a esta última foi entregue o 'Galo de Prata', símbolo da aldeia vencedora, não tendo sido atribuídos quaisquer outros lugares.


* Nota: o texto de Félix pode ser lido online aqui.