Venho de duas gerações consecutivas de exilados políticos. Avós que partiram da Roménia quando o antissemitismo ameaçava fulminar tudo o que tinham, como logo fulminou seus pais, irmãos, tios — desses avós herdei o sobrenome judeu, de seu destino ganhei meu nome argentino. Pais que partiram da Argentina quando o terror de Estado se fez sinistro, abatendo amigos, colegas, companheiros — deles herdei algum inconformismo, de seu destino ganhei a língua em que escrevo. Nunca na vida sequer cogitei que minha sina viesse a se parecer à deles, que forças obscuras pudessem me impelir a deixar o Brasil. Hoje, pela primeira vez em 36 anos, me pergunto se esse medo será tão disparatado assim.
Julián Fuks, brasileiro e
filho de pais argentinos, escreve um texto no Expresso de sábado, 10 novembro, um texto que é um desabafo e ao
mesmo tempo um manifesto pela defesa da cultura e da arte democráticas. Alma
Grande chama ao título a expressão «Um futuro carregado de passado», abrindo o
caminho para a resistência ao fascismo e a abertura de outros caminhos da
democracia, esteja ela onde estiver.
Fuks ganhou o Prémio Saramago
em 2017, com o romance exactamente intitulado «A Resistência», editado em
2016 pela Companhia das Letras.
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