sexta-feira, dezembro 21, 2007

Girando o dedinho

As crónicas de Luís Fernando Veríssimo, no Expresso, são obrigatórias. Para além de um humor inteligente o cronista é um excelente contador de histórias, quer sejam de ficção quer sejam de realidades bem presentes. Da última – que aborda os gestos relacionados com o acto de telefonar – respigo este excerto:

Outro gesto datado é girar o dedo no ar. Do tempo em que os telefones tinham discos, lembra? Você introduzia o dedo no buraco correspondente ao número desejado e rodava o disco. Fazer isso em forma de mímica deixava claro para a pessoa distante que você se referia ao telefone (…) a não ser que você a estivesse convidando para dançar. (…) Já existe toda uma geração que nasceu, cresceu e se tornou adulta na era pós-disco e para a qual o dedo girando no ar também perdeu qualquer sentido.

Lendo isto, veio-me à cabeça que o telefone do meu gabinete na Escola Superior de Educação, em Faro, é um telefone de disco. Seja por falta de dinheiro ou por qualquer outro motivo trivial, o que é certo é que ele respeita a minha geração: a que usava o dedo girando no ar para convidar a moça para dançar.