segunda-feira, outubro 25, 2021

Pandemias: qual a pior?

A CCL organizou mais um debate quinzenal das quartas feiras, desta vez sobre o tema geral ‘As Pandemias’. Na tertúlia, pude desenvolver algumas ideias de que deixo aqui uma síntese pessoal:

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A recente pandemia da SARS-Cov2, mostrou a fragilidade de respostas coesas da governação mundial ao problema. Por um lado, o facto de ter origem conhecida (ainda de forma incipiente) na potência imperial chinesa, coloca obstáculos ao conhecimento científico. Por outro lado, mostrou que na verdade não há organismos mundiais com poder para dirigir alguma resposta. Nem a OMS (Organização Mundial da Saúde), nem a ONU (Organização das Nações Unidas) mostraram ser capazes de impor soluções internacionais. Os países responderam à  crise pandémica, sem orientações e com a autonomia dos momentos, criando as maiores dissonâncias internas e de resposta regional. Esta situação acabou por criar fossos abissais entre os países ricos e os países pobres, ou entre o norte e o sul; a África e a América  Latina são dois bons exemplos do desnorte do combate, agravado pelos conflitos étnicos, pelas guerras regionais ou pelas ditaduras, mais ou menos descaradas.

E se a resposta dos cientistas, e dos laboratórios de investigação, veio mais depressa do que se supunha, foi porque as farmacêuticas e os grandes laboratórios mundiais tiveram interesse na venda de vacinas aos países com capital para a sua aquisição. Não é de estranhar que sejam os grandes bancos e fundações que estejam por detrás dos interesses da Aliança Global para as Vacinas (GAVI). Recordo que Durão Barroso é o presidente desta novel instituição de forma gratuita, mas mantém a sua choruda remuneração do Banco Goldman Sachs International, que nós conhecemos bem pelas crises financeiras que espoleta. Em Portugal, a Fundação Champallimaud é das que mais investe em ciência de resposta internacional, mas os pobres por cá, nada vislumbram desse conhecimento em saúde.

Assim, talvez seja bom desenvolver uma capacidade de reflexão crítica mais aguda, que tem estado arredada, nestes tempos de acontecimentos e comportamentos efémeros. Neste tempo de leitura, escrita e partilha de vulgaridades, dentro da bolha das redes virtuais, dominadas pelos grandes monopólios das tecnológicas digitais. O caso recente do apagão, e das denúncias da ex-diretora de segurança tecnológica do ‘facebook’ (Frances Haugen), mostram que este poder digital domina grande parte do capital económico e financeiro e hegemoniza pensamentos, reflexões e conhecimento. A manipulação dos comportamentos e, por consequência, das atitudes negacionistas, violentas e agressivas que têm vindo a crescer  nestes últimos dias (Albufeira, Vilamoura, Porto), mostram a perigosidade para os cidadãos, as comunidades e as sociedades humanas.

Perante o domínio do capitalismo global na área da saúde, e com sociedades civis cada vez mais frágeis, parece que a resposta aos problemas pandémicos, quer sejam vírus, guerras ou fome, só pode constituir-se com o reforço das respostas cidadãs, organizadas a nível local. Mas que devem estar em sintonia com outras afirmações e lutas que se desenrolam nos diversos pontos do globo, quer seja no Brasil, em Hong Kong ou nos Estados Unidos. Quer seja no combate à exploração de lítio, contra o aumento do preço dos combustíveis e energia, ou pela defesa do Serviço Nacional de Saúde.

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Entretanto, na próxima quarta (27), a associação organiza mais uma tertúlia dedicada ao tema da Cidadania. Contamos com toda a gente!