O Newcastle United, clube da Premier League inglesa, foi comprado por um fundo capitalista com origem maioritária na família real saudita. Como sabemos, de lá não vêm só perseguições a mulheres, assassinatos de jornalistas e exploração de petróleos. Agora é vê-los, vestidos a rigor ocidental de fato, gravata e botões de punho, a festejar na bancada o primeiro golo do clube no jogo do fim de semana contra o Tottenham. Por sorte, e inspiração de Harry Kane, o Newcastle acaba a perder por 3-2. Nas bancadas velhos adeptos, manipulados pela nova direção do clube, puseram turbantes na cabeça e colocaram os lenços árabes, como gatinhos amestrados. Felizmente, 19 clubes de futebol da League já tomaram posição sobre a venda sucessiva de clubes aos dinheiros do petróleo e das armas sauditas. Não falta muito tempo para que os clubes centenários de futebol, que criaram laços com as comunidades de adeptos, se tornem asséticas empresas capitalistas, nas mãos de oligopólios russos ou sauditas, perdendo identidade e relação sentimental com todos aqueles que fazem do futebol a «recordação semanal da infância», como muito bem escreveu Javier Marías, a propósito.