Pela primeira vez desde 1917, a Igreja Católica se submeteu ao Estado, cancelando as peregrinações dos crentes à Cova da Iria. Talvez não! Durante a 1ª República e sobretudo no Estado Novo, a Igreja sempre teve a indiferença primeiro e o estímulo depois, dos vários governos de Salazar e de Cerejeira, para consolidar e alargar o dogma das chamadas aparições. Fátima foi a maior construção católica inventada pelo poder da Igreja, como forma de restabelecer padrões de conservadorismo, atraso secular e subdesenvolvimento em Portugal. Se acrescermos a data de 1917, se percebe como a revolução bolchevique obrigou a igreja de Leiria/Fátima a acelerar o culto.
O livro acima é uma obra de leitura obrigatória, uma tese para os ignorantes e para os não sabedores, que mostra como Fátima se tornou um aparelho ideológico fundamental para o fascismo e também para a democracia.
Antes, muito antes, já tinha lido o célebre «Fátima Desmascarada» de João Ilharco que, sem rebuço, dizia em 1971 (Coimbra, 2ª edição do autor):
O sobrenatural de Fátima foi obra de um pequeno grupo de eclesiásticos, inteligentes e ousados, que tinham contra o regime republicano, implantado em 1910, grandes ressentimentos...(do preâmbulo)
Claro que já li também a obra pouco canónica de Fina D'Armada, «Fátima, O Que Se Passou Em 1917?», tese inscrita na ideia de aparições extra-terrestres, que tem sido muito desenvolvida pelo especialista da área Joaquim Fernandes. E ainda o grande manifesto, e desabafo, do padre da Lixa, Mário de Oliveira, «Fátima Nunca Mais», que num dos capítulos intitula mesmo: "Coloco este livro nas mãos de Maria, a mãe de Jesus, contra a senhora de Fátima" (Campo das Letras, 2000).
A língua portuguesa, a língua toda ela, não é só para comemorar num dia qualquer!
Nota: O livro de Fina D' Armada emprestei-o a um amigo para a sua tese de licenciatura e perdeu-se...