Quando estudei na Universidade de Évora já tinha ouvido falar em António Gancho. Na altura proporcionou-se um encontro com poemas do autor, num dos cafés frequentados pelos estudantes. Li vários e hoje sou lembrado deles quando soube da morte do poeta na noite da passagem do ano. Por acaso nessa noite estava no Alentejo, exactamente no distrito de Évora.
Leio, de novo, dois dos seus poemas:
Devagar se vai ao longe
Devagar se vai ao longe
se eu fosse monge.
Mas como não sou monge
devagar não vou ao longe
só monge.
Mas como eu também
devagar não quero ir ao longe
por isso também não me fiz monge.
Mas como eu também
não quero que se sonhe
que se ponha em questão
a causa da razão
deste poema devagar se vai ao longe
cujo tema é sobre um monge
então por isso neste caso
já não omisso
faço que se diga com isso
amigo ou amiga
mais vale o prejuízo.
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Noite Luarenta
Noite luarenta
Noite a luarar
Noite tão sangrenta
Noite a dar a dar
Na chaminé da planície a solidão a cismar
na chaminé da planície noite luarenta a dar a dar
Noite luarenta
noite de mistério
noite tão sangrenta
solidão cemitério
Na chaminé da planície
o Alentejo a solidar
noite luarenta que o visse
noite luarenta a dar a dar
Noite luarenta
noite luarol
na chaminé da planície
o temor e o tremor
O cavalo a luarar
a lua a fazer meiguice
noite luarenta a luarar
noite luarenta a luarice.
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