Durante o período do Euro 2004 escrevi vários textos sobre a problemática do futebol, designadamente questionando os sentidos de identidade dogmática e de afirmação nacionalista que se promovia com o evento. Na altura, muitos teóricos embevecidos pela bola, mais emotivos que racionais [portanto mais primários na análise] acharam que andar de bandeira desfraldada é que era bom e que o “patriotismo” não teria qualquer problema. Hoje as consequências desta posição estão aí bem visíveis: um carnaval hediondo, de acusações e ofensas, mesquinhices e violência verbal, arregimentação de claques e incompetências governativas. Tudo se mistura fazendo do quotidiano das televisões uma aldeia global de roupa suja que nos entra a toda a hora portas adentro. Algo que o futebol não mereceria. Ou talvez este futebol mereça esta cambada que o dirige, nos clubes e no governo.