terça-feira, outubro 19, 2004

[a cultura]: A formiga no carreiro...

(escríticas renascentistas)

[22] A formiga de Dâmocles. Oiço na TV referências ao eventual julgamento do caso que opõe a ex-ministra da justiça, Celeste Cardona, ao fiscalista Saldanha Sanches, que a acusou de fazer apenas o jogo do CDS no governo. Numa altura em que se comenta o escândalo da entrada da ex-ministra na Administração da Caixa Geral de Depósitos, esta notícia cai como uma espada de Dâmocles sobre os ombros da nova administradora. E só dá razão às antigas declarações de Saldanha Sanches.

[23] A formiga mais papista que o papa. Notícia da manhã: o Papa, depois de uma grande letargia, descobriu, agora, que o Dalai Lama e o líder religioso indiano tinham celebrado rituais religiosos no santuário de Fátima. Amedrontado com a diversidade religiosa, e com a livre escolha de novos e velhos crentes, despacha no sentido da destituição do Bispo de Leiria e do responsável do santuário. Por aqui se vê o imperialismo do Catolicismo e a discriminação de outros credos religiosos.

[24] A formiga cabulona. Quem ouviu a palestra do ministro do turismo, Telmo Correia, na altura da inauguração da secretaria de estado do turismo em Faro, aprendeu uma verdadeira lição. Diz o ministro, perante uma plateia de alunos a bocejar, a propósito da matéria que domina, como ninguém: “Bom, se fizerem uma chaveta e colocarem lá estes tópicos, se ficarem com esta cábula, tenho a certeza que não terão, no futuro, problemas com qualquer exame”. Esta é a verdadeira pedagogia da direita: Chaveta? Tópico? Cábula? O ministro mostra estar cristalizado, não só no turismo mas também na educação. Para a direita, este governo é uma verdadeira brincadeira aos governantes.

[25] A formiga reformadora. Bagão Félix tem muita falta de vergonha na cara. Para abrir caminho ao ex-secretário de estado Vitor Martins, para a presidência da CGD, nada mais fácil: reforma o ex –ministro Mira Amaral, com a mísera quantia de 3.600 contos mensais e numa celeridade nunca vista. Ao mesmo tempo, com o desplante que se lhe conhece, afirma que quer gerir as finanças do estado, como se fosse de uma família. Da sua, concerteza.

[Zenão de Flandres] (pseudónimo retirado do personagem principal do romance «A Obra ao Negro» de Marguerite Yourcenar).
(publicado em «A Voz de Loulé» de 15 de Outubro)