sexta-feira, maio 08, 2020

José Zambujal

 (O Zé entrevista, numa gruta de Monsanto, a cantadeira e tocadora de adufe Catarina Chitas-Ti Chitas)

A morte vem tropeçar nos nossos pés, nos nossos olhos. Foi assim com o Fernando Grade, quando procurava um tema nos jornais online. Agora é a morte do Zé Zambujal, que vem por arrasto de um link nas leituras do meu telemóvel. O artigo do Postal do Algarve (aqui) anuncia-o como filho do «humorista desportivo Francisco Zambujal», mas o Zé não precisa dessa ascendência. O seu percurso passou por quase tudo, da escrita jornalística às artes como a fotografia, ou como agente musical, que praticou sempre de sorriso e afinidades eletivas.
Conhecemo-nos em 1978, quando fui viver para Faro, e mesmo com a vida da política e da cultura fomos convivendo, namoriscando as raparigas em volta da Escola do Magistério Primário, depois em torno do novel  e brilhante Teatro Laboratório de Faro, que o Zé fotografou nos ensaios e nas peças. Em casa da família dele conheci o pai e apreciei muitas das suas caricaturas desportivas, que apenas lembrava das páginas de A Bola, nos anos idos de Portimão. Foi ele que me emprestou o fato de mergulho na Ilha do Farol, eu que só conhecia a proteção do óleo de coco besuntado no corpo, para aguentar 30 minutos nas águas da Praia do João de Aréns/Portimão, onde caçava polvos e chocos.
Antes de partir para os vários ofícios em Lisboa, o Zé ainda arrendou, com o Francisco Rosado, o célebre 7ºC, um apartamento na Rotunda do Hospital em Faro, onde nasceu o grupo de música 'Levante', mais tarde batizado de Dar de Vaia. O 7ºC era uma das casas da comunidade de malta jovem de Faro e de Olhão, da música, da poesia, do teatro, da boémia das noites, do Cine Clube de Faro, do Círculo Cultural do Algarve, do Teatro Laboratório, do Dar de Vaia, da Cooperativa Lábios Nus... Ali perto, na Estrada da Penha, a minha casa (em comum com outros amigos e amigas) era outra das casas com a mesma vida.
Há dois ou três anos atrás reviu-o, depois de muito tempo, no concerto da Viviane em Loulé, amiga comum que o Zé agenciava. Eu, que tinha sido o primeiro manager dos Entre Aspas. Caramba, como a vida é!
O Zé, nas suas últimas palavras, confessa que viveu! Verdade!