domingo, maio 31, 2020

Conto infantil na Eco dos Pássaros


Era uma vez dois gatos. Um era azul e o outro era cor de laranja. Naquele dia encontraram-se e ficaram muito espantados, por se descobrirem de cores diferentes. Pensavam que todos os gatos eram pretos, ou brancos, ou cinzentos, ou castanhos, mas nunca da cor de cada um deles. Ou mesmo de cor diferente.
O conto para a infância, de que se dá aqui um extrato, publicado na 4ª zine do Eco dos Pássaros (só para membros) estará em breve, na íntegra, na Epopeia Books (ver aqui)

sexta-feira, maio 29, 2020

Governo mente sobre apoio às escolas

Mas alguém acredita, que a circular que o ministério da educação preparou com vista a retirar às escolas um apoio substancial para o próximo ano letivo, foi enviada indevidamente. Quem a redigiu, e quem a ditou politicamente, queria mesmo roubar às escolas o dinheiro necessário ao apoio aos estudantes e famílias  mais desfavorecidas, como referiu o Bloco de Esquerda que descobriu a marosca. (Ler+)

quinta-feira, maio 28, 2020

Posturas de lula

A semelhança com restos de organismos gelatinosos parece evidente, sobretudo quando escondidas entre as algas que deram à costa com as marés de maio. Mas os meus amigos do Grupo Plâncton, do IPMA, lá esclareceram de que se trata de posturas de lulas. Confesso que não me lembro de alguma vez as ter visto, pois são menos comuns do que as posturas de ovos de choco.

quarta-feira, maio 27, 2020

The Weekly



O jornal americano «The New York Times» continua a brindar-nos com magníficas reportagens em documentário visual, sobre a diversidade da política internacional, dos raptos do Boko Haram até à negligência dos lares que cuidam de pessoas com doença mental, em Boston. Contrariamente aos media internacionais que conhecemos, este jornalismo é sério, usa o contraditório, investiga e publica. Os recentes acontecimentos em Portugal, com as macaquices da revista «Sábado» sobre as pseudo-declarações de Catarina Martins sobre o país, mostra bem o que há a rever na formação axiológica dos jornalistas. Felizmente, temos gente que faz da profissão ainda um apostolado, casos da revista «Visão» que desmonta os laços subterrâneos do Chega, ou dos media brasileiros «Globo» e «Folha de São Paulo», que deixaram de participar na feira miserável que dá pelo nome de conferências do presidente do Brasil.
É ver todas as terças, The Weekly às 23 horas, no canal Odisseia.

Qual céu da Grécia!

A cor deste céu, a meio de uma manhã de maio, recortada no perímetro irregular da arriba de argila, que o mar já beijou há milhões de anos, deve ter sido visto por companheiros de Ulisses ou de Amílcar, enquanto comiam o garum que sobrava do enchimento das ânforas. Que sorte a nossa olharmos os mesmos céus.

terça-feira, maio 26, 2020

Quatro microcontos de aragens marítimas

https://www.makeithappen.pt/noticias/terceira-zine-de-o-eco-dos-passaros-ja-esta-disponivel



Os gatos
Os gatos eram pretos, como todos os gatos que penso ter conhecido, andando ronronadamente sobre o valado branco. Do meu lado, do lado que olhava, terra batida e chapas velhas das cabanas: um apport de cozinhas proletárias e breves; do outro lado, do lado para o qual o gato olhava, a estrumeira dos corpos do povo da fábrica. Entre mim e o gato, um arco de flechas. Sabem, as varetas dos velhos guarda-chuvas, uma dobrada a fio de pesca e a outra de ponta afiada na pedra de amolar da soleira da porta? Quase sempre a flecha atravessava o pelo e o corpo do gato preto e ele caía do lado de lá, do lado da estrumeira.

Helder Raimundo, microconto publicado na revista Minicontos (aqui)
*
Outros quatro microcontos inéditos estão já publicados na 3ª Zine do Eco dos Pássaros, ainda só para membros, mas em breve em livro.
[Clicar na imagem para ler]

Novilíngua covid no futebol

Os programas de desporto (perdão, futebol) voltaram a todos os estúdios de televisão, com os mesmos velhos comentadores regressados, desta vez a discutir quantos estádios servem para as 10 jornadas que faltam. O paradigma covid (como dizia o outro) entra na linguagem do tema e pode ser lido em todos os rodapés: «O número de estádios para a liga de futebol sobe para 14».

quarta-feira, maio 20, 2020

Poemas sobre viagens por dentro

https://www.makeithappen.pt/noticias/segunda-zine-de-o-eco-dos-passaros-ja-esta-disponivel



A RIA FORMOSA

Na tarde, notavam-se as ausências no lago.
Onde estavam os flamingos rosa,
dormindo o dia nos aquilinos bicos?
E as correrias dos velhos galeirões,
mostrando quão perene é o nosso tempo?
Patos reais, porfírios azuis, nem as garças brancas
denunciam a vida, junto das sapeiras e das dunas,
nas águas salobras.
Talvez um apelo longínquo das gaivotas,
atentas ao desenrolar das estações,
ou o incómodo da primavera dos homens,
sempre dispostos a perturbar a serenidade
dos belos mundos
que desconhece.

(Helder Raimundo, poema publicado na revista «Máquina do Mundo» / Brasil)

*
Outros cinco poemas inéditos estão já publicados na 2ª Zine do Eco dos Pássaros, ainda só para membros, mas em breve em livro.
Clicar na imagem para ler

Ria Formosa

Ria Formosa hoje de manhã, já na força da enchente da maré. Tempo ido de captura de bivalves e de crustáceos, em dia e zona de abertura no edital do IPMA.

terça-feira, maio 19, 2020

Ana Gomes, candidata a presidente?

Não será a minha eleita a presidente da República, eventualmente. Mas a candidatura de Ana Gomes à presidência é fator decisivo de combate à extrema-direita reacionária. Por um lado, tem condições para recolher os votos de socialistas militantes e eleitores, que não se revêem no golpe unilateral e antecipado de António Costa; por outro lado, pode ainda canalizar votos de alguma direita descontente com o bloco central dos interesses capitalistas (de PS e PSD) plasmados na presidência de Marcelo. À esquerda, eventualmente Marisa Matias e o sempre militante destacado do PCP (seja quem for), cumprirão a quota da esquerda, à esquerda do Partido Socialista. À direita, se surgir a candidatura liberal de Adolfo Mesquita Nunes, fica o caldeirão eleitoral quase preenchido, derrotando o inimigo dos ciganos, dos trabalhadores e da democracia.

Pequenas histórias do 25A74

A propósito do meu testemunho sobre o 25 de Abril de 1974, publicado no facebook do Museu do Aljube (ainda é possível ler clicando na imagem aqui ao lado), o amigo José Quadros envia-me o seu testemunho, enquanto miliciano que viveu o período do golpe das Caldas e o 25 de Abril ainda na tropa, o que agradeço e aqui se publica:
Caro amigo
É verdade que todos os que na altura cumpriam serviço militar terão um bocadinho da história deste país por contar, especialmente importante porque partem de outros ângulos que não são os do Terreiro do Paço e esses estão documentados. Podem ser pequenas histórias mas todas ajudarão a construir a grande história. Aquilo que vivi no meu contexto passou ao lado da grande história. Nunca vi referido que todos os cabos milicianos do golpe das Caldas estiveram presos em Santa Margarida e foram interrogados por generais vindos de Lisboa. Eram cento e tal. Eram milicianos como eu e sentia na pele o impasse que aquilo representava para a vida deles. Falava particularmente com eles e dentro de um certo secretismo ajudava no que podia sem levantar na estrutura superior evidências. Era assim que lhes levava o correio em mão para o Tramagal, pois tinha-me apercebido nos primeiros dias que o correio ficava na gaveta do comandante da unidade. Os familiares por este meio localizaram-nos e vinham visitá-los, mas havia regras apertadas. Contactos só à distância. Arranjei uma saleta clandestina e metia lá os familiares sozinhos com eles e só poderiam de lá sair depois de eu verificar com o sentinela conivente  que não andavam superiores por ali.
E por aí fora…muitas histórias.

segunda-feira, maio 18, 2020

Ricos e Pobres no Alentejo

A partir de 1980, e sobretudo a partir do verão de 1982, quando fui convidado a integrar a equipa do Museu Etnográfico de Faro, com vista a uma primeira recolha sócio-antropológica no concelho de Aljezur (que saudades!), desbravei muitos dos conhecidos livros da etnografia e da antropologia mais disponíveis em cópias, bibliotecas ou livrarias. Entre os portugueses lá estavam os obrigatórios Jorge Dias, Orlando Ribeiro, Viegas Guerreiro e a equipa maravilha de Benjamim Enes Pereira, Fernando Galhano e Ernesto Veiga de Oliveira. Mais tarde, em 1983-1984, na organização da renovação do Museu Regional do Algarve, venho a encontrar um dos estudos mais interessantes de etnografia, a monografia sobre Vila Velha, (nome fictício de Monsaraz, no concelho de Reguengos), da autoria de José Cutileiro. A obra, escrita no período marcelista (1971) trata da organização social daquela comunidade, na perspetiva dos estudos antropológicos da corrente portuguesa, mas marca pela sua inovação da linguagem e da distanciação científica do jovem autor. Mais tarde, como obituarista, li muitas das suas crónicas no jornal «Expresso», até me cansar dos longuíssimos parágrafos descritivos e interpretativos que eram marca pessoal do embaixador que morreu há dias.
A edição que tenho é a primeira, de 1977, da Livraria Sá da Costa Editora, traduzida da edição inglesa e com prefácio do autor. Julgo existir uma edição posterior da Livros Horizonte.

domingo, maio 17, 2020

Como fazer praia sem ver o polígrafo sic

Praia da Falésia, no concelho de Albufeira, domingo, 17 de maio de 2020, 11:30h: 
«Bom dia! O conceito de praia que os senhores estão a fazer, só é possível depois de 6 de junho, conforme instruções do governo. Podem caminhar mas não estar parados (nós dissemos que sim, conhecíamos e respeitávamos porque apenas fomos caminhar, como é habitual, e mesmo em pleno  agosto escolhemos aquele  espaço vazio de aglomerações), os senhores têm o dever cívico de respeitar as normas, mas a minha função é avisar toda a gente, para evitar 'aglomeramento' de pessoas (ouvimos o pequeno erro, mas aceitamo-lo e dissemos que sim, estávamos só a descansar e que dentro de meia hora iríamos voltar a caminhar, de regresso a casa). Bom dia, então» (Obrigado, bom dia também para si e bom trabalho).
O agente da autoridade marítima seguiu na sua viatura moto4, a avisar quem estava parado nas areias, de barlavento a sotavento.

Ovos de choco na tempestade

De fevereiro a outubro de cada ano, as fêmeas de choco depositam mais de 4 mil ovos em algas ou pequenos arbustos marinhos, depois de inseminadas pelos machos. As chuvas e as tempestades, que ocorrem no inverno e na primavera, desagregam e desprendem os cachos levando-os para terra. Foi o que aconteceu a estes que, entre muitos outros, hoje vogavam nos espaços interditais da enchente na Praia da Falésia.

sábado, maio 16, 2020

Silêncio e vagar contra a velocidade...

Afinal, o fechamento domiciliar e a redução da vida social e profissional deveriam ter provocado um abrandamento das solicitações do quotidiano, dando lugar, apesar da calamidade, a um tempo mais lento e mais tranquilo. Todavia, este cenário benévolo deve ser relativizado, dado o isolamento obrigatório ter adicionado pesados fatores de tensão e de cansaço, e também porque para muitas pessoas com atividade ligada ao teletrabalho as novas condições e os exigentes deveres profissionais acabaram por impor uma dose adicional de esforço, angústia e fadiga. (Rui Bebiano)
Vale a pena começar a refletir sobre estas questões! LER+

sexta-feira, maio 15, 2020

Casa da Cultura de Loulé fez 41 anos



Discretamente, na pandemia, a Casa da Cultura de Loulé comemorou o seu 41º aniversário, que por deliberação própria coincide com o aniversário do 25 de Abril de 1974. Para além de um texto desafiante, a CCL editou e publicou um conjunto de vídeos de mensagens de alguns dos seus mais conhecidos membros, sobretudo do Teatro Análise de Loulé. No vídeo acima, o presidente da Casa, Sérgio Sousa, lê um poema de José Luís Peixoto.
Parabéns, mesmo atrasados!

quinta-feira, maio 14, 2020

Contos da pandemia



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O E-SCRAVO SUBVERSIVO
Helder Faustino Raimundo

«Anda um barquinho no mar! Foi a primeira frase que ouviu, quando retirou os olhos da folha oficial timbrada que o chefe lhe tinha entregue, com uma ordem precisa e imperativa: António, este assunto é para resolver de imediato!
Olhou para o mar, ainda absorto no que acabara de ler, definindo mentalmente como iria proceder para não levantar melindres. De facto, perto da praia, onde tinha acabado de beber um café com um pouco de açúcar refinado, cerca de quatro gramas do pacote por causa das ameaças de saúde, uma embarcação de pesca navegava às voltas, arrastando a ganchorra de ferro e rede da apanha de conquilhas (...)».

Em breve, no livro a editar pela Epopeia Books, chancela da Make It Happen, que reúne contos, poesia e outras narrativas de artistas em criação quase permanente. 
(Clicar na imagem para aceder ao site da MIH)