Pablo Iglésias é um fenómeno político nascido dos movimentos sociais de esquerda em Espanha, mas também do capital cultural e social que proveio da sua presença na televisão e noutros media. Na altura, há cerca de seis anos, quando o Podemos já era uma força de interesse na esquerda anticapitalista, lembro-me que discutia com os meus companheiros o fogo fátuo que poderia ser aquela força política e, em especial, o seu líder incontestado. Estas forças políticas, heterodoxas e multi-ideológicas, naturalmente desenvolvem ciclos de cisões, conflitos e ascensões seguidas de queda. Depois da subida ao poder em Espanha, na coligação com o PSOE e com o lugar de vice primeiro-ministro, eis que Iglésias cai no seu desafio mais difícil: ganhar ao PP na Comunidad de Madrid. Agora sai de cena, do Unidas Podemos e da política institucional. Mas é importante dizer que, durante os últimos anos, Pablo Iglésias e a sua família sofreram um permanente assédio das forças ultradireitistas, com as piores ameaças de violência. Apesar dos erros, normalmente cometidos, o ciclo de rutura do bipartidarismo no país vizinho, que agora pode ser revertido, foi um momento de saúde para a democracia espanhola e o gesto de Iglésias deve ser louvado e compreendido.