segunda-feira, abril 11, 2005

O Monte da Piedade

A MINHA VARANDA

A minha varanda olha o Monte da Piedade,
uma bruma diáfana que escurece o verde claro das folhas
das árvores que semeiam os socalcos de xistos amarelecidos.
As ovelhas, essas balem sobre os últimos pastos
ressequidos dos humores do Verão que terminou,
levantando sob as suas negras patas, os aromas do tomilho,
os cheiros dos polens das abelhas e dos figos maduros.
Os melros procuram o fresco da ribeira e esvoaçam
entre amendoeiras, oliveiras e canaviais, no leito seco.
À noite, os grilos e os ralos sobrepõem o seu canto, ritmado
ao barulho dos automóveis, num vulgar destino sobre rodas,
acompanhando a aragem fresca sobre as copas das árvores.
No céu, as estrelas brilham no azul de Outono, lembrando o caminho
que o homem percorreu dentro de si, sobre uma branca folha de papel.