Já aqui falei das releituras que fazemos e
das mudanças que sentimos na reinterpretação das palavras, de acordo com o
contexto social e cultural desses novos momentos. Na altura, falei da releitura
do livro de Javier Marías, crónicas de futebol no livro «Selvagens e
Sentimentais». Agora é a vez da releitura, 15 anos depois, do livro de crónicas
(cada uma composta de quatro páginas de reflexão e humor) de Bill Bryson,
«Notas Sobre Um País Grande» (Quetzal, 2006). Entre as belas crónicas escolho a
intitulada “O Manual dos Estados Unidos” (pp. 130-133). Nela, Bryson conta como
herdou do pai a mania e o hábito de perscrutar as idiossincrasias dos
americanos, no que respeita às designações encomiásticas dos nomes dos estados nas
matrículas dos automóveis. Por exemplo, Maine é ‘Terra de Férias’, Nova Jérsia
é ‘Zona de Costa’ e Indiana é ‘Estado Grande’ e ele não percebe porquê, nem
como. Para estas diferenças o autor encontra uma explicação: «Isto serve para
introduzir a importante lição de hoje: os Estados Unidos não são tanto um país
mas antes um aglomerado de cinquenta pequenas nações independentes e é perigoso
esquecermo-nos disso». Lembram-se do ataque dos apaniguados de Trump ao
Capitólio?