A tarde já ia no fim,
Fazia um destes calores!
Que eu fui para o meu jardim,
Bem para o meio das flores.
Ouvia as cigarras cantando,
Em coro uma sinfonia.
E assim iam tornando,
Tão belo esse fim de dia!
Via as lindas borboletas,
Livres pelo ar voando!
Amarelas, brancas e pretas,
Iam com a brisa brincando.
E eu via tanta beleza,
Senti-me embevecida.
Tão linda é a natureza!
Meu Deus, é bela a vida!
[Albertina Coelho Rodrigues, Do Sonho à Realidade, 2005]
Albertina é uma das muitas mulheres do mundo rural que cedo começou a trabalhar no campo, sem puder aprender a ler e a escrever. Só o fez depois dos 60 anos. Mas sempre dela brotou a poesia sobre a natureza bucólica ou simbolista. É um oásis na poesia popular quase só entregue a homens. E as questões de género, aqui, não são dispiciendas, por que se trata de uma voz solar, de uma voz de poeta no feminino.