quarta-feira, julho 29, 2020

«Os Meus Quinze Anos»

Os Meus Quinze Anos é um projeto da Casa da Cultura de Loulé (CCL), que pretende registar as memórias de várias gerações sobre o tempo, o momento dos 15 anos de cada pessoa. Para a CCL trata-se de
Conhecer a evolução cultural, social e económica a partir de diferentes perspetivas e vivências é termos a possibilidade de beneficiar de testemunhos e reflexões que afinal temos ao alcance de depoimentos e conversas partilhadas. 15 anos, é idade de sonhar, de desenhar futuros... Que futuro? 
A equipa já registou diversos testemunhos, que são um património memorial fundamental para conhecer e interpretar gerações e contextos sociais e políticos diferentes. E podem ser vistos aqui. 

terça-feira, julho 28, 2020

Carnaval de Loulé em 1974

Estávamos a dois meses do 25 de Abril de 1974, mas a crise do Estado Novo, e a abertura forçada do marcelismo de continuidade, permitia toda a resistência e protesto, mesmo em forma de parada e paródia carnavalesca. Em fevereiro de 1974, em Loulé, Valter Contreiras - animador social e associativo da cidade - convida o seu primo Adão Contreiras e José Maria Oliveira (mais tarde animador da Câmara de Loulé) para dinamizarem um carnaval diferente. O cartaz (reproduzido acima) dá o sinal de rutura política e os carros apostam na crítica social local e nacional.
O pequeno filme, de cerca de 3 minutos, filmado por Wenceslau Pinto, foi há tempos digitalizado pelo Adão e pode ver-se no seu blog.

quinta-feira, julho 23, 2020

Uma visão diferente

O título é pacóvio, mas o conteúdo vale a pena. Falo da série espanhola da RTVE com a designação «Uma Visão Diferente», que a RTP 2 acabou de exibir e que provavelmente passou em claro, com pouca audição. A história do colégio feminino dos anos 1920, em Sevilha, que marca o período do pós 1ª guerra e antecede alguns anos a república popular espanhola, é bem construída com os principais conteúdos da democracia e do feminismo: luta pela igualdade das mulheres, educação partilhada entre professoras e alunas, a ascensão dos direitos de matrimónio e divórcio, etc. Os homens aqui são figura de estilo: jardineiros e mecânicos, carteiros e anarquistas, capitalistas aldrabões. O final não é o que espera o popular espetador. O capitalista compra o colégio para construir um hotel e as raparigas seguem a sua vida que daria o futuro a Espanha, o que isto queira dizer. As principais personagens, no fim rumam a Paris, cidade da moda e do futuro, onde se encontrariam, talvez, com Amadeo Souza Cardoso ou mesmo Mário de Sá Carneiro.
A série pode ainda ser vista na RTP Play e devia ser obrigatória para quem faz das aulas a sua vida!

quarta-feira, julho 22, 2020

O clímax das conquihas

As conquilhas, bivalve saboroso e caro na praça e nos restaurantes, são de borla na Praia da Falésia, local onde se alimenta, perto dos seus bancos de reprodução a cerca de 100-200 metros da costa. Este ano, como resultado do defeso provocado pela pandemia, que retirou muitas embarcações da captura por arrasto, levou ao aparecimento de grandes quantidades do bivalve nas marés baixas da grande extensão de praia, entre a Ribeira de Quarteira e Olhos de Água. Habitantes locais, conhecedores ou não, colhem nas marés as suas refeições simples ou complexas de xarém, secundadas por turistas nacionais e não nacionais aprendizes de 'nativismo'. O problema é que é retirada das areias toda a criação, que não se desenvolve e, naturalmente, não se reproduz para o próximo ano. O IPMA estudou recentemente os bancos de bivalves no sul e na costa vicentina (e também nesta praia), mas ainda não temos resultados. Certeza, é a de que para o ano não há conquilhas para ninguém!

terça-feira, julho 21, 2020

O fim de Freud

Nem a propósito, mas a acertar agulhas com o meu post sobre Lou Andreas-Salomé, o historiador António Araújo escreve sobre os últimos tempos de Freud. Destaque no Malomil para o texto, como sempre irónico, no Diário de Notícias (clicar no jornal).

Lou Andreas-Salomé

No tempo da minha boémia dos anos 1980, comprei este livro de Lou Andreas-Salomé. Na altura, as minhas escolhas literárias estavam entre as primícias do ecologismo e a filosofia mais clássica. Após estudos e leituras de filosofia (também fui dando algumas explicações a estudantes dos 10/12º anos), fui adquirindo algumas das obras menos conhecidas, como é este caso da pequena, mas sumarenta biografia de Lou Andreas. Mais conhecida por ter sido companheira do grande poeta austríaco Rainer Maria Rilke (René), de ter convivido e estudado psicanálise com Freud, ou de ter sido a grande paixão de Nietzsche, ela é sobretudo uma das grandes e pioneiras feministas da transição do século XIX para o XX. Mas a leitura do livro permite perceber, na verdade, quem influenciou os escritos filosóficos do autor do «Anti-Cristo», ou quem colaborou na escrita do célebre «Livro das Horas» de Rilke.
Interessante é verificar o pioneirismo das suas palavras, mostrando as perversões como tendo origem na mesma fonte das sublimações superiores da alma; e a necessidade de regressar ao primitivo, ao primário da nossa essência, como condição do nosso entendimento. A ler, a ler!

segunda-feira, julho 20, 2020

Loulé vai a banhos!

Loulé sempre foi a banhos a Quarteira. Dizem os quarteirenses, com quem convivi de forma muito próxima quando lá trabalhei nos anos de 1978-1979, que os louletanos faziam da sua praia o seu quintal. As rivalidades são conhecidas, entre a vila rural e aristocrática e os marítimos da pesca e da mariscagem. Vem este intróito a propósito da nova rubrica - presumo - da Casa da Cultura de Loulé, instalada no you tube, com a designação genérica «No Tempo dos Avozinhos» e neste primeiro episódio dedicado ao verão, com o título 'Loulé Vai a Banhos'. A proposta é simples, bem suportada documentalmente e arejada no tempo de duração. Ver aqui.

quarta-feira, julho 15, 2020

Silly Season no Algarve

Um dos exemplos que mostra a entrada da silly season no Algarve, é ver os homens carregarem as suas pochettes, de várias cores berrantes, carregadas de telemóveis e documentos, presas entre o polegar e o indicador, caminhando junto da maré, ao lado das suas companheiras de trajeto. Ao contrário do choradinho de empresários e capitalistas da região, secundado pelo lamento eleitoralista dos autarcas do Algarve, as praias, hoje, dia de início da quinzena mais silly das férias, encheram-se desta gente. Portanto, temos os cofres do capital a amealharem euros e os trabalhadores da hotelaria a aguardarem ainda, salários devidos de março.

terça-feira, julho 14, 2020

Daniel Oliveira e a identidade dos algarvios

Mesmo um dos melhores comentadores e jornalistas pode cair na generalização. A propósito dos contágios pandémicos de Covid 19, que levaram os patetas do governo britânico a decretar quarentena para quem viaje para o Algarve (agradeço encarecidamente, ó Boris), Daniel Oliveira  (no «Eixo do Mal» passado) referiu que os algarvios protestam conta o facto mas não se preocupam com o caso do contágio ocorrido em Lagos. Para ele, os algarvios preferem libras a euros. Ora porra, Daniel, não generalizes. Pois, provavelmente estás a referir-te a uma entidade que não existe. Como de define a identidade 'algarvio'? São os nascidos no Algarve? São os residentes no Algarve? São os que por cá circulam, explorando os que cá trabalham? 
Para este peditório já dei o que tinha a dar, e pode ser lido aqui.

sábado, julho 11, 2020

Votar à esquerda nas presidenciais

Vi a entrevista do ministro Pedro Nuno Santos (PNS) a Vitor Gonçalves, na RTP 3. Não o achei especialmente à vontade nas questões ideológicas, sobretudo no tema mais badalado - as eleições presidenciais. A argumentação é um pouco dogmática ('visão do mundo', 'socialista', 'defesa dos mais desfavorecidos'). Sobre o capitalismo financeiro, a exploração do trabalho, a desigualdade social das classes, pouco ou nada. Mas no que nos interessa aqui, convém destacar a sua frontalidade, já que a bomba que lançou deixou muitas abertas para o vento leste passar. Não havendo candidato da área socialista, o ministro e cidadão socialista Pedro Nuno Santos não vota em Marcelo. Marcelo é da direita e por mais que o 1º Ministro o esconda e embrulhe como favorável à esquerda portuguesa, a equação é simples: se Ana Gomes não avançar, PNS vota no candidato do Bloco ou no do PCP. E mais nada!
Aconselho o texto, argumentado com teoria democrática, de Paulo Pedroso (aqui!)

quinta-feira, julho 09, 2020

Aqui há gato! Ou Rita Rato?

Não tenho que concordar com os argumentos do Malomil (mas entendo-o), mas que aqui há rato, há! Uma ex-deputada do PCP, que o partido decidiu desempregar, é agora escolhida pela EGEAC (responsável pelos equipamentos culturais de Lisboa) para nova diretora do Museu do Aljube. O perfil não corresponde ao pedido de candidatura (sabemos pela SIC que foram cerca de 70 as candidaturas apresentadas, muitas de historiadores experimentados), nem na formação académica, nem no currículo de gestora cultural. Então o que poderá ser? Fernando Medina, presidente da Câmara de Lisboa, já deve estar a preparar a sua candidatura a novo mandato e precisa das contrapartidas históricas do PCP (agora infelizmente sem Ruben de Carvalho). O que pode fazer Medina, a não ser pensar na autarquia de Lisboa ele que não tem qualquer hipótese na disputa com Pedro Nuno Santos, na liderança do PS?

quarta-feira, julho 08, 2020

Portais tecnológicos pagos a peso de ouro, pois claro!

Mais novidades sobre os contratos de aquisição de serviços do Ministério da Educação, que vão dando milhares de euros às empresas tecnológicas, e milhões de dados ao roubo tecnológico. 

A Guerra dos Mundos, de HGWells

É um dos livros mais conhecidos, mas admito que pouca gente o leu. A obra de Herbert George Wells (HGW), escrita em 1898, é mais conhecida pela reportagem radiofónica simulada por Orson Welles nos Estados Unidos, semeando o pânico com uma putativa invasão marciana, ou mesmo pelo filme de Spielberg, com Tom Cruise como eventual personagem do narrador original. Aliás, a obra de Spielberg aproxima-se bastante da ficção de HGW, acrescentando, como é plausível, o romance familiar num contexto periférico proletário de Inglaterra. Mais do que a série com o mesmo nome do livro, que recentemente passou num canal de cabo e que inventou uns marcianos robóticos em figura de cão, cuja narrativa se baralhou entre tiros e militares desavindos.
Mas a obra de Wells, que abriu caminho a quase todas as visões distópicas e de ficção científica, apresenta uma resposta comprovadamente científica para a sobrevivência da espécie humana e a morte dos marcianos na Terra: uma bactéria presente na espécie, à qual os humanos se habituaram por assimilação, mas desconhecida pelos invasores:
(...) aniquilados pela bactéria da doença e da putrefacção contra a qual os seus organismos não estavam preparados; aniquilados como o tinham sido as plantas vermelhas, depois de todos os engenhos humanos terem falhado, pelas coisas mais humildes que Deus, na sua sabedoria, colocou na Terra. (...) (p. 173)

terça-feira, julho 07, 2020

Roubo de dados na plataforma do Ministério da Educação


O Ministério da Educação deve ser ingénuo. Cria uma plataforma tecnológica para as matrículas do ensino básico e secundário no próximo ano letivo, sabe que são milhares de estudantes, milhões de dados, que valem ouro para o capitalismo da finança tecnológica, e depois fica à espera que a ataquem e roubem esses dados. Depois do ataque informático, já denunciado em todo o lado, volta atrás, e obriga apenas a realização de matrículas online, de anos iniciais de ciclo. Ora porra! 
Ler mais aqui!

Morcegos cavernícolas do Algarve

Em tempos foi uma das minhas matérias ambientais, sobretudo no conhecimento da presença de morcegos das espécies 'de peluche e 'rato-pequeno', muito presentes nas grutas e cavernas do concelho de Loulé, sobretudo nas áreas de Paisagem Protegida da Fonte Benémola e da Rocha da Pena. Há muito que a Associação Almargem vem alertando para o problema do declínio das populações destes morcegos, no Algarve e também no concelho de Loulé, com a concomitante desclassificação das suas grutas e cavernas de reprodução (ler aqui).
Há cerca de dois anos comecei a verificar a presença de morcegos, em voo alimentar, na área sul da minha habitação na cidade, pressupondo a deslocação destes mamíferos para locais com mais alimento. E há dias, uma das suas crias veio habitar um sapato na varanda durante a noite, vindo mais tarde a entrar e a pendurar-se na base da minha cama. O pequeno animal, que na noite desse dia voou para a sua habitação, pode ser visto aqui.

segunda-feira, julho 06, 2020

Mutts, uma tira de Patrick McDonnell

Não conheço todas as tiras publicadas, mas das que conheço e são muitas, Mutts é a minha preferida, como de muita gente que leio. Aqui são o cão Earl e o gato Mooch os personagens principais, que dirigem os pensamentos e os caminhos de vida daqueles que os acolhem e pensam enquanto donos. As suas narrativas são acutilantes e perentórias, marcadas pela ponderação do cão Earl ou pela irrequietude do gato Mooch. Entre eles, a máscara do self está sempre quase a cair, porque Earl pensa como um gato e Mooch quer ser um cão, apesar de os entender como demasiado obedientes. A marca política e ecológica está bem patente na tira, pela biografia do autor, Patrick McDonnell, um convicto defensor dos animais.
Da obra editada pela «Devir», entre 2003 e 2008, tenho os quatro volumes: Mutts (na imagem); Mutts2, Cães e Gatos; Mutts3, Mais Coijas; e Mutts4, Shim.

Lídia Jorge sobre momento de confronto

No programa Todas as Palavras, magazine literário da RTP3, a escritora Lídia Jorge dá uma excelente entrevista. Apesar do pretexto do seu último livro de crónicas radiofónicas, a autora mostra como compreende sociologicamente o momento que atravessamos. Fala de Musil, e da sua expressão «Todos os dias nasce uma época», para mostrar como a pandemia gerou de facto uma nova época de confronto para as novas gerações, para os que «percebem a mudança e para os que não querem mudar os carris da história». Tempo de confronto entre «revisionistas e revolucionários», campos em que todos nós se devem assumir, para combater a desigualdade brutal na distribuição da riqueza. Uma «revolta de massas» para preservar a Terra (entre aspas expressões da autora).

domingo, julho 05, 2020

Praias desertas de ingleses no Algarve, mas com muitos lusos

A comunicação social - aquela que chega repetidamente às nossas casas, repetindo até à exaustão as mesmas palavras do teleponto - dá-nos a entender a desgraça da economia do turismo no Algarve, com os coitadinhos dos ingleses a ter que decidir entre vir até cá, com a sujeição de duas semanas de quarentena no Reino Unido, ou usar a Transportadora Ibéria até Espanha e viajar de carro alugado até às 'nossas praias'. Este meio é interessante, dado o capital britânico investido na transportadora do país vizinho, sem problemas com o Covid-19. A mim, dá-me gozo voltar a ter as praias quase só para mim, como nas outras estações menos silly, mas acontece que os banhistas nacionais sabem muito bem substituir os britânicos na ocupação desenfreada das areias, como se pode ver na imagem da Praia da Falésia, hoje pelas 11:30 h, nas arribas da Rocha Baixinha Poente-Nascente.

Arquivo Municipal de Loulé abre portas virtuais a investigadores

A iniciativa do Arquivo Municipal de Loulé - de convidar investigadores de várias áreas do conhecimento a escrever pequenos comentários sobre documentos do Arquivo - é não só relevante mas também significativa, num período em que a prática científica ficou coartada no seu acesso a documentação e a trabalho de campo. 
Abrimos a porta do coração do Arquivo Municipal: um dos seus depósitos. Em período de estado de alerta solicitámos a vários investigadores para escolherem e destacarem um documento do depósito do Arquivo Municipal de Loulé.
A minha participação debruçou-se sobre um extrato de ata de uma reunião da Câmara Municipal de Loulé, que apreciou e deliberou a atribuição de um subsídio à Junta de Freguesia de Alte, para a organização da Festa do 1º de Maio de 1964, na aldeia. O texto de 150 palavras pode ser lido no cartaz acima.
Mais contributos de outros investigadores podem ser lidos aqui.